Cultura & Lazer Titulo Quadrinhos
Desventuras de
um zumbi brasileiro

Quadrinista Daniel Og aposta em temática inusitada com
a HQ 'Yuri - Quarta-Feira de Cinzas', da Conrad Editora

Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
27/02/2012 | 07:02
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Todo o mundo conhece o Rio de Janeiro das belas praias, mulheres bonitas e repleto da alegria movida pelo Carnaval. Justamente por querer fugir desse ponto de vista comum da Cidade Maravilhosa que o quadrinista Daniel Og aposta em temática completamente inusitada com 'Yuri - Quarta-Feira de Cinzas' (Conrad Editora, 272 páginas, R$ 36 em média). Em seu trabalho de estreia, ele faz piadas ácidas sobre a maior festa popular nacional e mistura figuras típicas desse universo com um personagem sobrenatural genuinamento brasileiro.

A história em quadrinhos apresenta a bizarra saga de Yuri, jovem que desperta do mundo dos mortos na Segunda-Feira de Carnaval e tenta retomar sua vida normalmente. Na medida em que a trama revela detalhes do cotidiano do rapaz, o leitor acompanha a jornada do protagonista em busca do motivo de não poder morrer.

Em meio à onda do retorno dos mortos-vivos ao universo pop, o autor quis aproveitar o momento. "Queria fazer meu projeto de terror, mas tudo foi se modificando com o tempo. O horror foi ficando de lado e parti mais para esse tipo de crítica escrachada", explica o quadrinista, que levou cinco anos para finalizar todo o projeto em preto e branco e com traços minimalistas.

Fã dos contos de Zé do Caixão e de filmes como 'Extermínio' (2002), de Danny Boyle, percebeu na Folia material interessante o bastante para servir de pano de fundo para a HQ. "Resolvi fazer a história do zumbi no Brasil e tudo o que pensava caía em lugar comum. Vi que não havia quase nada feito em relação ao Carnaval e quis aproveitar dessa situação óbvia para o brasileiro", diz. "Até fico pensando se era algo proibido e que acabei quebrando uma regra", brinca o carioca.

LONGE DA FARRA

Og não é grande fã da festa e da farra carnavalesca - mas afirma não ser contra o divertimento. Ele recorda que durante o processo de elaboração do quadrinho estava cansado demais do oba-oba. O ponto de vista "raivoso" de então resultou no ódio que Yuri guarda pelo evento, de que ele simplesmente não quer participar e se vê obrigado a fazê-lo a todo o momento. Ao se deparar com foliões, crentes, cabrochas, malandros e, até mesmo, o Rei Momo, o morto-vivo irá dizer o que muitas pessoas que odeiam a Folia gostariam de gritar em alto e bom som.

Mas o autor faz questão de lembrar que sua espécie de alter-ego deve ser observada com desconfiança. "Eu não levo o Yuri a sério e tenho medo que alguém o leve. Ele não é um herói. Pelo contrário. Uma de suas poucas qualidade é que ele tem razão sobre alguns pontos e muitas confusões vêm a partir disso", afirma.

O ponto de equilíbrio das angústias do protagonista está em seu novo amigo Andrei, que também não é nenhum santo. A grande diversão do livro está justamente em tentar descobrir qual visão irá vencer no fim das páginas.

Entre brigas, roubos, palavrões e uma procissão, a HQ assume o papel de "um cartão-postal que não foi feito para inglês ver", como diz o cartunista Allan Sieber no prefácio da obra.




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