Política Titulo São Bernardo
Projeto de vereadora quer mapear DNA de afrodescendentes com intuito de resgatar origens

Objetivo é localizar familiares por meio de mapeamento genético

Daniel Tossato
20/11/2021 | 05:06
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DGABC/Celso Luiz


E se você não soubesse de onde sua família vem? De qual parte do planeta Terra vieram seus avôs, avós, bisavôs e bisavós? Se em algum momento, durante uma conversa, você não conseguisse explicar a origem de seu sobrenome, por exemplo?

Apesar de parecer uma coisa insólita, essa é mais uma das cicatrizes carregadas por grande parte da população afrodescendente do País, devido, principalmente, às mazelas trazidas pelo período de mais de 300 anos de escravidão e que feriram os negros não só na pele, mas em espírito e memória.

Com intuito de realizar a reconexão do povo negro com seus ancestrais, a vereadora Ana Nice (PT), de São Bernardo, elaborou projeto de lei que visa cadastrar cidadãos descendentes de negros africanos escravizados no Brasil, residentes na cidade, para que realizem exames de DNA com o objetivo de localizar origem geográfica e familiar, por meio de sequenciamento e mapeamento genético. Com o nome de São Bernardo DNA África, a propositura tramita na casa desde junho e aguarda apreciação dos parlamentares.

“Eu mesmo não sei de onde meus ancestrais vieram. Pouco se falava disso na minha família. A situação piora porque perdi meus pais quando ainda era pequena. Esse projeto pode amenizar um pouco esse vácuo e seria muito interessante saber de onde vieram meus familiares e ancestrais”, declarou a parlamentar. Na cidade, a vereadora e mais 13 nomes, que pertencem a diversos segmentos da cidade, foram selecionados em espécie de projeto.

Ana Nice espera que, com o projeto, possa ajudar a dar a estas pessoas um pouco mais de suas memórias e raízes que foram sendo apagadas ao longo do tempo no País.

Uma destas selecionadas e que não consegue conter a ansiedade de saber de onde vieram seus antepassados é a costureira Irene Conceição Xavier, 69 anos, moradora do Baeta Neves, na cidade. Também conhecida como Doné Irene de Azànsú, sacerdotisa de Candomblé Jeje, há mais de 30 anos.

Em sua árvore genealógica, há familiares negros africanos, europeus da Espanha e até de indígenas. A costureira, entretanto, espera que sua origem esteja mesmo na África.

“Eu não ia gostar de ser mais descendente de europeu do que de africano. Até hoje me pergunto como meu bisavô espanhol teve filhos e filhas com uma mulher negra da áfrica. Será que ele era capataz e ela, escravizada?”, perguntou Doné Irene. “Só sei que meu espírito é negro e africano”, decretou.  




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