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‘Espero construir unidade ao Estado desde o 1º turno’, alega Boulos
Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
13/09/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/ DGABC


Ex-presidenciável e líder nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos (Psol) sustentou que tem se empenhado por unidade do campo progressista nas disputas ao governo de São Paulo e ao Palácio do Planalto em 2022. Em entrevista ao <CF52>Diário</CF>, o pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes admitiu tratativas por projeto único da esquerda desde o primeiro turno e rechaçou que que exista conversa sobre retirar seu nome do páreo. “Isso não está colocado”, cravou Boulos, que teve pleito aprovado em congresso estadual do partido. “Espero que haja gestos. O debate não pode se limitar à legitimidade. A discussão precisa ir também para o âmbito de responsabilidade, política e histórica.”

Como avalia entrar na disputa pelo governo de São Paulo, gerido pelo PSDB desde 1995?

Estado está sem projeto de desenvolvimento, terceiriza responsabilidades, sobretudo no governo Doria – embora mais rico do Brasil, 30% do PIB nacional. Há sentimento de cansaço, mudança. Não por acaso. Mesmo grupo político há 25 anos no governo. Quase uma capitania hereditária. Como se reelegem? Deixam Estado abandonado. À véspera da eleição começam a política clientelista tradicional. Prefeitos e deputados pedem obras, reforma, asfalto. Liberam verba e, em troca, fecham pacote de votos. Não dá para subestimar isso, mas há desgaste. 

É factível unir o campo da esquerda em torno de apenas uma candidatura no Estado?

Estou muito empenhado para diálogo com campo progressista no Estado, partidos, lideranças sociais, lideranças políticas, para que possamos construir projeto de mudança. Não se constrói projeto a um Estado, que é quase um País, de cima para baixo. Tem que conhecer a realidade. Grande ABC é a sexta região que visito para dialogar com os setores.

O Psol furou bolha ao eleger, pela primeira vez, vereadores em São Caetano e Santo André. Qual o peso da região para construção de outras candidaturas a partir desta conjuntura? 

Grande ABC é polo dinâmico para São Paulo e ao Brasil, do ponto de vista econômico e político. É natural que o processo de crescimento do partido em nível nacional também se expresse aqui. Os dados recentes do TSE apontam que o Psol é o partido que mais cresceu no País desde a eleição de 2020 em número de filiados. Mais de 20 mil filiados novos. Tem abertura para projeto renovado de esquerda. É natural que nasça fortemente nas regiões metropolitanas. 

Há tratativas, principalmente envolvendo o PT, na busca que seu nome não seja lançado ao Estado e entre como puxador de votos como candidato a deputado federal. Qual a sua avaliação sobre essa hipótese?

Isso não está colocado. Defendo unidade do campo progressista, tanto no nível nacional como no Estado. Temos desafios no ano que vem: derrotar o Bolsonaro, virar a a página desse pesadelo e acabar com hegemonia nefasta dos tucanos. Estou muito empenhado nesses dois desafios. Eles exigem unidade. A unidade não pode se dar em torno de um partido, tem que ocorrer em torno de um campo. Em 2016, quando começaram as articulações golpistas do Temer, Eduardo Cunha, para derrubar a Dilma Rousseff – e o Psol não esteve nos governos do PT – estávamos na linha de frente nas ruas contra o impeachment. Em 2018, quando houve prisão de Lula, Povo Sem Medo estava no Sindicato (dos Metalúrgicos do ABC). Quando termina o primeiro turno das eleições de 2018, e eu fui derrotado, saí rodando o Brasil para fazer campanha pelo Fernando Haddad. A partir da vitória do Bolsonaro, defendemos a construção de mesa de unidade. Estamos trabalhando isso não é de hoje. Não é em véspera de eleição. A unidade não pode ser hegemonismo.

Mas dentro deste contexto, há possibilidade de o sr. abrir mão de ser candidato?

Como disse, esse debate não está colocado. O debate que estamos fazendo é de construção de candidatura para o Estado. Já tive conversas bastante produtivas com o PCdoB, Rede, PDT. Estamos conversando também com o PT e PSB na perspectiva de construção de unidade. Espero que haja gestos, gestos de generosidade. É legítimo que o PT queira lançar candidatura, assim como que é legítimo o Psol lance. O debate não pode se limitar à legitimidade. A discussão precisa ir também para o âmbito de responsabilidade, política e histórica, de cada partido e liderança em momento grave como esse. É momento que não podemos colocar projeto pessoal ou partidário à frente dos desafios que temos.

Considera concreto Psol e PT estarem juntos desde o primeiro turno até diante da possível pulverização de projetos da direita?

Espero que possamos construir unidade desde o princípio, inclusive agora na luta contra o Bolsonaro, pelo impeachment, e no ano que vem. Está cedo para dizer se vamos conseguir ou não. O debate vai amadurecer até o começo de 2022.

O Psol sempre lançou candidatura à Presidência e agora admite apoiar Lula em 2022. Essa conjuntura pode trazer, como contrapartida, apoio do PT ao Estado?

Isso não é negociação, propriamente. É debate político, programa, projeto, perfil das candidaturas. A possibilidade de termos unidade não só entre PT e Psol, mas do conjunto de partidos progressistas em nível nacional e estadual está colocada, em discussão no Psol.

A candidatura do Psol hoje é maior do que a do PT até pelo seu resultado eleitoral à prefeitura de São Paulo?

É ruim colocar as coisas nesses termos. Se olhar as pesquisas (de intenção de voto) ao Estado em algumas eu estou na frente, mas em outras o Haddad está na frente. Cada um tem seu trunfo, construiu sua trajetória, bases social e eleitoral. Espero que possamos ter soma de forças para derrotar Doria e Bolsonaro em São Paulo.

Soma passa, necessariamente, pela união entre PT e Psol?

Envolve programa. Tem que ter consonância não só em torno de um nome. Estou falando em nível nacional e estadual. Psol tem visões de País, modelo de desenvolvimento. Evidentemente na composição de aliança, parte das visões, tem que estar contemplada. Aliança não é soma de um mais um. Tem que ser composição com diálogo, generosidade, gestos. Isso passa pelo espaço que cada um dos partidos vai ter numa eventual composição. Não pode ser de forma açodada. Para poder governar São Paulo, tem que ter capacidade de se construir pontes.

Qual o prazo avaliado para consolidar essa construção de consenso?

Já estamos construindo candidatura. O prazo para consolidação de alianças é março, abril. A eleição estadual não dá para pensar de forma isolada. Debate de forma conjunta com a eleição nacional. Isso já está em curso.

É possível derrotar Alckmin e máquina do PSDB no Interior?

Pela primeira vez é. Primeiro: rejeição do Doria. Não há precedente de um governador de São Paulo tão rejeitado quanto ele. A máscara do Doria caiu. Ele vende ilusões às pessoas, uma hora a mentira acaba. Usa o cargo de trampolim para outro. Fez isso na prefeitura de São Paulo, está fazendo no governo do Estado. Se, por alguma razão do Universo, virar presidente da República, ele vai largar no meio (o mandato) para se candidatar a presidente da ONU. Segundo: pela primeira vez, o ninho tucano está dividido. Eles sempre tiveram um único candidato. Agora, tem o candidato da máquina, que é Rodrigo Garcia, e um candidato tucano tradicional, Geraldo Alckmin. Eles vão dividir votos entre eles, estão mais fragilizados. Existe desgaste e um sentimento de mudança. Tem pesquisas que indicam isso. Alguns cenários nos mostram em primeiro lugar. Quem imaginaria isso? Quando, há um ano da eleição, a esquerda esteve à frente? Chance para derrotar a máquina é melhor do que em qualquer outro momento. Se tivermos unidade do campo progressista, é melhor ainda.

Desde o impeachment da Dilma, o PT se mostrou perdido de lideranças. Lula foi alvo da Lava Jato. Luiz Marinho ficou em quarto lugar ao Estado em 2018 e Jilmar Tatto em sexto à prefeitura de São Paulo em 2020. O Psol foi para o segundo turno de forma inédita. Esse renascimento do Lula freia o crescimento do Psol?

Não freia em absolutamente nada. Depois da reabilitação dos direitos políticos do Lula o Psol aparece como partido que mais cresceu de acordo com dados do TSE. Não há contradição entre PT recuperar força contra a direita na sociedade com os anseios de vários setores, sobretudo da juventude, movimentos sociais, ambientalistas e que buscam projeto renovado no Psol. Existe espaço tanto para o PT ter força eleitoral quanto para que o Psol siga crescendo. A bancada federal do Psol, assim como às assembleias, vai crescer significativamente. Podem ter certeza. A linha do Psol não é de destruição do PT, antipetista.

Com a polarização entre Lula e Bolsonaro na disputa presidencial, qual é o melhor nome para encabeçar ala progressista? Existe viabilidade para terceira via?

Esse debate da polarização tem que ser bem feito. O Brasil é polarizado há mais de 500 anos. País que tem tamanho da distribuição de renda e abismo social é inevitavelmente polarizado. Maior produtor de alimento do mundo tem 19 milhões de pessoas com fome. O que precisamos combater é intolerância, autoritarismo. É quando a polarização descamba para projeto odioso. Não tem adversário, são inimigos que precisam ser exterminados. É um ambiente tóxico. Hoje quem puxa o Brasil para esse polo é o Bolsonaro. Não acho que Lula e Bolsonaro são faces da mesma moeda. Esse é discurso falacioso. Lula, como série de outros políticos, incluindo vários que discordo politicamente, está no campo democrático. O Bolsonaro, não. Ele rompe as barreiras da democracia. O desafio que nós temos em 2022 é derrotar Bolsonaro para que o País supere esse atraso e comece a pautar processo de reconstrução. Aqui virou terra arrasada. Se olhar as pesquisas hoje, o nome que demonstra melhores condições de derrotar o Bolsonaro é o do Lula. Agora, isso precisa ser construído como aliança, passa por discussão de projeto e papel de cada força nesta construção. Não existe unidade automática. Isso que se chama de terceira via pode até surgir, mas na fotografia atual não é cenário que vemos em pesquisas.

E como estão as tratativas com o Lula?

Tenho relação pessoal e política muito boa com o Lula. A última vez em que conversamos faz três semanas. Estive no Instituto (Lula), falamos sobre cenário político nacional e estadual, de troca de impressões. Coloquei o que nós estamos pensando. Ele colocou quais são as análises e ponderações dele. O debate sobre construção de alianças se dá junto com discussão de programas. Está amadurecendo. Espero que a gente chegue no início do ano que vem com ele em estágio melhor do que está hoje.

Nome: Guilherme Castro Boulos

Estado civil: casado, com duas filhas

Idade: 39 anos

Local de nascimento: natural de São Paulo

Formação: Filosofia pela USP, especialização em Psicanálise pela PUC-SP e mestrado em Psiquiatria pela USP</CS></CW>

Hobby: Treinar boxe

Time do coração: Corinthians

Local predileto: cozinhas solidárias

Livro que recomenda: Torto Arado, de Itamar Vieira Junior

Artista que marcou sua vida: Dexter

Profissão: Professor

Onde trabalha: Pós-graduação da PUC




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