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Quattor está perto de concluir expansão
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
03/08/2009 | 07:03
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Com atraso, a ampliação da central petroquímica do grupo Quattor, no Grande ABC, que demanda investimento de R$ 2,3 bilhões, deve ser concluída até o fim deste ano. Já está tudo praticamente pronto e em fase de testes. Foi o que destacou, em entrevista exclusiva ao Diário, Francisco Weffort, o novo vice-presidente da unidade de negócios Químicos Básicos da companhia, que assumiu o cargo há cerca de um mês.

O projeto de aumento da capacidade de fabricação de eteno (o principal item petroquímico básico e que é matéria-prima para a fabricação de resinas termoplásticas, destinadas à produção de embalagens e peças de plástico), de 500 mil para 700 mil toneladas anuais, já deveria ter entrado em operação, em outubro do ano passado. A ideia era aproveitar a parada programada de manutenção, iniciada em agosto daquele ano, para fazer também a expansão.

O fato é que outras unidades da companhias na região, que fabricam as resinas polietileno e polipropileno, já receberam investimentos para incrementar a produção e estão em condições de receber o insumo adicional. Com isso, deverão abastecer o mercado interno, que é a prioridade do grupo, assinalou o executivo. Ele conhece bem o segmento. Apesar de novo na empresa, Weffort tem 26 anos de trajetória no setor, em cliente da Quattor, a Rhodia.

DIÁRIO - Gostaria que o sr. falasse um pouco de sua trajetória profissional na área química e petroquímica?
FRANCISCO WEFFORT - Sempre trabalhei em indústria química. Sou engenheiro mecânico, comecei na Rhodia na engenharia de projetos, fui evoluindo; fiquei responsável pela área de produção, depois fui para a área de negócios em Plástico de Engenharia. Nessa fase, terminei uma especialização em negócios, finanças e marketing, depois assumiu a Química Mineral; na sequência voltei para a Poliamida, fui vice-presidente da Rhodia Technical Fibers, que tem fábrica em Santo André. Depois de 26 anos acumulando experiência em áreas diversas, deixei a Rhodia no mês passado e entrei no projeto Quattor.

DIÁRIO - Como é esse novo desafio na Quattor, uma empresa que também é nova (criada em 2008, apartir daintegração de diversas fábricas, em parceria do grupo Unipar com a Petrobras)?
WEFFORT - A Quattor é uma empresa que eu conheço há muito tempo, embora não com esse nome. A empresa (a divisão Química, da companhia) sempre foi a principal fornecedora de cumeno (produto químico que é matéria-prima para a produção de acetona, CDs e outros itens) para a Rhodia. Por isso, foi simples entender o projeto Quattor, de consolidação e verticalização dessa cadeia produtiva.

DIÁRIO - Gostaria que o sr. falasse sobre a ampliação da companhia no Grande ABC (elevará de 500 mil para 700 mil toneladas anuais de eteno, que é principal produto petroquímico básico), que era para ser concluída no ano passado. O que aconteceu, que a inauguração não saiu?
WEFFORT - Já lançamos várias etapas. A gente vai fazendo reformas e na medida em que as partes vão sendo liberadas, elas vão entrando em operação. A reforma está quase toda terminada, e falta lançar o que a gente chama de UPGR (Unidade de Processamento do Gás de Refinarias), que vai permitir que a gente insira o gás de refinaria no nosso cracker (central petroquímica). Temos uma UTGR (Unidade de Transformação do Gás de Refinaria) na refinaria do Vale do Paraíba (da Petrobras, em São José dos Campos) e um gasoduto que faz o transporte do gás até o UPGR. A primeira faz o bombeamento do gás para o linhão, de 94 km (de São José dos Campos até o Grande ABC), para a UPGR, que permite que o gás de refinaria entre no nosso cracker e seja processado.

DIÁRIO - Que parte atrasou nesse projeto?
WEFFORT - Eu cheguei há um mês e não consigo dizer no cronograma o que atrasou. Eu só consigo afirmar que o que falta lançar é o UPGR. Do passado, eu não conheço, não consigo falar a respeito. Mas, nada é muito rápido na indústria petroquímica.

DIÁRIO - Mas o linhão (o gasoduto) está pronto?
WEFFORT - Está em fase de comissionamento, que são os testes de segurança, os testes pré-operação. Isso leva um mês ou mais.

DIÁRIO - E deve entrar em operação quando?
WEFFORT - Não tem uma data para confirmar ainda. Quando estiver para entrar em operação, a gente deve anunciar para a imprensa.

DIÁRIO - Será ainda este ano?
WEFFORT - Provavelmente.

DIÁRIO - E isso vai exigir uma nova parada da fábrica para dar largada à ampliação?
WEFFORT - Não, um cracker é muito difícil de parar e lançar. Para a cada seis anos. Parou no ano passado. Investe-se muito tempo e dinheiro e é um evento em que há 6.000 a 8.000 pessoas trabalhando nas obras de manutenção.

DIÁRIO - Essa ampliação chega em um momento em que o mercado ainda sente a crise mundial...
WEFFORT - O objetivo da nossa ampliação - nós já ampliamos as plantas de (resinas termoplásticas) polietileno e de polipropileno - é gerar eteno e propeno para alimentar a segunda geração (a fabricação de resinas), que já está ampliada e operacional, aguardando a carga adicional de eteno e propeno, que vem com a ampliação. Portanto já temos cliente interno demandador.

DIÁRIO - Ainda em relação à crise financeira global, de que forma isso impacta nos negócios da empresa?
WEFFORT - Como todas as empresas, a Quattor, no primeiro trimestre, sentiu e se preocupou com o futuro, em dar uma olhada nos planos de trabalho. Mas, vemos sinais de melhora, principalmente no mercado interno. Os clientes têm reagido e revisado seus planos. E a cada mês, cada semana, sentamos para discutir com os clientes, com os fornecedores, para traçar como as coisas vão se passar nos próximos três meses, nas próximas três semanas, ou na próxima semana. A visibilidade continua curta. A gente ainda não consegue enxergar no longo prazo. Mas, com certeza, aquela fase mais aguda do primeiro trimestre não está mais tão presente. A gente continua com otimismo responsável, avançando de forma cuidadosa nas nossas ações.

DIÁRIO - Há planos de novas ampliações para a central petroquímica de Santo André?
WEFFORT - Nós ainda não terminamos de absorver esse último investimento. Estamos quase com ele concluído, mas o nosso principal objetivo no curto prazo é saturar essa unidade com a ampliação de sua capacidade. Não estamos falando em novos investimentos. Seria até irresponsável falar nisso à luz do cenário internacional, dos riscos para o investidor e da capacidade adicional que nós estamos colocando.

DIÁRIO - O investimento atual passou por revisão de valores?
WEFFORT - Não posso comentar porque não conheço os dados históricos.

DIÁRIO - Mas o valor atual, qual é mesmo?
WEFFORT - Para 2005 a 2009, são R$ 2,3 bilhões, isso inclui toda a ampliação do cracker e o desgargalamento (retirada de gargalos de infraestrutura para o aumento do processo fabril).

DIÁRIO - Com a descoberta do petróleo do pré-sal e a integração e consolidação do setor petroquímico nacional, como a realizada pela Quattor, há a expectativa de que o segmento ganhe em importância no mundo. Gostaria que o sr. comentasse a respeito...
WEFFORT - A integração vertical da Quattor é fundamental para a competitividade do grupo. O motivo principal da fusão de empresas foi garantir essa integração vertical, que traz uma competitividade para a Quattor em nível internacional. Era esse o objetivo, a Quattor se tornar competitiva, com aumento de escalas. São 2 milhões de toneladas de plásticos e 2,7 milhões de toneladas de petroquímicos. São números invejáveis. É muito diferente você ser integrado, e ser um grupo de empresas independentes, cada uma com um objetivo, nem sempre coerente. Estando agrupadas sob o mesmo guarda-chuva, você consegue alinhar objetivos e transformar essa energia das empresas em energia para resultados. Com certeza, é um passo muito positivo.

DIÁRIO - Para finalizar, como está a relação com o mercado internacional?
WEFFORT - O primeiro objetivo da Quattor é atender nossos clientes internos, as unidades Polietileno e Polipropileno. O segundo objetivo é atender os clientes nacionais, poderia citar Rhodia, Solvay, Oxiteno, Companhia Brasileira de Estireno, Dupont, clientes que são nossos parceiros, em operações de longo prazo. Considerando nossas unidades de negócios, mais os parceiros, isso já dá um bom desafio para a Quattor. Os nossos excedentes são exportáveis. Acreditamos ser competitivos também. Exportamos todos os meses, mas o foco principal da Químicos Básicos é a produção de eteno mais o grupo de clientes focados no mercado interno. Essa é uma indústria em que a distância é inimiga da performance. Quanto mais longe você vai, menos competitivo você fica. E aí está a nossa vantagem, estamos instalados exatamente nos maiores centros de consumo, São Paulo e Rio de Janeiro. É uma vantagem comparativa nossa. A prioridade da Químicos Básicos é essa.




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