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O importante é ser chique

Há muito chique nas vitrines do século 21. Há, na verdade, por toda parte...

Rodolfo de Souza
08/03/2015 | 07:00
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Há muito chique nas vitrines do século 21. Há, na verdade, por toda parte: nos carros, nos shoppings, até nos sofisticados aparelhos celulares. É um luxo só! Óculos de sol, aliás, é equipamento que, além de deixar chique, é indispensável na hora de se vislumbrar tanta riqueza. Tornou-se mesmo hábito perseguir o chique para brilhar feito estrela na passarela da vida. Virou moda, como tudo aqui nesta nação da moda.

Nada mais chique, inclusive, do que ser chique! Nada mais vitrine, aliás, que televisão e internet, nestes tempos modernos em que aparecer é imprescindível. Vive-se no mundo da imagem, afinal! É preciso aproveitar! E, se necessário for, apela-se para o colorido intenso ou berrante, para o estampado extravagante, para o brilho que cega... A telinha diária dá até o exemplo de pessoas que apelam para o barraco ou para o sexo forjado, intenção única de aparecer. Tudo é válido: o cabelo cheio de estilo, o tênis colorido, a tatuagem exagerada... O que não se concebe mesmo é uma existência fosca ou desbotada, distante de tanta luz. Isso não!

Os astros da TV são lindos, como devem ser os astros que resplandecem vigor e juventude todo o tempo. Representando, dançando ou cantando, os largos sorrisos perfeitos, promovem a inveja por atacado e conduzem para muito longe a imaginação distraída. Assim, torna-se o ser humano que não pode sentir-se realizado sem um estrelatozinho qualquer, nem que seja lá no bairro, requebrando os quartos na laje, na várzea ou no sonho.

E se o assunto é várzea, no futebol o torcedor também padece dos mesmos devaneios oriundos das telas, embora as mulheres estejam mais propensas a esses embalos, sempre mais suscetíveis a eles.

O rico esbanja luxo porque o fator financeiro, determinante na aquisição de tudo que brilha, é mercadoria que não lhe falta na prateleira. Por isso, as mulheres do meio não sentem doer o coração ao desembolsar pequenas fortunas para a compra de objeto que não vale a metade do preço pedido. Paga-se mesmo pelo nome de quem criou a peça, normalmente criaturas que descem do Olimpo só para desenhar com exclusividade isto ou aquilo. Paga-se também pelo endereço da loja e paga-se ainda mais pelo nome que ostenta.

A mulher pobre, em contrapartida, delicia-se com tudo isso, folheando revistas de badalação. E sonha, e se enfeita, e procura ficar chique, comprando nas lojas de ofertas. Um luxo que os parcos haveres pagam em três vezes.

Mas não importa. O que vale é estar bonita, ter uma casinha ajeitada e se embeber da chiquesa que está ao seu alcance, e com aquela que só existe na sua imaginação que revista e TV fomentam, e que ninguém pode impedi-la de possuir.

Nem a prole escapa ilesa nesta corrida para ficar importante. Registrar, pois, a molecada com nomes esquisitos está entre os costumes mais apreciados. Intuito único de lhe proporcionar mais charme e pompa, claro. Só que, para inventá-los, não poupam esforços nem consoantes, sobretudo, aquelas que por muito tempo foram exclusividade de gringo. Inventam, também, de realçá-los com letras duplas e ‘H’ nos lugares mais impróprios. Tudo para deixar mais garboso e bonito o nome do pimpolho que, coitado, lá na frente não se sentirá assim tão à vontade quando tiver que soletrá-lo por não se fazer entender.

Mas que é chique, isso é?

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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