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Região perde 12.161 alunos dos ensinos básico e fundamental

Matrículas recuaram 2,7% em 2021; especialistas apontam pandemia, pirâmide etária e migração como as possíveis causas

Thainá Lana
do Diário do Grande ABC
28/11/2021 | 00:15
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Divulgação


O Grande ABC perdeu 12.161 estudantes do ensino básico e fundamental em apenas um ano. Esse é o resultado do número de matrículas registrado nas redes pública e privada em 2021 na comparação com os dados de 2020, de acordo com levantamento do Diário que levou em conta informações do Censo Escolar do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Com isso, 2,7% crianças até 15 anos não foram matriculadas nas instituições de ensino da região – neste ano foram 437.834 alunos inscritos, enquanto no ano passado o número de matrículas na mesma faixa etária chegou a 449.995 alunos – veja os dados na arte ao lado.

O ensino médio na região foi a única modalidade que apresentou crescimento no número de alunos matriculados, tanto nas instituições públicas quanto particulares. Em 2020 foram inscritos 92.213 jovens e neste ano o número caiu para 88.220 - aumento de 4,5%. 

A baixa taxa de natalidade e a migração das famílias podem ser os fatores para a queda nos números escolares, conforme aponta o chefe de gabinete da Secretaria de Educação do Estado, Henrique Pimentel. “Essa diminuição é constante entre um ano letivo e outro, até por conta da pirâmide etária (quando os estudantes avançam para outra série). A tendência é que teremos cada vez menos alunos entrando nas escolas e mais saindo, devido à baixa taxa de natalidade do País”, explica Pimentel. 

O chefe de gabinete também acredita que a pandemia da Covid-19 pode ter contribuído para migração de famílias para outros Estados. “Na pandemia muitos estudantes acabaram migrando para outros Estados com as famílias e isso também reflete no cenário de diminuição das matrículas nas escolas estaduais”, argumenta Pimentel, que também reforça a obrigatoriedade da matrícula escolar de crianças a partir de 4 anos - conforme define a lei federal 12.796/2013. 

O  ensino infantil foi a categoria escolar que apresentou maior taxa de evasão escolar da região - mais de 8.000 crianças não foram matriculadas em escolas em 2021. Thiago Zola, psicopedagogo e gerente de projetos estratégicos da Mind Lab, reforça a necessidade das crianças, na faixa etária de zero a 5 anos, de frequentarem o ensino básico. “É na escola que a criança passa a ter noções de convívio além do familiar, desenvolve a autonomia e cria laços de amizade e socialização, questões fundamentais para diversas áreas do conhecimento. É importante que o projeto pedagógico conte com jogos, brincadeiras e atividades lúdicas que, além de ensinar, divertem a criança. A educação, nessa fase, vai pavimentar todas as etapas de ensino que virão a seguir”, explica Zola

EFEITOS DA PANDEMIA 
As seis prefeituras da região, exceto a cidade de Mauá que não retornou a demanda, alegam que a pandemia pode ser um indicativo de evasão escolar nas escolas municipais do Grande ABC. A coordenadora de campo da Associação Cidade Escola Aprendiz,  Gisele Martins e a gestora estratégica, Julia Ventura, também assemelham a crise sanitária como possível explicação. “A infrequência e evasão escolares ocorrem por diferentes fatores, tanto relacionados às dinâmicas que se dão no contexto da escola, quanto fora dela (problemas sociais, familiares, urbanos, etc). A pandemia, de maneira geral, representou um agravamento importante das questões que se manifestam nessas duas esferas. Ou seja, com o fechamento das escolas, houve afastamento dos alunos, por diversas razões: falta ou acesso inadequado à tecnologia, ausência ou insuficiência de condições para o estudo em casa, desmotivação ou mesmo oferta ineficaz de ensino remoto, entre outros motivos”, esclarece Gisele.  

A redução no número de estudantes da região acende um alerta para o próximo ano letivo. Isso porque as escolas estaduais e municipais recebem anualmente repasse de verbas do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), do governo federal. O recurso considera, entre outros fatores, o número de alunos matriculados nas instituições de ensino, e caso o próximo ano registre aumento de matrículas, as gestões estaduais e municipais terão de adequar o orçamento as necessidades e demandas das escolas.  

ESCOLAS PARTICULARES
No ensino privado da região, a evasão escolar foi ainda pior. Nessas instituições o Censo Escolar apresentou queda de 8,2% no número de matrículas de estudantes do ensino infantil e fundamental. Em 2020 foram 110.867 alunos, enquanto neste ano o número caiu para 101.722. As especialistas em educação da Associação Cidade Escola Aprendiz, Gisele Martins e Julia Ventura, justificam a baixa taxa de matrícula no ensino particular. 

“A pandemia agravou as condições socioeconômicas do Brasil, sobretudo das populações mais pobres. Esses elementos contribuíram para o agravamento das condições de acesso à educação, agudizando problemas anteriores à Covid-19. Essa realidade afeta também alunos da rede privada, em função de uma redução da capacidade financeira das famílias”, finaliza e Julia.  




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