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Medicina do ABC terá horto medicinal
Por Christiano Carvalho
Do Diário do Grande ABC
26/10/2002 | 17:00
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Com a comprovação da existência de propriedades terapêuticas de um número cada vez maior de plantas, a fitoterapia ganha lugar privilegiado nos meios científicos. Na Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André, um horto de plantas medicinais é o mais novo trunfo para incrementar as atividades práticas do curso de Ciências Farmacêuticas.

Além de auxiliar os estudos dos universitários, o projeto vai permitir que a partir do ano que vem os alunos produzam medicamentos fitoterápicos, como xarope de guaco (contra tosse), que serão prescritos nos ambulatórios da instituição e distribuídos gratuitamente na Farmácia-Escola.

O complexo do horto é formado pela Casa de Vegetação, uma estufa de 600 metros quadrados, e por um canteiro com 1,5 mil m² ao seu redor. O local conta inicialmente com cerca de 850 exemplares de 25 espécies diferentes. Segundo o professor de Farmacobotânica e responsável pelo horto, José Armando Júnior, parte das plantas foi comprada no Ceagesp, na capital, e o restante cedido pelo Depav (Departamento de Parques e Áreas Verdes) da Prefeitura de Santo André e pelo Cepagri (Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura) da Unicamp (Universidade de Campinas).

“As plantas medicinais estão tendo um boom. Em um país como o nosso, em que há muita pobreza, sai mais barato investir na extração do princípio ativo do que em síntese (modificação de substâncias orgânicas)”, disse a coordenadora do curso de Ciências Farmacêuticas, Registila Beltrame. À propósito, o Brasil é riquíssimo em plantas medicinais: detém em torno de 25% da biodiversidade vegetal do mundo.

Apesar de a inauguração oficial do complexo estar prevista para o início de novembro, os oito alunos de Ciências Farmacêuticas que ficaram encarregados pela sua manutenção já visitam o local diariamente. Eles se revezam para regar as plantas e dispensar outros cuidados. “Também medimos as plantas para acompanhar o crescimento”, disse a aluna do 1º ano, Tatiana Barranco Pezente. “Temos um projeto de formar um núcleo de estudos fitoterápicos”, acrescentou João Roberto Beltramo, do 2º ano.

Segundo Armando Júnior, outros cursos de Farmácia não oferecem a prática de plantas medicinais seja porque não têm espaço físico para montar um horto ou por falta de tempo dos professores, que, em geral, lecionam em várias instituições. O herbário e suas espécies serão aproveitados em quatro disciplinas: Farmacobotânica, no 1º ano; Farmacognosia (estudo do princípio ativo), no 3º ano; Farmacotécnica, nos 2º e 3º anos; e Cosmetologia, no 4º ano.

Os estudantes já se utilizam das plantas para montar lâminas de microscópio. “Eles fazem cortes e põem corantes para ver as estruturas. Muitos alunos moram em apartamentos e não têm contato com plantas medicinais, mas apenas ornamentais”, diz a professora de Farmacognosia Andrea de Andrade Ruggiero. Ela explica que em cada espécie as substâncias com propriedades medicinais são extraídas de uma parte específica, como flor, fruto, óleo essencial, bulbo, raiz e semente.

Entre as espécies cultivadas no horto estão o capim-limão, alecrim, hortelã, guaco, tomate, poejo (possui a capsaicina, substância vaso-constritora), alfazema, babosa, camomila e boldo. “A hortelã é vermífugo e carminativo (antiflatulência). Já o princípio ativo do tomate é o licopênio, que inibe o hipertrofiamento da próstata. Em breve teremos plantas alucinógenas e tóxicas para mostrar a diferença com as demais”, revela o professor Armando Júnior.




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