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A ocasião faz o ladrão

Era muita gente, era pouca? Era contra o Governo, a favor? Foram passeatas de gente chique, de gente não-chique?

Por Carlos Brickmann
11/09/2011 | 00:00
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Era muita gente, era pouca? Era contra o Governo, a favor? Foram passeatas de gente chique, de gente não-chique? Não faz a menor diferença: a corrupção, mais do que brava, está descarada, exibida, mostrando o rosto de total semvergonhice. Um ministro é acusado de ladroagem, cai e pronto: considera-se que já foi punido. A deputada federal diz que roubou sim, manchou o seu nome, mas como foi antes de ser deputada seus colegas a pouparam. O ladrão público, antes arisco e discreto, circula hoje, confesso, com toda a pompa e cercado de amigos.

Este é o problema das marchas contra a corrupção: os pés não pensam.  A solução está mais na estrutura que nas pessoas, e fazer com que as pessoas mudem e se transformem em Madres Terezas demora um pouco. Um banco sabe que é difícil encontrar dois, três, quatro mil funcionários à prova de tentações. Por isso monta um esquema de controle e supervisão. É o que falta ao Estado brasileiro.

O trabalho é reduzir as oportunidades de praticar a corrupção e aperfeiçoar os mecanismos de localizá-la e puni-la. Mas não esperemos lutar contra a corrupção mantendo um sistema eleitoral em que um candidato gasta cerca de dois milhões de dólares na campanha. Alguém paga a conta e depois vai cobrar. Não se espere cuidado no uso do dinheiro público quando há 40 Ministérios - ou Secretarias estaduais e Secretarias municipais - e dezenas de milhares de cargos a preencher sem concurso. Não se espere probidade de um Governo fatiado entre partidos.

Sempre haverá ladrões. É localizá-los, processá-los, puni-los. Simples assim.

Os culpados de sempre

Marcos Valério, o publicitário que se tornou conhecido em todo o país no episódio do Mensalão, queixa-se em sua defesa de que o ex-presidente Lula não foi indiciado no caso. Segundo seu advogado, é um "raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula". O caso, na verdade, não é tão raro assim: PC Farias, figura importante na era Collor, foi condenado por distribuir dinheiro ilegalmente. Quem dava o dinheiro escapou, quem recebeu também - aliás, nem quem forneceu nem quem recebeu foram sequer identificados. PC Farias sofreu sozinho.

A descoberta de Cabral

A última de Cabral (não o que, por acidente, descobriu Porto Seguro; mas o outro, que foi descoberto por um acidente em Porto Seguro), o criativo governador do Rio: "Eu acho que o jogo no Brasil, se aberto e legalizado, poderia ser uma fonte de financiamento importante para tanta coisa. Inclusive para saúde."

"Financiamento importante para tanta coisa". Até doações de campanha.

Morro cenográfico

De tempos em tempos, as autoridades fingem ocupar o complexo de favelas do Alemão, no Rio, hasteiam a bandeira brasileira, ex-pul-sam sem dó os traficantes e os obrigam a fugir por aquela trilha por trás do morro, aquela que todas as tevês conheciam, que todas as rádios conheciam, que todos os fotógrafos da imprensa conheciam, mas que a Polícia não conhecia. E quantos traficantes são presos sempre que as autoridades tomam o morro? Pois é: de que adianta a operação militar se os ocupantes ficam soltos para ameaçar os moradores, se os moradores continuam privados de escolas, hospitais e da assistência do Estado?

O segredo dos cofres

Há alguns anos, este colunista foi acordado de madrugada pelo serviço de monitoramento do alarme de seu escritório. Havia movimento por lá. E era verdade: nossa gata tinha sido esquecida lá dentro e, quando acordou e foi lanchar, acionou o alarme. Este colunista imagina que seu alarme, instalado e monitorado por uma empresa pequenininha, há uns oito anos, seja menos eficiente e moderno do que aqueles utilizados por bancos. E, no entanto, um bando de assaltantes entra no banco, fica dez horas lá dentro, o alarme não soa, o sinal de que o alarme está desligado não funciona, ninguém fica sabendo de nada. Quanto à Polícia, informa que houve uma confusão: pensou que era apenas algo sem importância, de caixas eletrônicas sendo dinamitadas, e por isso demorou tanto a reagir.

O colunista é simpático, boa gente, e por isso até acredita nessas histórias.

Dois homens e um segredo

Aqueles cofres bancários costumam guardar grandes valores e grandes segredos; documentos importantes; jóias que só são usadas de vez em quando, tamanho é seu preço. E são guardados por apenas um vigia em cada turno, auxiliados pelo tal alarme inferior ao que detectou nossa officecat de estimação? Então, tá.

Falta de serviço

O senador José Sarney, do PMDB do Amapá, quer mudar o nome do Aeroporto de Congonhas: passaria a chamar-se "aeroporto de Congonhas - senador Romeu Tuma". Pergunta-se: exceto Sarney, alguém quer mudar o nome do aeroporto? Se o nome do aeroporto for mudado, alguém o chamará pelo nome novo? O senador Sarney, que manda no Maranhão e no Amapá, não tem serviço por lá? Poderia trocar o nome de todas as instituições públicas chamadas "Sarney".




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