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Alemão acusa europeus de 'roubar' história da arte
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23/08/2008 | 07:01
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Há 25 anos o crítico alemão Hans Belting, professor de História da Arte nas universidades de Heidelberg e Munique, escreveu um livro bombástico, O Fim da História da Arte?, que em 1993 perdeu o ponto de interrogação em sua segunda edição (disponível pela Cosac Naify), dando a entender que era preciso contar outra história além da perspectiva eurocêntrica.

Belting está em São Paulo para o simpósio internacional Crise da Imagem ou Crise das Teorias, na terça-feira, dia 26, no Instituto Goethe, para falar sobre a possibilidade de uma nova história, formulada a partir do encontro entre a arte renascentista e a ciência árabe. Em seu mais novo livro, Florenz und Bagdad. Eine westöstliche Geschichte des Blicks, incomoda os defensores da história oficial da arte.

Como sugere o título, o livro opõe a Meca renascentista, Florença, a Bagdá, não pela geografia, mas pela ética. A invenção da perspectiva no Ocidente, atribuída à arte renascentista, já havia sido descoberta pelo mundo árabe séculos antes do Renascimento, defende Belting que, sem ofender os italianos, sugere ter sido a idéia surrupiada. O crítico mostra como os artistas do Renascimento driblaram seus colegas muçulmanos e entregaram ao mundo uma fórmula pronta como se fosse deles, inventando uma outra história para fazer da Europa o centro do mundo. Mas será mesmo o fim da história da arte? Não, responde Belting.

O crítico se preocupa com a retomada do orgulho continental europeu, que ultrapassa a paranóia. Diz que jamais pretendeu provocar barulho. Afinal, Hegel, em 1828, disse que a arte tinha perdido o verdadeiro espírito. "Eu não disse que a arte havia acabado, mas que sua história chegara ao fim, pelo menos a que nos ensinaram a respeito do Renascimento como marco zero."

Para ele, bienais e mostras internacionais de arte só reforçam essa farsa conduzida pelo eurocentrismo, que resiste ao "reconhecimento da alteridade". Com os novos-ricos, a arte muda de mãos com velocidade espantosa e os interessados mal conseguem vê-la. Museus e as mostras internacionais, cada vez mais pobres, custam a acompanhar esse trânsito.

Picasso usou da arte africana para criar o cubismo, mas a civilização européia jamais a legitimou, desprezando a arte étnica. Os chineses se esforçam para institucionalizar a arte asiática, encomendando museus para eles mesmos. "Os artistas modernos acreditavam ter criado algo universal, mas era uma falsa crença", afirma. "Museus e exposições estão em crise porque não há uma noção comum de arte que se aplique indistintamente a diferentes sociedades do mundo globalizado." A arte étnica ou folclórica continuou manipulada pelo Ocidente como moeda falsa. O "moderno" perdeu a autoridade. Tornou-se um conceito histórico, carente de sentido universal, defende Belting.




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