Ex-parlamentar e pré-candidato a prefeito de Santo André pelo PSDB, Paulinho Serra avaliou que, com o possível impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), os candidatos petistas no Grande ABC sentirão reflexo negativo do afastamento durante a campanha de outubro. Segundo o tucano, dentro de nova perspectiva na economia e cenário político estável, o País retoma a esperança e volta a crescer. “Não tenho dúvida que o PT pagará preço alto por ter errado a fórmula de gestão no Brasil e na cidade.”

Paulinho frisou que o panorama tem impacto direto nas três cidades (Santo André, São Bernardo e Mauá) hoje comandadas pelo petismo. Ele citou que o motivo das crises tanto no âmbito federal quanto nos municípios é semelhante. “As causas são similares. O caso de Santo André é o mais grave, pois vem há mais de uma década de modelo equivocado. Nos últimos 14 anos, infelizmente, com a morte do prefeito Celso Daniel (PT, morto em 2002), a cidade perdeu o rumo do desenvolvimento econômico.”

Sobre a retomada das investigações da morte de Celso Daniel, com a operação Carbono 14, o tucano foi ponderado e adotou tom de cautela. Segundo Paulinho, há muitas opiniões divergentes, dentro e fora do partido, inclusive entre deputados. “No próprio PSDB existem opiniões das mais variadas. A Justiça tem que prevalecer e a Justiça precisa se pronunciar.”

Confira a entrevista completa:

A taxa de desemprego no Grande ABC chegou a 16,7% em março, o maior percentual para o mês desde 2005. A Prefeitura tem como atuar num cenário difícil atual?
É questão de implantar novo modelo de gestão. Seria a única saída para a cidade recuperar sua capacidade de investimento e financiamento. Nesta questão da fórmula, nós temos de adotar linhas de atuação: a primeira tem ligação direta com a queda da atividade econômica, que, consequentemente, leva a taxa de desemprego ao maior percentual. Retomar a geração de emprego e renda é fundamental.

Como aplicar isso na cidade diante de cenário desfavorável na economia?
Temos vantagens comparativas em três aspectos. A localização geográfica, entre o fim do Porto de Santos e o Rodoanel, mão de obra qualificada, que continua sendo gerada, mas hoje não aproveitada, tanto que 37% da população economicamente ativa da cidade trabalha fora de Santo André. Temos UFABC, Fatecs, Etecs, Senai. Terceiro ponto é área disponível. Mais de 5 milhões de metros quadrados de áreas disponíveis para implementação industrial e comercial. Cabe ao poder público coordenar isso tudo. Implantar força-tarefa e fazer legislação de incentivo tributário, que não é greve fiscal.

Sendo que faltam recursos hoje na Prefeitura é possível reduzir a carga tributária?
Sim. Emprego e renda não voltam do dia para a noite. É grande esforço, não é em curto prazo. Mas o que dá para fazer em curtíssimo prazo, desde o primeiro dia de governo, é reduzir gastos. Choque de gestão, enxugar a máquina de forma austera, porque o dinheiro começa a sobrar. Para que 21 secretarias? Nossa ideia é adequar entre 12 e 15. Modelo do PT de inchar a máquina não cabe. A diminuição das secretarias faz a gente economizar cerca de R$ 5 milhões logo no primeiro mês de governo, em uma canetada. Não dá para prometer nada sem mudar a forma de financiamento e fazer choque de gestão. Se falar é mentira. É a pior crise no município, provocada por modelo equivocado do PT.

Qual é o modelo e erro atualmente cometido pela gestão?
O Partido dos Trabalhadores foi o partido que mais demitiu na nossa cidade e no País. É modelo de inchar a máquina, deixá-la muito pesada e aumentar tributo para cobrir o tamanho da máquina, sem produtividade. Deixou de plantar. No seu nome é o Partido dos Trabalhadores, mas esqueceu do desenvolvimento econômico. Cobrir o inchaço de máquina pesada e cara com elevação de tributo se esgotou, não cabe na realidade de hoje. Não tem como aumentar mais a carga tributária.

O sr. considera que possível afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) vai ter influência nas eleições municipais?
Acredito que candidatos do PT vão sentir reflexo durante a campanha, principalmente porque avalio que o País volta a respirar com o afastamento. O Brasil precisa de perspectiva. A perspectiva econômica está ligada diretamente à instabilidade política. Dentro de nova perspectiva e cenário político favorável e estável, com credibilidade, a economia volta a respirar. Se retoma essa esperança e o País volta a crescer, eu não tenho dúvida que o PT pagará preço alto por ter errado a fórmula de gestão no Brasil e na cidade.

Esse cenário caberia nas três cidades que o PT comanda no Grande ABC (Santo André, São Bernardo e Mauá)?
Cabe nos três municípios porque as crises são parecidas. As causas são similares. O caso de Santo André é o mais grave, pois vem há mais de uma década de modelo equivocado. As gestões aqui foram muito semelhantes, apesar do revezamento de partidos (na Prefeitura). O modelo petista está equivocado, mas a falta de modelo do ex-prefeito Aidan (Ravin, PSB) também afetou. Precisa de mudança radical. A sociedade, finalmente, percebeu que a política pode piorar ou melhorar a vida dela. A piora na qualidade de vida, por exemplo, com a reeleição da Dilma após mentir na campanha, e está pagando preço alto por isso, é prova disso.

Qual o preço que Santo André paga pela sequência deste modelo?
É a cidade com a maior crise financeira da Região Metropolitana de São Paulo, a que mais empobreceu. Desde 2012, a arrecadação por habitante é menor do que a de Diadema. Nossa cidade já foi a 15ª mais rica do Brasil. Hoje perdeu posições e é a 27ª. Isso porque os governos não plantaram. É ciclo que se fecha. A gente vê o que acontece no País e é bem parecido. Só que aqui a inversão pode ser mais rápida e possível do que no âmbito nacional. Nos últimos 14 anos, infelizmente, com a morte do prefeito Celso Daniel (PT, morto em 2002), a cidade perdeu o rumo do desenvolvimento econômico.

Qual a sua avaliação sobre a 27ª fase da Operação Lava Jato, denominada Carbono 14 (em que o dono do Diário, o empresário Ronan Maria Pinto, foi detido)?
É assunto que já se ouviu diversas opiniões e decisões. Até mesmo dentro do PSDB. Todo o enredo que envolve a investigação. O posicionamento que um ou outro pode ter não muda o rumo da investigação, é caso que a Justiça tem de prevalecer e a Justiça precisa se pronunciar. Apesar de envolver diretamente a nossa cidade e trazer à tona episódio triste não só administrativo, mas que envolve pessoas de Santo André, é investigação que a sociedade não tem participação direta e influência, assim como as opiniões. A Justiça é quem tem de se pronunciar e precisa prevalecer.

Há elementos que justifiquem retomar investigação neste momento sobre a morte do Celso Daniel?
É assunto amplamente investigado e divulgado. Há opiniões e decisões de todos os tipos. A Justiça precisa se pronunciar sobre isso. Essa é a minha avaliação. A Polícia Civil do Estado de São Paulo teve uma conclusão. Se a Justiça corroborar com essa decisão é o caminho que deve seguir. Pela gravidade e complexidade do caso não vejo que opiniões, quer políticas ou apolíticas, podem alterar a realidade. Temos que olhar para frente. Há coisas que podemos mudar em Santo André e outras que estão fora do nosso domínio.

Como o PSDB se posiciona quanto a isso? Há algum tipo de consenso sobre o caso?
No PSDB existem opiniões das mais variadas. Respeitamos as opiniões, mas há posturas muito divergentes, no meio político, dentro ou fora do partido. Existem várias versões que são, inclusive, de conhecimento público. De novo, na minha opinião, a Justiça é quem tem que se pronunciar. Não vamos cometer irresponsabilidade de opinar sobre caso tão complexo.