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Região tem 80 mil
'lixeiras' subterrâneas

População transforma bueiros em depósito de detritos;
até bolsas com dinheiro são resgatadas com frequência

Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
08/11/2010 | 07:56
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As bocas de lobo (também chamadas de bueiros), que servem para escoar as águas pluviais e evitar o acúmulo em solo, transformaram-se em lixos subterrâneos no Grande ABC. A anormalidade acontece devido ao amontoamento de detritos jogados pela população, que ignora a existência de lixeiras comuns espalhadas pela cidade.

Os bueiros de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá escondem aproximadamente 26 mil toneladas de lixo. Todo tipo de detrito pode ser encontrado nas 80 mil bocas de lobo da região. O número exclui Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não informaram a quantidade exata de bueiros em cada cidade.

Pilhas de revistas novas, panfletos lacrados de supermercados, móveis desmontados, celulares, relógios, pneus de bicicleta e até bolsas cheias de documentos e dinheiro são encontrados em bueiros da região sem grandes dificuldades.

A equipe do Diário acompanhou a limpeza das bocas de lobo na Vila Vivaldi, com a Prefeitura de São Bernardo, e na Vila Helena, em Santo André, com técnicos do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental). De acordo com funcionários que lidam diariamente com a coleta de resíduos subterrâneos, a preocupação com as consequências dessa atitude passa longe dos munícipes.

"Vemos muita gente varrer a rua e jogar tudo bueiro abaixo. Às vezes, jogam dejetos de animais e aí ligam para fazermos a limpeza da boca. Já achamos até ossada de cachorro", afirmou Antônio Lustramaro, um dos homens que trabalha na coleta dos resíduos em São Bernardo.

A cidade comporta 27 mil bocas de lobo, de onde são tirados de cada unidade, em média, 500 quilos de lixo. A limpeza de cada bueiro é realizada até duas vezes por ano, de forma completa.

Após separação, os detritos são encaminhados ao aterro sanitário da Lara (Central de Tratamento de Resíduos).

Em Santo André, o problema também não passa despercebido. Na cidade, existem 23 mil unidades de bocas de lobo, sendo que 85 mil já foram limpas neste ano.

A equipe que realiza as operações de limpeza revela detalhes curiosos. "Já encontramos sacos de correspondências, sacolas de peixe e até revólveres", disse Sebastião Estevam, encarregado da área de drenagem e limpeza do Semasa.

Segundo ele, de uma única boca de lobo já foram retiradas 3,6 toneladas de lixo. A ‘façanha' foi realizada no Jardim Alzira Franco.

Em média, 100 bueiros são limpos diariamente na cidade. O despejo de materiais culinários e restos de comida também são comumente flagrados em regiões próximas a restaurantes. De acordo com a equipe, as bocas de lobo da Rua das Figueiras, no bairro Jardim, são repletas de óleo de cozinha.

O processo de limpeza é simples. Leva cerca de 20 minutos e é feito por dois homens. As tampas são removidas e os detritos são retirados através de ferramentas com o auxílio das mãos. Em média, cada bueiro tem um metro e meio de profundidade por um de largura. Depois, o montante é reunido em um caminhão, que é encaminhado ao aterro sanitário ao menos duas vezes por dia, após a primeira separação dos resíduos.

Conscientização pode ser realizada a longo prazo

A civilidade individual pode fazer a diferença, até para o meio ambiente. O mau hábito de brasileiros contribui com a continuidade de problemas crônicos dos grandes centros urbanos, como as enchentes. A limpeza constante dos bueiros evita a ocorrência das cheias, que acontecem principalmente no verão.

A falta de bom senso do cidadão deve acabar a longo prazo. Essa é a opinião do secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, José Cloves da Silva. "Não tem outra forma de coibir essa ação se não educarmos o povo. Não podemos acusar ninguém, pois a sujeira é causada por nós mesmos. As próximas gerações com certeza já terão mais consciência, porque hoje as crianças têm toda a orientação nas escolas com palestras constantes de equipes da Defesa Civil, além das informações vindas dos pais. Com o acréscimo da educação no País, não tenho dúvidas de que a situação irá melhorar nos próximos anos."

Em Diadema, o programa Pé na Rua passa por todas as regiões da cidade a cada seis meses, ficando 15 dias em cada região. O projeto realiza diversos serviços nos bairros, entre eles a limpeza das 20 mil bocas de lobo da cidade. Nos pontos onde são frequentes os registros de alagamento, a limpeza dos bueiros é intensificada e ocorre, em média, a cada três meses. Para conferir o dia em que o serviço passa nas ruas, o munícipe pode ligar para o Disque-Limpeza, pelo telefone 0800-770-4348.

Em casos emergenciais ocorridos após o período de chuvas, a limpeza é feita em seguida nos locais de alagamentos detectados, atendendo às solicitações dos moradores. Na cidade, o que mais são encontrados nas galerias subterrâneas são sacos e garrafas plásticas, madeira e papéis.  

Mauá limpa até 800 bueiros todo mês

Para evitar os problemas causados pelas enchentes, principalmente no verão, é indicada a constante manutenção das bocas de lobo, que escoam toda a água da chuva. Visando combater os danos provocados pelas tempestades, a equipe da Secretaria de Serviços Urbanos de Mauá realiza a limpeza dos 6.000 bueiros da cidade diariamente. Em média, 800 são limpos a cada mês.

O lixo também é encaminhado ao aterro da Lara. Os materiais mais encontrados nas bocas do município são garrafas pet e tapetes caseiros.

RIBEIRÃO - Em Ribeirão Pires, a Secretaria de Infraestrutura Urbana realiza a limpeza dos bueiros todos os anos visando a prevenção das enchentes. Galhos, plástico, terra e areia compõem o material coletado em 200 bueiros que são limpos todos os meses.

A prefeitura de Rio Grande da Serra foi procurada pelo Diário, mas não respondeu à reportagem.

Geralmente, o material encontrado no bueiro está envolto em muita terra, folhas de árvores, sacolas plásticas e papel. "Já perdi o nojo. Acostumei", disse Lustramaro, um dos funcionários que participam da coleta de resíduos em São Bernardo. As épocas que antecedem as eleições também são consideradas críticas pelas equipes que realizam as manutenções periódicas. Segundo Lustramaro, blocos de santinhos com propaganda de candidatos são recolhidos ainda lacrados, sem que tenham sido distribuídos.

Os munícipes que quiserem solicitar a limpeza de bocas de lobo em São Bernardo podem ligar para o número 0800-7708156. Em Santo André, a solicitação deve ser feita pelo 115.




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