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C de Champanhe
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
08/07/2010 | 07:00
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Divulgação


Tanto no Brasil quanto na França, o ‘C' encarrega-se de encerrar os ABCs com chave de ouro. Aqui, a rica São Caetano ostenta o título de melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Lá, a inebriante Champanhe, situada a apenas uma hora e meia de Paris, esnoba a fama de ser terra de origem do chamado rei dos vinhos, o champanhe, símbolo do requinte e da alegria que marcam as grandes comemorações há mais de dois séculos.

Não à toa, a bebida é carinhosamente apelidada de l'eau da vie, ‘a água da vida' para os franceses. Ao todo, a região produz cerca de 250 milhões de garrafas da bebida por ano, e os mais de 200 quilômetros de túneis subterrâneos se encarregam de armazenar estoques ao mercado futuro: para cada garrafa vendida, as vinícolas costumam estocar outras três.

E nem só de borbulhas alcoólicas alimenta-se a história de Champanhe. Muito antes de o vinho gaseificado atrair as atenções do mundo para a região, o chamado triângulo sagrado da bebida - formado pelas cidades de Epernay, Reims e Châlons-en-Champagne - já cativava a simpatia de personalidades como Catharina de Médici, rainha Vitória, Napoleão Bonaparte, Luís XIV e La Fontaine.

A nobreza tinha tanto apreço pela região que, de 1180 a 1825, todas as cerimônias de coroação dos reis foram realizadas ali, na suntuosa Catedral de Reims, tombada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) como Patrimônio Mundial.

Também foi em Reims que a heroína Joana D'Arc venceu batalhas importantes da Guerra dos 100 Anos frente às tropas francesas, antes de morrer queimada na fogueira da Inquisição, em 1431, aos 19 anos.

Hoje, parte dos documentos sobre a coroação, assim como algumas esculturas e tapeçarias originais, podem ser conferidas no museu da catedral, atualmente situado dentro do grandioso Tau Palace, erguido em 1690.

Outra visita que não deve faltar no roteiro são as caves do Champagne Ruinart. Construídas no século 1 pelos romanos, essas espécies de cavernas subterrâneas, que mais tarde se transformariam em adegas, são as únicas oficialmente reconhecidas como monumentos históricos.

Na Avenue de Champagne, em Epernay, as caves dos casarões de grandes fabricantes também podem ser visitadas, como as da Maison Mercier - que ostenta a fama de ser a marca mais vendida da França e de possuir o maior tonel do mundo - e as da luxuosa mansão Chandon, que já hospedou a nata da corte europeia, desde Catharina de Médici até o rei Luís XIV.

Nada chega, no entanto, aos pés da imponência do Castelo-Forte Sedan, a maior construção fortificada da Europa, com suas altíssimas muralhas de sete andares levantadas no século 11.

NATUREZA - As vastas florestas das Ardennes, cercadas por colinas e inúmeros rios, completam com toque a mais de verde o menu de atrativos da região de Champanhe, que vai da fronteira com a Bélgica à nascente do Rio Sena.

Para os adeptos dos esportes náuticos e de atividades em matas e lagos, os parques naturais da Floresta do Oriente, nas proximidades de Troyes, e da Montanha de Reims brindam os ecoturistas com uma infinidade de opções de aventura.

Viva o acaso!

Como toda boa invenção, o champanhe surgiu meio que por acaso. Devido ao subsolo calcário e ao clima, os vinhos em processo de envelhecimento acabavam sofrendo uma segunda fermentação, caracterizada pelo aparecimento das sedutoras bolhinhas que definem os espumantes. Os produtores faziam de tudo para evitar esse ‘acidente' da natureza, mas nem sempre eram bem-sucedidos. Até que, num belo dia, o monge Dom Pérignon decidiu fazer as pazes com os preceitos naturais da região e criou o champanhe.

Ousado e bem relacionado com a nobreza, ele enviou amostra do que chamou de "melhor vinho do mundo" ao administrador da cidade, e acabou entrando para a história como inventor da bebida.

Embora a natureza seja a principal criadora do champanhe, Dom Pérignon também teve sua parcela de mérito. Entre outros feitos, foram dele as ideias de misturar os três tipos de uva que compõem o espumante (as vermelhas pinot noir e pinot meunier e a branca chardonnay) e de tampar as garrafas com rolhas de cortiça a fim de que o líquido não perca o gás, além de criar a taça flute.

O método champenoise - processo de fermentação dupla que garante a característica borbulhante da champanhe - também é atribuído a ele. No entanto, até chegar às bolhas, há um árduo caminho. Primeiro, a uva deve ser colhida precocemente a fim de manter a alta acidez. Depois, deve-se prensar os cachos inteiros para que o sumo da uva não se misture ao da casca.

Parte-se, então, para a primeira fermentação, que clareia o vinho-base para depois misturá-lo a outros vinhos, num processo conhecido como assemblage. É na segunda fase que se constata o grande diferencial da produção francesa: enquanto em outras partes do mundo a fermentação é induzida por produtos químicos em barris lacrados (método charmat), em Champanhe segue-se a tradição da remuage, processo inventado pela viúva Clicquot que consiste em deixar as garrafas descansarem de cabeça para baixo, por dois a 12 anos, chacoalhando-as diariamente para remover e depositar no gargalo os resíduos de levedura que deixam a bebida turva.

Um remeur (operário que anda pelas adegas girando as garrafas, pacientemente, duas a duas) chega a virar 32 mil por dia, inclinando-as na vertical. Arte que faz do champanhe francês o mais caro do mundo. Tim-tim!




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