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A quase centenária Billings garante renda e trabalho aos moradores

Pesca e passeios turísticos estão entre atividades desenvolvidas na represa, que hoje completa 97 anos; cerâmica é outra opção

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
27/03/2022 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A Represa Billings completa hoje 97 anos e segue como referência de lazer, beleza natural e trabalho. Muitas das famílias que vivem no entorno deste que é um dos principais mananciais da Região Metropolitana – é fonte de água para milhões de pessoas e impulsiona a geração de energia na usina Henry Borden, em Cubatão – retiram dele o seu sustento. Atividades como pesca, confecção de cerâmica e passeios são realizados nas águas e nos locais próximos, além dos comerciantes que atuam na Prainha do Riacho Grande.

Pescadora profissional há 25 anos, Claudete Feliciano Oliveira, 58 anos, moradora da Chácara Capivari, aprendeu com as irmãs o manejo das redes, e a melhor hora de colocar e retirar da água. Ao menos três vezes por semana, nas proximidades da sua casa, ela vai preparar a rede para pegar traíra, cará, jacundá, carpas e, agora mais raramente, tilápias.

As vendas são feitas em casa, onde ela limpa os peixes e congela à espera dos clientes. Em meses em que consegue pegar mais, ganha cerca de um salário mínimo. “Varia bastante.” Para Claudete, a represa tem uma importância muito grande. “A natureza é muito boa. A gente vai para a água e esquece dos problemas do dia a dia, da casa. Fica ouvindo os passarinhos. É muito bom.”

Outra atividade que gera renda para várias pessoas na região são os passeios turísticos. Na Prainha do Riacho é possível fazer passeios de motos aquáticas e lanchas. Quem preferir fugir dos lugares mais movimentados e quiser conhecer pontos mais afastados e onde a água é bem mais limpa, pode optar pelo Billings Tour, projeto que nasceu em 2014 como alternativa ao período de defeso, quando os pescadores não podem realizar a pesca, entre novembro e fevereiro.

Durante uma hora, os passageiros de um dos barcos ou da lancha que pertencem à Colônia de Pescadores Z-17-Orlando Feliciano podem navegar pelas áreas da Represa Billings que estão mais preservadas, como os braços Capivari ou Rio Pequeno, visitar as ilhas da região e os dois fornos de carvão, da década de 1920, que existem no bairro Rio Grande. 

“No nosso passeio o monitor fala sobre a história da represa e também dos pescadores ribeirinhos. E quem vem, volta, e fala a outras pessoas”, explicou a presidente da colônia, Vanderlea Rochumback, 54 anos, Os passeios custam a partir de R$ 70 por pessoa e podem ser agendados pelos telefones 97332-5410, 97440-8216 ou 4396-0540.

Fora da água existe, desde 2016, a Rede Balsear, que nasceu também para geração de renda no período de defeso. Trata-se da produção de cerâmica com inspiração nas folhas da Mata Atlântica. A iniciativa funciona junto à sede da Colônia dos Pescadores (Estrada do Rio Acima, 5.930, Riacho Grande).

O grupo já reuniu cerca de 15 pessoas e hoje conta com três mulheres, além de oito que estão fazendo o curso de quatro aulas gratuitas e podem decidir se continuam com a formação e integram o projeto. Uma das fundadoras da iniciativa, a aposentada Ana Lucia de Carvalho, 69, lembra que é preciso preservar a mata do entorno da represa, onde existem diversas nascentes. “A preservação da mata mantém os animais e a própria represa vivos.” 

Região não tem dados atuais de ocupação em áreas de manancial

Conter a ocupação em áreas de mananciais e o despejo de esgoto in natura na Represa Billings é apontado por todos os especialistas como medida primordial na preservação do reservatório, que abastece 1,4 milhão de pessoas com a água que é captada no braço Rio Grande. Criado em 1925 para produção de energia, o manancial é um dos principais da Região Metropolitana. No entanto, o levantamento regional mais recente sobre a ocupação no entorno da Billings, realizado pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e pela UFABC (Universidade Federal do ABC), é de 2016 e apontava a existência de 252 assentamentos em áreas de manancial.

Santo André tem levantamento mais recente, de 2017, que mostra 1.777 famílias nessa situação. Em 2006, o número era de 1.424, aumento de 25%. Na cidade, as ações para conter ocupações irregulares em área de manancial são executadas pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental), que também é responsável pelo licenciamento ambiental nessas áreas. 

São Bernardo afirma que realiza, desde 2017, ações articuladas e complementares para impedir a ocupação irregular nas áreas de mananciais bem como oferecer soluções habitacionais à população. O Paço não apresentou, no entanto, números da ocupação.

Diadema informou que o trabalho para evitar construções às margens da Represa Billings envolve diversas secretarias e que no começo da atual gestão foi instituída a Ceico (Comissão Especial Intersecretarial de Controle de Ocupações), formada por integrantes das secretarias de Habitação, Meio Ambiente, Segurança Cidadã e Obras. O objetivo é desenvolver políticas públicas de contenção e prevenção de ocupações. Também há cursos de formação de guardas-civis ambientais, para fiscalizar e dialogar com a população acerca dos riscos de ocupação desses terrenos. Outra medida é o caráter educacional desenvolvido pela comissão, para conscientização dos problemas de ocupar áreas de manancial. A cidade também planeja um parque linear às margens da represa, na região do Eldorado.

Ribeirão Pires informou que realiza a fiscalização e controle dos usos e ocupação do solo da Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Bacia da Billings em conjunto com a GCM (Guarda Civil Municipal). A cidade não tem dados das ocupações e alegou que cabe ao Estado, desde 2009, quando foi aprovada a Lei Específica da Billings, criar o grupo de fiscalização integrada, bem como o sistema gerencial de informação. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que é responsabilidade das prefeituras fazer o levantamento sobre as ocupações. 




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