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Pandemia dificulta plano Saudita de atrair estrangeiros
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17/05/2020 | 07:07
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Divulgação


No fim de 2019, a Arábia Saudita anunciou uma nova política de vistos de turismo para 49 países para fortalecer o setor e reduzir a dependência do petróleo. Mas, com a pandemia de coronavírus, a medida perdeu a eficácia e a meta de alcançar 100 milhões de visitantes em 2030 ficou mais distante. Até agora, o país tem quase 50 mil casos confirmados e 292 mortos pela covid-19.

O orçamento saudita também encolheu, com a queda dos preços do petróleo, o que fez o governo triplicar esta semana o imposto sobre consumo. As receitas com o turismo, principalmente durante o Ramadã, que termina no dia 23, diminuíram em razão da crise sanitária, de fronteiras fechadas, viagens canceladas e companhias aéreas paralisadas.

Segundo o World Travel and Tourism Council, o Oriente Médio deve perder 2,6 milhões de empregos e US$ 96,2 bilhões no setor de turismo em 2020. "Acreditamos que, neste ano, teremos um impacto de 35% a 45% de queda (no turismo) em comparação com o ano passado", afirmou o ministro do Turismo saudita, Ahmed al-Khateeb.

No caso da Arábia Saudita, além de hotéis vazios e voos cancelados, o maior impacto se dá pela redução do turismo religioso. O país recebe em média 15 milhões de visitantes estrangeiros por ano, a maior parte deles muçulmanos em peregrinação. Como a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é manter o isolamento social para conter a covid-19, os eventos muçulmanos que ocorrem com aglomerações de fiéis estão passando por adaptações ou sendo cancelados.

"Um grande porcentual do turismo na Arábia Saudita é religioso. Cerca de 3 milhões de pessoas vão especificamente para o hajj (peregrinação anual a Meca), que neste ano é em junho, e provavelmente será cancelado por ser um evento em que as pessoas ficam muito juntas. No Ramadã muita gente visita os lugares sagrados do Islã", disse Salem Nasser, professor de direito internacional da FGV-SP.

Neste ano, no lugar da habitual multidão, o que se vê nas imagens é um vazio perto da Caaba da Grande Mesquita de Meca, estrutura cúbica envolvida em um tecido preto bordado em ouro, para onde rezam os muçulmanos do mundo inteiro.

Bilhões de dólares vinham sendo injetados no reino como parte do plano do príncipe Mohamed bin Salman de atrair turistas. Parcerias com hotéis e projetos de desenvolvimento de determinadas regiões como Al-Ula, conhecida como a "Petra da Arábia Saudita" pelas atrações arqueológicas, deveriam expandir empregos e a quantidade de visitantes.

Segundo o governo, a estratégia estava funcionando. Nos primeiros nove meses de 2019, a ocupação dos hotéis foi 11,8% maior do que no mesmo período do ano anterior. Mas analistas afirmam que apenas investir no turismo pode não ser o suficiente para diversificar a economia.

"A dependência do petróleo só pode diminuir em função de um programa de investimentos no estilo dos fundos estatais noruegueses ou dos principados do Golfo. A extração é tão barata que é difícil encontrar uma alternativa para competir", disse o professor de relações internacionais e especialista em Oriente Médio Samuel Feldberg.

Além disso, existe uma ressalva maior na hora de atrair turistas estrangeiros: a imagem do governo saudita. "O novo príncipe propõe mudanças radicais na sociedade, mas o que ele propõe se confronta com o assassinato de Khashoggi, por exemplo", explica Feldberg, se referindo à morte do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi no consulado em Istambul, em 2018. Até hoje, o papel de Bin Salman no caso continua sem resposta.

Neste ano, o governo saudita tomou duas decisões para tentar conter as críticas de organizações internacionais: aboliu a pena de morte para menores de idade - que passam a cumprir pena de prisão por no máximo 10 anos - e o açoitamento como forma de punição para crimes. No entanto, desde junho de 2017, quando Bin Salman foi nomeado pelo pai, o rei Salman bin Abdulaziz, como herdeiro do trono, as denúncias de violações de direitos humanos no país aumentaram.

"A Arábia Saudita desempenha um papel como aliado, instrumento dos EUA na região, e isso ajuda a manter a família (saudita) no poder. Uma parte desse discurso de modernização caminha com o processo de normalização de relações com Israel. Por isso, é preciso vender bem a Arábia Saudita para legitimar o poder da família", afirma Nasser.




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