Uma área em expansão, na ecologia, é a chamada ecologia do movimento dos animais. Pesquisas nessa área têm contribuído - e muito - para a compreensão de fenômenos como controle de doenças e epidemias, e técnicas cada vez mais sofisticadas vêm sendo empregadas no seu desenvolvimento. No Brasil, estudos que unem métodos comuns de rastreamento e técnicas computacionais baseadas na teoria dos fractais vêm trazendo contribuições para conhecimento mais aprofundado dos padrões de deslocamento de animais.

Determinar os movimentos de um animal, em seu habitat, sem interferir em seu comportamento habitual e sem perturbá-lo, é desafio ao pesquisador, que precisa recorrer a novas metodologias de campo e de modelagem matemática.

A técnica de rastreamento mais difundida é a de radiorrastreamento (conhecida como radiotracking), na qual pequenos radiotransmissores são fixados nos animais. Há também outros métodos que não exigem rastreamento em tempo real, como o carretel de rastreamento. Nesse método, um carretel sem a bobina interna é colado no dorso dos animais. Uma ponta da linha é presa a um ponto inicial e o restante dela é liberado à medida que o animal se desloca, marcando todo o seu percurso pelo ambiente.

Em animais de grande porte, é possível fixar um aparelho de localização por satélites - sistema de posicionamento global, ou apenas GPS, na sigla em inglês -, que permite mapear continuamente o movimento do indivíduo, à distância, sem que o pesquisador precise ir a campo.

AJUDA DA MATEMÁTICA - A determinação do deslocamento do animal, porém, traz outra questão: como representar esse movimento em um modelo matemático capaz de analisá-lo de forma consistente com a ajuda de um computador, para que os resultados sirvam para outros estudos? Sabendo que o animal não se move em padrões geométricos perfeitos, o modelo desenvolvido para representar seus movimentos precisa ser complexo o suficiente para revelar com eficiência esse deslocamento, mas não tão intrincado que dificulte seu cálculo e interpretação. O modelo precisa de um grau de simplificação da realidade para que seja possível analisar as variáveis mais importantes. Uma abordagem recente da matemática que vem sendo empregada há aproximadamente quatro décadas em diversas áreas do conhecimento tem essas características: a teoria dos fractais.

Com essa teoria, formas naturais - por exemplo, um floco de neve - que seriam modeladas simplesmente como uma esfera podem ser caracterizadas de maneira mais precisa. A teoria dos fractais permite estabelecer relações matemáticas simples capazes de representar formas complexas.

Algumas pesquisas têm conseguido progressos importantes na identificação de padrões de deslocamento de animais graças à aplicação da geometria fractal. Entre elas estão as dos pesquisadores do Laboratório de Vertebrados, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os estudos conduzidos por eles vêm coletando exaustivamente dados dos movimentos de animais com o uso do carretel de rastreamento. O caminho percorrido pelo animal no campo é registrado em uma planilha eletrônica, onde os dados são convertidos em informações úteis para a análise pelo método dos fractais.

A densidade e a abundância de populações sempre foram estudadas em suas variações no tempo, mas uma pesquisa com a espécie gambá de orelha preta (Didelphis aurita) permitiu compreender como a densidade populacional pode influenciar os movimentos dos indivíduos e, portanto, sua dinâmica no espaço. Essa relação entre densidade e movimentos não poderia ser inferida a partir de dados obtidos com o método tradicional de captura-marcação-recaptura. Foi necessária a combinação de novos métodos de campo e modelagem - no caso, o carretel de rastreamento e a teoria dos fractais.

*Paulo José Abreu Leitão Almeida, Diogo Loretto, Marcus Vinícius Vieira, Marcelo Miranda Barros