Dezessete anos depois do lançamento de um belo registro acerca do Rio Amazonas, as editoras Bocatto e Gaia reeditam Amazonas, Pátria da Água (164 páginas, R$ 148), obra que mescla imagens do fotógrafo carioca Luiz Claudio Marigo e textos e versos do poeta Thiago de Mello, 82 anos, natural de Barreirinhas, cidade às margens do Rio Paraná do Ramos, afluente de maior comprimento do Amazonas. O poeta vive lá desde que voltou do exílio depois do fim do período militar.

Se em 1991 o cenário de devastação já preocupava, hoje as conseqüências do desequilíbrio são ainda mais gritantes. "É preciso ouvir a terrível advertência: o mesmo calor que já derrete os gelos da Antártida e as neves dos Andes, que eram eternas, ameaça transformar a nossa floresta numa savana desolada. O relatório do Painel Internacional de Mudanças Climáticas das Nações Unidas não usa metáforas: a floresta vai secar", diz o poeta na nova apresentação, escrita no ano passado.

A reedição mantém a organização original dos textos. São quatro grandes partes em que o escritor aborda, com estilo delicioso, diferentes aspectos da região, misturando prosa e poesias de temas afins. Entre cada bloco, fotografias de Marigo, especialista em natureza.

A primeira parte é histórica e explora a formação das comunidades. Na seqüência, o poeta faz uma análise sobre os primórdios da exploração comercial da madeira e da borracha. O terceiro capítulo é dedicado às lendas e outros aspectos do folclore alimentado por histórias do rio e da floresta.

No último capítulo, centrado nas populações ribeirinhas e indígenas, o autor aproveita para montar um panorama da devastação e cita pesquisadores que afirmam ainda haver tempo de salvar rio e floresta. A edição é bilíngüe e vem com glossário bastante útil, principalmente para expressões locais. O prefácio é do jornalista e cronista esportivo Armando Nogueira.