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Vida de aparências para driblar a crise
Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
10/05/2010 | 07:02
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João Caldas


Perto de completar bodas de prata, Lisa e Menezes enfrentam crise no casamento. Mas os problemas perdem importância desde que não virem comentário no círculo social. Do contrário, passam a ser o fim do mundo.

Uma vida de aparências, guiada pela cegueira econômica, é o mote da peça A Dança Final, que tem exibição única e gratuita hoje, às 19h, no Teatro Municipal de Mauá.

Protagonizada por Denise Weinberg e Norival Rizzo, a montagem coloca homem e mulher diante de situações patéticas enquanto se apropria com bastante humor de temas variados, como desejo, envelhecimento e derrota. A direção é de Noemi Marinho.

Já na primeira cena, o conflito central se impõe. É causado pela impotência sexual do marido. Diante da frustração, ele ameaça cancelar a festa que comemora os 25 anos de união com Lisa, cuidadosamente preparada por ela.

Tal decisão pode ser motivo de falatório na piscina do condomínio de luxo. Seria suportável? "Somente nas bodas de prata, ele percebe que nunca deu prazer a ela. Isso é muito sério e não acontece apenas no teatro", afirma Denise.

Enquanto Menezes busca culpados para a impotência e deseja acabar logo com tudo, Lisa luta para manter o casamento, apesar de todas as diferenças. Ela acredita que não tem do que reclamar, afinal os dois vivem em um ótimo apartamento e têm filhos encaminhados.

Dessa forma, a impotência retratada na montagem é simbólica. Ilustra também a hipocrisia das relações, não restrita à classe média. "A peça se refere a uma impotência muito maior: política, econômica e afetiva no mundo. Plínio Marcos (1935-1999), como um grande autor, já previa essa solidão", acredita a atriz.

Mesmo abordando assuntos delicados, a obra do santista se trata de comédia. "A peça é muito engraçada. Garante boas risadas. Mas o desfecho tem uma reviravolta, que traz uma grande reflexão ao público", adianta Denise.

MONTAGEM
Montar o texto foi ideia da própria Denise, que trabalhou na Escola Livre de Teatro, em Santo André, por quatro anos. Em 2007, a atriz foi à casa de Paulo Autran para buscar a biblioteca doada à ELT, por ocasião da morte do ator.

Enquanto pegava os livros, a obra de Plínio Marcos caiu em seu colo. "Lembrei que já havia lido o texto e que logo precisaria montá-lo", conta.

ENTRE AMIGOS
O espetáculo marca o reencontro de três grandes amigos de profissão e vida. Em 2006, Denise atuou com Rizzo na peça Oração para um Pé-de-chinelo, que rendeu aos dois o Prêmio Shell de melhor atriz e melhor ator.

Com Noemi, Denise trabalhou em As Raposas do Café (1991), quando faziam parte do Grupo Tapa. Já Noemi e Rizzo estudaram juntos na USP (Universidade de São Paulo) e dividiram palco pela primeira vez há cerca de 30 anos.

A dupla que sobe ao palco hoje está bem entrosada. "É um grande trunfo da peça. Como a gente se conhece bem, há um jogo cênino afinado", conta a atriz.

A Dança Final - Teatro. Hoje, às 19h. No Teatro Municipal de Mauá - Rua Gabriel Marques, 353. Tel.: 4555-0086. Entrada franca.




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