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Metalúrgicos de Santo André protestam contra taxa de juros
Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
Com AE
20/04/2005 | 12:20
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Cerca de 1,8 mil metalúrgicos protestaram terça-feira em Santo André e Mauá contra a alta taxa de juros Selic, no primeiro dia de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) para definição da nova taxa, que será anunciada nesta quarta-feira. A manifestação, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, filiado à Força Sindical, aconteceu em frente a Phillips, Fundição Tupy e empresas do Pólo de Sertãozinho, em Mauá, e atrasou a entrada dos funcionários entre 20 e 30 minutos, segundo o presidente do sindicato, Cícero Martinha Firmino da Silva.

As ações no Grande ABC fazem parte de uma série de atos organizados pela Força Sindical em toda a Grande São Paulo contra a política do BC de continuar aumentando a taxa de juros – hoje em 19,25% ao ano. Essa foi a primeira vez que o Grande ABC entrou na rota de protestos contra os juros altos – a Força já organiza protestos há três meses consecutivos durante reuniões do Copom.

O próprio ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, defendeu terça-feira o fim da escalada dos juros, com a manutenção da taxa em 19,25% até pelo menos dezembro deste ano. “Acho que isso seria razoável para sinalizar o encerramento do ciclo de altas”, afirmou o ministro, após divulgar os dados sobre a criação de empregos formais em março, que mostraram queda na comparação com o ano passado tanto no mês (4,84%) quanto no trimestre (15,88%).

A Força Sindical programa para esta quarta-feira uma passeata em São Paulo com cerca de 2 mil pessoas que começará na estação Paraíso do metrô, em São Paulo, e será encerrada com uma manifestação em frente à sede do BC na cidade, na avenida Paulista. Segundo Martinha, que também integra a executiva nacional da central, dois ônibus com trabalhadores e sindicalistas sairão do Grande ABC.

“Vamos dar continuidade a esses protestos na região nos próximos meses, seguindo a orientação da Força Sindical. Queremos mostrar à população nossa posição contrária à alta na taxa de juros, que está inviabilizando pouco a pouco o crescimento da economia brasileira”, afirmou o sindicalista.

Para João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, os atos também têm como objetivo tornar pública a discussão sobre a política de juros do BC. “Queremos popularizar a questão dos juros. Queremos que toda a sociedade participe desse processo, avaliando a situação em que vivemos. Os juros praticados no Brasil são uma aberração”, disse.

Críticas – Berzoini criticou a política monetária do governo federal e defendeu mudanças nas metas de inflação. Para o ministro, a eficácia da elevação dos juros como instrumento de controle da taxa de inflação é limitada porque “cerca de um quarto dos índices inflacionários” é determinado por tarifas públicas, petróleo e commodities - como é o caso do aço. “São fatores que não estão sob o nosso controle”, afirmou.

Apesar da defesa intransigente que a equipe econômica faz do sistema de metas de inflação – que norteia as decisões sobre a fixação de juros pelo Banco Central –, o ministro afirmou que vê espaço dentro do governo para debater o tema, pois em última instância quem dá a palavra final é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A equipe econômica tende a ser conservadora para não passar um sinal de muita flexibilidade”, argumentou o ministro Berzoini.

Revisão – O ministro defendeu uma revisão das metas de inflação. Ele quer uma meta mais alta – que não especificou – ou, então, que a referência passe a ser uma taxa de inflação calculada apenas com base na evolução dos preços livres da economia, desconsiderando o reflexo das tarifas administradas ou a influência de preços externos.

“Se olharmos os preços livres, eles estão bastante comportados”, disse o ministro. Ele reconheceu que é importante o combate à inflação, mas destacou que isso deve ser feito “reconhecendo-se também a realidade”.



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