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Advogados pedem reabertura do caso sobre morte de Pasolini
Por Da AFP
09/05/2005 | 15:45
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Advogados da família de Pier Paolo Pasolini, o famoso poeta e cineasta italiano assassinado em uma praia perto de Roma em 1975, pediram nesta segunda-feira a reabertura do caso judicial depois que seu assassino clamou inocência, no sábado.

"Sou inocente, não matei Pasolini", declarou Pino Pelosi, em entrevista à TV pública italiana. Em 1979, ainda menor de idade, ele foi condenado a nove anos de prisão pelo assassinato do diretor.

As declarações de Pelosi voltaram a despertar dúvidas sobre a morte do polêmico e brilhante cineasta, já que muitos italianos consideram que se tratou de um crime político para tirar de circulação uma personalidade incômoda, que foi tachada de "corruptor de menores".

"Hoje em dia não tenho mais medo. Os que me ameaçaram e ameaçaram a minha família devem estar velhos ou mortos", garantiu Pelosi. Os advogados da família de Pasolini, Nino Marazzita e Guido Calvi, vão solicitar oficialmente nesta semana ao tribunal de Roma a imediata reabertura do caso, após a nova versão sobre a morte do escritor "maldito".

A Justiça italiana decidiu abrir nesta segunda-feira um arquivo sobre o polêmico caso para examinar as novas revelações que os advogados estão anexando.

Autor de poemas e obras literárias importantes, assim como de filmes provocadores e de denúncia, entre eles O Evangelho segundo São Mateus (1964), Édipo Rei (1967) e Medéia, A Feiticeira do Amor (1969), Pasolini era um conhecido militante de esquerda e, ao mesmo tempo, um cristão devoto, amado e odiado por muitos.

Pelosi contou que estava com Pasolini na madrugada de 2 de novembro de 1975 no balneário de Ostia, a cerca de 20 quilômetros de Roma, onde o escritor, homossexual assumido, costumava levar os rapazes que conquistava nas ruas da capital italiana. Segundo a versão de Pelosi, três desconhecidos que falavam "com sotaque do sul" chegaram e deram uma surra mortal em Pasolini, enquanto o insultavam aos gritos de "comunista sujo".

O corpo de Pasolini foi encontrado em uma praia deserta, seminu e, segundo os exames médicos, atropelado por seu próprio carro, um Alfa 2000. Em sua primeira versão, Pelosi, que na época tinha 17 anos, sustentou que agiu sozinho e reagiu com violência à proposta de uma relação sexual completa, após ter praticado sexo oral.

No entanto, as investigações não convenceram totalmente os amigos e admiradores do conhecido intelectual, pois muitos elementos apontavam a participação no crime de pelo menos quatro ou cinco pessoas.

O diretor Sergio Citti, amigo próximo de Pasolini, reiterou nesta segunda-feira que naquela chuvosa noite de novembro conversou com o artista e que ele estava preocupado com as ameaças que vinha recebendo, e repetiu que seu assassinato foi um crime político, encomendado por seus inimigos.

Pasolini era abertamente odiado por setores da extrema-direita da sociedade, sobretudo por causa de seu último filme, Saló ou Os Cento e Vinte Dias de Sodoma, no qual ilustrou as atrocidades cometidas durante a República Social Italiana (1943-1945), último reduto do fascismo antes da queda do regime.

Como cineasta provocador, Pasolini era odiado também pela Igreja Católica pelo estilo erótico, violento e depravado que marcava suas obras, como Decameron (1971).

Para o escritor Enzo Siciliano, um de seus biógrafos, Pasolini, que nasceu em Bolonha em 1922, foi um dos escritores italianos mais talentosos de meados do século XX e seus romances Ragazzi di vita (1955) e Una vita violenta (1959) constituem documentos brutais sobre a pobreza, a prostituição, os ladrões e os deserdados do mundo.




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