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Indústria de vidros exporta menos
Por Lana Pinheiro
Do Diário do Grande ABC
20/06/2006 | 08:20
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Com a constante valorização do real, as duas principais fornecedoras de vidros para a indústria automotiva brasileira, Pilkington e Saint-Gobain Sekurit, de Mauá, decidiram priorizar o abastecimento do mercado interno à exportação. Na Pilkington 9 milhões de euros começaram a ser investidos no país no início do ano para aumentar a capacidade local em 25% para 1,5 milhão de jogos de vidros para veículos. Na Saint-Gobain Sekurit, após três anos de aportes que adequaram a produção à demanda interna, as ampliações voltadas às exportações foram interrompidas.

Os primeiros jogos de vidro da expansão da Pilkington sairão das linhas de montagem para os primeiros testes em setembro. Do volume total 75% serão vendidos para as montadoras como equipamento original, 10% vão para o mercado de reposição, enquanto 15% devem abastecer o mercado externo. Distribuição ligeiramente diferente à projetada por Márcio Flávio Martins, diretor de Marketing da empresa, no início do ano: “Esperávamos exportar cerca de 22% da produção, porém com o dólar a R$ 2,20/2,30, nossos produtos perderam competitividade e alguns contratos foram cancelados ou simplesmente não foram renovados”, disse.

Na Saint-Gobain Sekurit a situação é bastante similar. Segundo o seu diretor geral, Renato Holzheim, a empresa já trabalha para diminuir o ritmo em algumas linhas devido à perda de contratos de exportação. “Estamos avaliando o real impacto da desvalorização do dólar, mas na linha de pára-brisas devemos reduzir a jornada de trabalho de sete para seis dias”. A ordem de redimensionar a produção, destaca o executivo, já está dada. “Estamos em fase de adoção desses procedimentos”, afirmou.

Com a desaceleração dos volumes a serem embarcados, os empregos da empresa de Mauá podem ser redistribuídos. “Vamos fazer o máximo para manter todo o pessoal com realocação dentro da própria linha de produção, mas a possibilidade de futuros cortes também será estudada”. Hoje, do volume fabricado, 80% são vendidos como equipamento original, de 10% a 12% são destinados ao setor de reposição e o restante às exportações. “Exportaremos quase a metade do que projetamos”.

Mercado interno – Apesar dos problemas enfrentados para manter o mercado externo, no interno não há qualquer indício de crise, muito pelo contrário, afirma o diretor-geral da Saint-Gobain. “Investimos nos últimos três anos para adequar nossas linhas ao crescimento da indústria automotiva, estamos preparados para a meta estipulada para este e os próximos anos”. De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) a produção de veículos deve crescer 4,5% para o recorde de 2,64 milhões de unidades até dezembro.

Se o mercado surpreender, na Saint-Gobain Sekurit há meios de suprir a demanda extra. “Nosso compromisso é com o mercado interno.  Se os pedidos aumentarem temos flexibilidade para rever o nosso mix e redirecionar parte da produção destina às exportações para as montadoras locais”, afirma Holzheim.

Na Pilkington, Martins, que também trabalha com os números da Anfavea, também descarta desabastecimento. “Nossos investimentos são modulares. Podemos adequar com rapidez nossa estrutura às exigências do mercado”. A empresa também pode recorrer à fábrica da Argentina, que hoje trabalha em três turnos, com capacidade para fabricar 500 mil jogos/ano de vidros automotivos.

Apesar dos investimentos, o diretor da Pilkington mostra preocupação quanto ao futuro. “As nossas maiores montadoras já admitiram que reduzirão os embarque ao exterior, ao mesmo tempo continuamos sem nenhuma política setorial de longo prazo e o mercado interno não cresce o suficiente para compensar as perdas de contrato da outra ponta. O resultado pode ser nova retração de nossa indústria”, alerta.



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