Economia Titulo Por causa da pandemia
Cervejarias artesanais amargam queda nas vendas e na produção

Fechamento de bares e restaurantes impacta nas fábricas, já que são os principais compradores; como resultado, faturamento caiu até 100%

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
31/05/2020 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Com a quarentena e o isolamento físico recomendados para evitar o contágio pelo novo coronavírus, a venda de bebidas alcoólicas teve alta nos supermercados. Porém, mesmo assim, as fabricantes de cerveja artesanal e pequenos produtores do Grande ABC tiveram queda expressiva no faturamento, que pode variar entre 60% e 100%, dependendo do tamanho do negócio. Isso por causa do fechamento de bares e restaurantes, que representam os principais clientes dos fabricantes.

Em uma rede de supermercado da região, as vendas de vinhos e destilados subiram entre 20% e 25% desde o início da quarentena, no dia 24 de março, mas o aumento de cervejas foi menor: ficou em 9%. “No nosso caso, a demanda acabou caindo. O consumidor que vai até o mercado consegue ter acesso a uma infinidade de produtos para beber. A demanda mudou porque a condição financeira das pessoas ficou mais baixa (com o desemprego e acordos de redução de salários). Muitas vezes, ele prefere deixar de comprar uma cerveja nossa para comprar cinco latas de outra com menor valor. São muitas variáveis neste momento”, afirmou o gerente de marketing da Cervejaria Madalena, localizada em Santo André, Renan Leonessa. Segundo ele, os bares e restaurantes representam cerca de 80% do total de clientes. Além disso, a empresa trabalha com quiosques em eventos, que estão impedidos de acontecer para evitar a aglomeração de pessoas. No início da pandemia, a queda de faturamento chegou a ficar entre 60% e 70%.

"Nós trabalhamos de acordo com a demanda do mercado, então estamos aproveitando este momento para testar novidades, além de investir em produtos com preços mais atrativos”, disse Leonessa. A cervejaria conseguiu mudar bastante o quadro inicial, concentrando os esforços em iniciativas como o drive-thru de bebidas em diversos pontos da região e o sistema de entregas por aplicativos (leia mais abaixo). Com o respiro, atualmente a produção mensal – em torno de 100 mil litros – opera com queda de 30% e o faturamento, com redução de 50% (pelo menos 10% a menos do que no início da quarentena). Os 40 funcionários diretos também foram mantidos, com readequação nos salários e nas jornadas.

No caso da cervejaria e destilaria Braumeister Brasil, também localizada em Santo André e que trabalha somente com rótulos para bares e eventos, a situação é mais complicada. De acordo com o proprietário, Valter Menezes, o faturamento chegou a cair 100% e, até o momento, a produção, que girava em torno dos 15 mil litros por mês, está parada. “Os contratos foram todos suspensos. A cervejaria está parada. Na destilaria, estávamos lançando uma marca nova de gim. O pessoal que consegue vender em supermercado até está indo bem, mas para fazer isso é necessário investimento pesado em marketing.”

Por causa da situação, ele afastou um funcionário que ajudava na produção e pretende apostar no delivery com a reativação de uma cozinha que está parada no espaço, já que ele é formado em gastronomia. Mesmo assim, avalia que ‘a situação é muito preocupante”. “O consumidor vai tentar readequar os gastos porque o momento é de incertezas”, apontou.

Dono do Empório Cerveja Artesanal, Ronaldo Alves Ferreira afirmou que a queda foi de 30% nas vendas. Segundo ele, até mesmo os clientes fiéis diminuíram as compras. “Quando se pode estar com os amigos, o pessoal compra mais bebida. Agora que muitos estão em casa, sozinhos ou com poucas pessoas da famílias, compram em menor quantidade. E cerveja, sem conversa, não é cerveja”, disse.

Drive-thru e delivery são as apostas das empresas para o período
Mesmo com as restrições, as marcas de cervejas artesanais apostaram em alternativas inteligentes para o período de pandemia. No caso da Madalena, a marca jogou suas fichas em 11 pontos de drive-thru espalhados entre a região e a Grande São Paulo.

Nos pontos, incluindo um dentro da fábrica da marca em Santo André, o consumidor consegue ter a opção de retirar chopp ou cerveja sem descer dos veículos. “Nós vamos continuar investindo nisso, porque virou nova aba de negócios. Então, mesmo com o retorno da normalidade, vamos adotar. O público se adaptou muito bem e viu nisso uma facilidade. Nas primeiras semanas, até virou forma indireta de passeio, onde a pessoa escuta um som e se distrai na fila do drive-thru”, disse o gerente de marketing da cervejaria, Renan Leonessa.

Como a empresa já trabalhava com eventos, utilizou a estrutura para fazer os pontos de entrega pelas cidades, Além disso, passou a apostar em entregas por aplicativos. “Aprimoramos os sistemas internos e redirecionamos o departamento de marketing todo para estas áreas. Investimos na parte de drive thru, deixando um espaço bem legal aqui na fábrica”, afirmou Leonessa.

A entrega também é a alternativa que será adotada pela Braumeister Brasil. Como a produção era totalmente voltada para bares e eventos, a fábrica voltará a produzir quatro rótulos, e a ideia é que as bebidas sejam vendidas com lanches e porções.

“A cozinha estava desativada, então agora a ideia é investir nas entregas não só de bebidas, mas com porções e lanches. A ideia é que isso agregue um pouco no valor e com isso a gente consiga pagar o básico”, disse o proprietário Valter Menezes.

Para fazer isso, ele vai apostar na plataforma própria, sem entrar em aplicativos já conhecidos, mas admite que o novo passo não será nada fácil. “É um mercado que está saturando cada vez mais. Com a quarentena abriram muitos deliverys, por causa da maior demanda. Na verdade, esse sistema é uma tentativa para conseguirmos vender as nossas próprias bebidas.”




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