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Moradores temem nova enchente

Munícipes de São Bernardo e São Caetano cobram medidas efetivas das administrações

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
10/03/2020 | 00:01
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A noite de 10 de março e a manhã de 11 de março de 2019 não vão sair tão cedo da memória de muitos moradores do Grande ABC. Em uma das piores enchentes que a região já enfrentou, a chuva alagou casas, destruiu móveis e automóveis, provocou deslizamentos, causou dez mortes – duas em Santo André, uma em São Bernardo, três em São Caetano e quatro em Ribeirão Pires – e deixou milhões em prejuízos. Um ano depois, a população teme que novo episódio como o do ano passado se repita e cobra das autoridades medidas mais efetivas para evitar novas tragédias.

No bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, que ficou 48 horas com ruas alagadas, os moradores acusam a Prefeitura de estar fazendo pouco. Para a dona de casa Zilda Maria Arnaldes, 62 anos, as calçadas com mato denunciam a omissão do poder público. “É só você olhar. Tem lugar que a gente tem de andar na rua”, lamenta. Moradora da Rua Doutor Gabriel Nicolau, a munícipe lembrou que até a enchente do ano passado, há pelo menos dez anos não enfrentava um alagamento tão sério. “Perdi tudo o que estava na parte de baixo do meu sobrado. A minha filha que mora nos fundos também ficou sem nada. Mas, se chover daquele jeito, vai acontecer tudo de novo.”

Na mesma via, a dona de casa Maria Rodrigues da Silva, 65, já pensa em se desfazer do imóvel de dois quartos onde vive apenas com o cachorro Bethoven. Foi ele quem fez companhia para ela durante toda a noite em que passou sentada na divisória entre a copa e cozinha, quando a água subiu quase dois metros dentro de sua casa. “Perdi quase tudo. O guarda-roupas ainda está aqui, mas tudo o que tem dentro foi ganhado de doação”, afirma.

Vera Alice Barbosa, 58, atendente de telemarketing, moradora da Rua Abraão Saloti, critica a falta de zeladoria urbana. “A gente não vê ninguém limpando boca de lobo. Sempre que chove, um morador vai checar as bombas (do piscinão), porque a Prefeitura mesmo não manda ninguém. Estão recapeando as ruas sem necessidade e ainda nos deixando sem rotatórias”, reclama.

No bairro Fundação, em São Caetano, a proximidade com o Rio Tamanduateí faz com que os moradores estejam sempre em alerta. O autônomo Carlos Mitsuro, 53, perdeu todos os móveis da parte de baixo da sua casa, na Rua Major Aderbal de Oliveira, mesmo tendo aumentado a comporta e colocado uma fileira de blocos de vidro na janela da sala. “Sempre que chove um de nós corre até o rio para ficar de olho no nível”, relata. Os moradores se organizaram em uma associação, a Fundação Viva, para poder lutar pelos seus direitos após a inundação do ano passado.

A Prefeitura concedeu alguns benefícios para quem foi atingido pela chuva, mas o auxílio financeiro de R$ 3.000, dividido em seis vezes, foi restrito para famílias com renda per capita de até R$ 954 (o salário mínimo da época). “A gente recebeu, mas muitos vizinhos não. E não importa o quanto a família ganha, ninguém esperava perder tudo”, reclama a vendedora Devanil Merenda, 60, da Rua Paolo Martorelli. Morador da Rua Araraquara, o assistente comercial Valter Silva, 49, foi um dos que não tiveram acesso ao auxílio. “Tive ajuda de familiares e amigos. O capital social superou a administração”, afirma. Presidente da associação, Rogério Bregaida, 32, critica a falta de medidas efetivas. “Um ano depois, não temos um sistema de alarme, não temos um monitoramento real.”

A associação planeja série de ações para hoje, com objetivo de relembrar todas as perdas e cobrar medidas da Prefeitura de São Caetano.

Prefeituras afirmam que agem preventivamente

As prefeituras das cidades que foram mais atingidas na enchente de março de 2019 afirmam que têm agido preventivamente. Em Santo André, onde duas pessoas morreram, a administração cita a ampliação do piscinão de Santa Teresinha, que desde dezembro tem capacidade 25% maior, além do projeto de novo reservatório na Vila América.

A Prefeitura de São Bernardo, cidade que teve uma morte, afirma que a entrega do Piscinão do Paço visa acabar com as enchentes do Centro e que executa pacote de intervenções que somam R$ 60 milhões com melhorias de encostas e muros de arrimo. Também contratou empresa responsável pela revisão preventiva das bombas dos piscinões.

São Caetano destaca as intervenções do programa ReFundação, que contempla ações como construção de dois piscinões e alteamento da Avenida dos Estados – em alguns pontos o desnível entre as cidades de São Caetano e São Paulo chega a dois metros, alega a administração. Também serão construídos dois piscinões. A administração não respondeu à crítica da Fundação Viva sobre a ausência de um alarme.

Em Ribeirão Pires, onde quatro pessoas morreram após desmoronamento de um imóvel em área de risco que já havia sido desocupada, a Prefeitura informa que interditou imóveis, removeu famílias que foram incluídas no programa de auxílio-moradia, além de notificar o proprietário da área, que é particular, para realização de obras de contenção. A administração formou comissão com os moradores para manter diálogo aberto sobre demandas e ações em andamento.  




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