Tanto no primeiro pronunciamento à nação quanto no primeiro discurso pós-eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez questão de agradecer e prestar homenagem a companheiros de vida política e pessoal que o ajudaram a atingir o objetivo máximo. Personalidades que já morreram, como sua mãe, dona Eurídice Ferreira de Mello, e parceiros derrotados na eleição deste ano, como o deputado José Genoino, mereceram referências especiais e emocionadas de Lula em seus pronunciamentos.

"A minha cabeça foi virando um parafuso de lembrar das pessoas que ficaram para trás", relatou Lula, durante seu discurso para aproximadamente 50 mil pessoas concentradas na avenida Paulista, na madrugada desta segunda-feira.

Lula afirmou em todos os pronunciamentos que pensou muito em sua mãe neste domingo. O presidente eleito disse que admira muito dona Eurídice, uma mulher analfabeta que conseguiu criar oito filhos em condições completamente adversas – como a fome no Nordeste e a situação difícil de retirante em São Paulo, sem o amparo do pai, seu Aristides Inácio da Silva. "Lembro da minha mãe, que tinha medo que eu entrasse no sindicato e fosse preso. Quando ela morreu, eu estava preso e ela não sabia", contou.

Dentre os "companheiros que começaram a luta" e já faleceram, Lula citou Sérgio Buarque de Holanda, Mário Pedrosa, Henfil, Betinho, Paulo Freire, Santo Dias, Júlio de Grammont, Chico Mendes, João Amazonas e Carlito Maia. Duas personagens mereceram menção ainda mais destacada: os prefeitos Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, de Campinas, e Celso Daniel, de Santo André. Ambos morreram assassinados por criminosos – Toninho, em setembro de 2001; Celso, em janeiro deste ano.

"Essas pessoas que morreram e não conseguiram chegar aqui com a gente estão olhando lá de cima e rindo, porque nós conseguimos", afirmou Lula. "Esta vitória é a realização do sonho de algumas gerações e permitiu que a esperança derrotasse o medo."

Vencedores também - Vitorioso, Lula reconheceu o esforço de companheiros que não tiveram o mesmo sucesso nas eleições, mas o ajudaram a pavimentar o caminho até o Palácio do Planalto. O discurso na avenida Paulista, na madrugada desta segunda, foi iniciado com o pedido de uma salva de palmas para "todos os companheiros que não conseguiram se eleger, mas que têm a mesma importância daqueles que venceram."

"Nós somos a somatória de todos. Mesmo aqueles que receberam um pouquinho de votos merecem nosso respeito e nossa consideração", disse ainda.

Tanto no pronunciamento feito no saguão do Hotel Intercontinental, na noite de domingo, quanto no discurso da avenida Paulista, na madrugada desta segunda-feira, o deputado José Genoino, derrotado por Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pelo governo paulista, mereceu um afago especial. Lula elogiou a "alegria" do parceiro em toda a campanha e mostrou satisfação com os quase 8,5 milhões de votos recebidos pelo parceiro no 2º turno.

"Você não perdeu. Você saiu altamente vitorioso. Genoino provou que o PT não é mais um partido de 10% de votos. Levou 41% e só engrandeceu o povo de São Paulo. Você é jovem, não tem nem 50 anos, como eu tenho. Você ainda vai dar muita alegria ao povo de São Paulo", afirmou Lula, usando o exemplo de quem "perdeu três vezes e não baixou a cabeça".

Lula agradeceu também à Executiva do PT, que "desta vez se preparou para ganhar as eleições", aos movimentos sindicais e estudantis que o apoiaram, à coligação que o deu suporte desde o 1º turno (Coligação Lula Presidente, formada por PT/PL/ PCdoB/ PMN/PCB), aos partidos que se uniram ao PT no 2º turno (especialmente PPS e PSB) e a todos os quase 53 milhões de eleitores que o escolheram.

"Foi uma jornada muito dura. Eu não chegaria aqui se não fosse a garra, a competência de vocês e a credibilidade que vocês depositaram em mim."