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Mulheres e negros ganham mínimo
Por Luciele Velluto
Do Diário do Grande ABC
04/12/2006 | 22:03
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Mulheres, negros, pessoas que não são chefes de família, com baixo grau de escolaridade, que realizam trabalhos domésticos ou em empresas privadas sem carteira assinada. Esse é o perfil geral das pessoas que ganham até um salário mínimo no Brasil, ou seja, R$ 350.

Esses dados são do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) obtidos por meio de informações mensais da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), mas com base nos números coletados ao longo de 2005. Os trabalhadores entrevistados são das regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Distrito Federal.

Apesar do resultado geral, algumas regiões apresentaram particularidades que fogem à regra na conclusão do estudo. O Nordeste é o local que mais apresenta trabalhadores ganhando até um salário mínimo, 16,2%. Porém, o índice é maior quando se refere a quem ganha menos do que o piso fixado pelo governo federal. Na região de Recife são 23,7% do pessoal ocupado, sendo 36,7% chefes de família, e em Salvador 20,9%, dos quais 33,1% são responsáveis pela renda do lar.

Em São Paulo, os números também são preocupantes. Apesar de ser a região que apresenta as maiores remunerações, 4,8% ganham R$ 350. “Mas se agregar quem recebe até um mínimo (12,5%), sobe para mais de 17%. É muita coisa para a região mais desenvolvida do país (com 31% na posição de chefia do lar). E preocupante para um local com alto custo de vida. São Paulo, depois de Recife e Salvador, é a que tem mais pessoas ganhando menos de um salário mínimo”, afirma Frederico Melo, economista técnico do Dieese de Minas Gerais.

Melo acredita que a pesquisa conseguiu deixar claro a discriminação da mulher e do negro, pois em todas as cidades eles são os que recebem menor remuneração. “Salvador, na questão dos negros, é a mais gritante e aparece como uma capital racista”, diz.

Quanto às mulheres, os baixos salários são engrossados pela questão do trabalho doméstico, que conta com 95% de participação da mão de obra feminina. Em São Paulo, cerca de 30% das domésticas, reforçadas pelas diaristas, recebem menos de um salário mínimo. “Ou elas não conseguem local para trabalho ou não têm como conciliar com as tarefas da própria residência”, explica o técnico.

Para Melo, o estudo também aponta para a importância da valorização do salário mínimo no país. “O papel do mínimo é o combate à desigualdade no mercado de trabalho. Atinge os trabalhadores mais desprotegidos da legislação, que não tem um sindicato ou carteira assinada para reivindicar”, afirma. Para o Dieese, o piso no país para um chefe de família deveria ser R$ 1,6 mil.



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