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Idosos trabalham mais e bancam família, revela pesquisa do IBGE
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
16/04/2006 | 10:22
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Seis em cada dez idosos da Região Metropolitana de São Paulo são as pessoas de referência do domicílio que ocupam, mesmo morando sob o mesmo teto que os filhos, genros e netos. Na prática, são mais do que gente respeitada e valorizada pelos parentes: a renda deles ainda é fundamental para o sustento da casa. Estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004 mostra que o número de chefes de família com mais de 60 anos vem aumentando. Especialistas dizem que o idoso se tornou mais ativo e continua trabalhando mesmo depois de chegada a aposentadoria. Mas tanta disposição nem sempre é movida pelo amor ao emprego. A necessidade financeira também fala alto.

No Grande ABC, são cerca de 220 mil idosos; nas 39 cidades que compõem a Região Metropolitana, são 1,8 milhão. Nesses municípios, o perfil da maioria das pessoas com mais de 60 anos é o mesmo. Além de chefes de família, os idosos são pobres e moram em casas com rendimento mensal per capita de até dois salários mínimos. Vivem com os filhos ou parentes próximos, ganham aposentadoria e têm pouca instrução – só 20% continuaram os estudos depois de concluída a 8ª série do ensino fundamental (veja quadro ao lado).

Apesar da condição dos idosos, de arrimo de família em muitos casos, a pesquisadora e demógrafa do IBGE, Lúcia Cunha, vê na mudança de perfil dos idosos o lado positivo de se tornarem cada vez mais ativos e participativos na sociedade. “É uma conquista para o idoso continuar trabalhando e exercendo um papel importante no núcleo familiar. Se ele se percebe útil socialmente, vive melhor. Nem todos vivem para ajudar no sustento dos filhos e netos. Parte deles, 14%, vive sozinho. E isso mostra que são mais independentes”, avalia.

No Brasil, há 15 anos, 60% dos idosos eram chefes de família; hoje, são 65%. na Grande São Paulo, 40% dos homens de 60 a 69 anos acumulam aposentadoria e trabalho. Entre as mulheres de mesma faixa etária, a proporção é menor, cerca de 13% mantêm atividade profissional, mesmo aposentadas.

Dona Josefina Martinelli é exemplo da estatística e de longevidade, e está num grupo feminino ainda mais seleto. Aos 85 anos, ainda trabalha, com carteira assinada. Como ela, só 2% das mulheres da Região Metropolitana. “Se parar de trabalhar, não duro dois meses. Morro logo. Gosto de me sentir ativa. E preciso do dinheiro, a aposentadoria não dá para nada. Tenho que pagar aluguel”, conta ela, que mora com o filho.

Todos os dias, ela acorda antes das 5h. Mora na Vila Mariana, em São Paulo, e pega três conduções até chegar à metalúrgica Arteb, em São Bernardo. Mostra orgulhosa a data de admissão na empresa, pregada ao crachá: 21 de fevereiro de 1961. “É bom saber me virar sozinha. Ruim é depender dos outros”, ensina dona Zefa, como é conhecida pelos companheiros, que tem três filhos e sete netos.

Caricatura – A antropóloga e professora Elisabeth Mercadante, da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), diz que os dados do IBGE derrubam a “caricatura” que se fez da condição do idoso nos últimos anos. “A falta de atividade entre os idosos cada vez mais se transforma em mito. Não é essa a realidade que se encontra. É positivo o idoso ser protagonista. Isso mostra que, em linhas gerais, apesar das dificuldades, ele trabalha mais porque vive mais e melhor. Mesmo os de baixa renda. O idoso deixa de ser visto como passivo social e ainda tira a família do aperto, muitas vezes, porque colabora financeiramente”, sustenta.

Apesar de ocupados, são poucos os idosos que continuam exercendo a mesma função que lhe era atribuída antes da aposentadoria. Para o sociólogo José Alfonso Klein, professor da Fundação Santo André, houve uma precarização das condições de trabalho, o que afetou não só os jovens iniciantes no mercado de trabalho, mas também as pessoas com mais de 60 anos que ainda não deixaram o sistema. E, com a falta de vagas formais, a vida da próxima geração de idosos tende a perder qualidade.

“Hoje, o profissional que tem mais de 40 anos e perdeu o emprego dificilmente consegue recolocação no mercado de trabalho. Quanto mais tempo ele demora para voltar à ativa, mais tempo ele deixa de contribuir com a Previdência Social. A pessoa vai envelhecendo e a qualidade de vida vai piorando, em vez de melhorar com o sossego da aposentadoria. Esse é um aspecto que teremos de encarar. Quem é idoso hoje conheceu uma outra realidade, a da instabilidade no emprego. Por isso, ainda consegue ajudar a família”, afirma o sociólogo.

Perfil dos idosos na Grande São Paulo

- 1,8 milhão de pessoas com mais de 60 anos vivem nos 39 municípios que formam a Região Metropolitana de São Paulo, que inclui o Grande ABC. O número representa quase 10% de toda a população do Estado.
- 63,5% dos idosos são as pessoas de referência na família, ou seja, a contribuição deles é fundamental para o sustento dos familiares.
- 44% das pessoas com mais de 60 anos vivem em famílias com rendimento mensal per capita baixo, de meio a dois salários mínimos.
- Quase 60% dos idosos têm filhos e parentes próximos ou moram com os demais familiares na mesma residência. 27% moram apenas com o cônjuge e outros 14%, sozinhos.
- Pouco mais da metade dos idosos da Grande São Paulo recebe aposentadoria.
- 20% das pessoas com mais de 60 anos ainda trabalham, a maioria homens de até 64 anos.

- Só 20% dos idosos da Região Metropolitana continuaram os estudos depois de concluir os oito anos de ensino fundamental (antigos primário e ginásio). Outros 20% são analfabetos funcionais.




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