Cultura & Lazer Titulo
30 anos de humor
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
17/10/2005 | 08:12
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Desde a primeira publicação da tira do personagem Cubinho, até agora, já se passaram 30 anos. Em homenagem a essa longa jornada pelo universo do desenho, o cartunista Mário Mastrotti, 45 anos, ganha a partir desta segunda-feira sua primeira mostra individual, intitulada Mastrotti: Três Décadas de Traço, que permanece em cartaz até 17 de novembro na Fundação Pró-Memória, em São Caetano.

Apaixonado por desenho desde criança, Mastrotti nunca largou o prazeroso hábito de expressar-se por meio dos traços. Foi assim que, aos 15 anos, ingressou no departamento de arte do Diário, onde trabalhou de 1975 a 1981. Já no primeiro ano na empresa, emplacou as tiras do Cubinho, um cachorro muito sabido e engajado, com corpo em formato semelhante à figura que o nomeia, e que falava principalmente sobre questões ecológicas. Mas havia espaço para outros assuntos: "Ele defendia a anistia, as eleições diretas, a liberdade de imprensa e falava de temas que eram atuais, como os freqüentes atentados. Era uma tira meio charge".

Cubinho era o personagem principal da criação de Mastrotti naqueles idos de 70. Mas havia outros, como Os Filhos da Máquina: os amigos Bob e Tony, ambos filhos de homens riquíssimos, que atuavam na fabricação de sopas em lata. Como contraponto, havia um primo "cabeça", que meditava. "Eram histórias que tratavam da alienação dos jovens", diz o criador, lembrando que suas criaturinhas não eram lá muito preocupadas com os problemas que assolavam o mundo.

Nas páginas do Diário, a presença de Mastrotti se confirmava em vários trabalhos, mas muitos leitores devem se lembrar do personagem Ramalhinho, que aparecia interagindo com fotos de reportagens sobre os problemas da cidade. Não era uma criação original sua, mas eram de sua lavra as figuras que iam parar na edição do dia seguinte.

Na opinião do próprio Mastrotti, os dez primeiros anos de jornada profissional foram os mais produtivos. E como a exposição é organizada em décadas, é na seção 1975-1985 que o público encontrará os personagens citados, além do Mago de Azzar, que teve algumas poucas publicações em um jornal de grande circulação na capital paulista.

Nos anos 80, Mastrotti centrou fogo na produção de cartilhas institucionais e educativas para empresas do setor privado. Nessa safra teve, por exemplo, a cartilha – segundo ele a primeira no Brasil – sobre aids, para a Alpargatas. A publicação ocorreu em 1989.

Paralelamente, o cartunista criou várias aventuras para seus personagens da tira Tripanossomos, publicada pelo fanzine Hiperespaço, do também cartunista Cerito. A dupla de protagonistas era formada por um homem e uma ave Dodô (pré-histórica, sem asas) e vivia histórias que satirizavam as contadas pelo cinemão norte-americano.

A terceira década da mostra (1995-2005) representa uma nova e fértil fase de Mastrotti, que voltou a soltar a criatividade fora do universo empresarial, com a publicação de trabalhos nos dez livros editados pela sua editora Virgo – resultado de uma cooperativa de desenhistas. Nesta seção há cartuns, charges e tiras, inclusive as publicadas em São Caetano, da série De Coração e de Mente.

"Esta trata mais de questões emocionais. Os personagens têm um buraco no peito. Um deles tem uma torneira de onde sai o afeto que ele vende. As pessoas o procuram, ele pergunta o porquê da compra e é daí que saem as piadas". E por que não tratar de questões políticas, como antes? "Acho que as pessoas estão amortecidas. Ninguém mais fica indignado o suficiente para sair nas ruas e fazer passeatas". Embora ele mesmo acredite que ainda é possível tomar uma atitude política, ainda que solitariamente, encaminhando e-mails de protesto aos parlamentares brasileiros.

Ainda desta fase, há charges feitas para os extintos revista Bundas e jornal Pasquim 21, além de caricaturas, linguagem à qual Mastrotti passou a se dedicar somente nos últimos cinco anos. Ganhou até um prêmio na categoria: a menção honrosa no 1º Salão da Síria, neste ano, com uma caricatura do jogador Ronaldinho, "o fenômeno".

Segundo o cartunista, a exposição reúne 45 trabalhos, incluindo reproduções de tiras, quadrinhos institucionais, ilustrações de seus livros, charges, cartuns e caricaturas premiados no Brasil e no exterior. Em uma vitrine ficarão expostos jornais originais e algumas publicações, além de exemplares de livros editados por ele. Na entrada, haverá 12 caricaturas do desenhista, feitas por outros artistas, entre elas uma de Will Eisner, produzida em Recife, em 2001; uma de Chico Caruso e outra de Fernandes, do Diário.

Mastrotti já publicou seus trabalhos em pelo menos 30 jornais do Brasil e editou livros de mais de 80 autores do país. Leciona na Universidade Metodista, em São Bernardo, e na Faenac (Faculdade Editora Nacional), de São Caetano. Já recebeu diversos prêmios, entre eles a menção honrosa no Salão Internacional Obeid-Zakan, no Irã, com o cartum Gato e Rato.

Para o cartunista, a arte é quase como uma missão: "Passar educação e cultura com bom humor é importante, porque ajuda a pessoa a refletir e crescer, mas sem tentar fazer a cabeça de ninguém."

Mastrotti: Três Décadas de Traço – Exposição. Abertura nesta segunda-feira, às 19h. No Salão de Exposições da Fundação Pró-Memória – av. Goiás, 600, São Caetano. Tel.: 4221-9008. De segunda a sexta, das 9h às 17h. Entrada franca. Até 17 de novembro.




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