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Chance de recomeçar

Adolescentes internos da Fundação Casa de Santo André têm oportunidade de se formarem pizzaiolos

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/11/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


O aprendizado de um novo ofício é uma das apostas da Fundação Casa na tarefa de ressocializar menores infratores. Na unidade 2 de Santo André, 20 dos 64 internos que cumprem medida socioeducativa têm oportunidade de se profissionalizar como pizzaiolo desde o início do ano.

As aulas diárias, fornecidas mediante parceria com a Associação Horizontes, ocorrem no período da tarde, já que pela manhã os jovens recebem o ensino formal. A professora orienta, mas são os internos que colocam a mão na massa. Entre as técnicas aprendidas estão desde o preparo dos discos de pizza, molho e os diversos tipos de recheio até o trato com o cliente. A ideia é que os menores infratores saiam da Fundação Casa preparados para o mercado de trabalho, inclusive com certificado.

A atividade já está entre as preferidas dos jovens, que se dedicam e sonham com mudança de vida. Um interno de Diadema, que acabou de completar 18 anos, está entre os alunos mais aplicados. Ele, que cumpre medida por ter se envolvido com o tráfico de drogas, está perto de concluir seu período de internação, após um ano e um mês. “Eu escolhi o curso de pizzaiolo (a unidade também oferece formação em áreas como eletricista, jardineiro) porque o meu cunhado tem uma pizzaria e eu poderei trabalhar lá. Além disso, também posso fazer uma pizza ou uma massa no final de semana em casa para receber os amigos e familiares”, disse.

Esta é a segunda passagem do morador de Diadema pela Fundação Casa, mas é a primeira vez que ele fica privado da liberdade. Aos 16 anos, o interno cumpriu seis meses de medida no regime semiaberto. A reincidência, segundo ele, foi motivada pela gravidez da namorada e a necessidade de ter dinheiro. “Eu fui fazer um ‘serviço’ e, infelizmente, fui pego. Foi aí que eu me desesperei, porque a minha filha tem nove meses e eu ainda não a conheço. Eu não quero ser um marginal, quero que ela tenha orgulho do pai”, contou emocionado.

Nervoso com o fato de estar prestes a voltar para casa e recomeçar sua vida, o menor confessa que a única coisa que o acalma é participar das aulas de pizzaiolo. “Durante todo o tempo que fiquei aqui, parei para pensar e, agora, sou uma nova pessoa. Tenho uma família e quero ter um emprego. Aprendi que a gente tem de conquistar as coisas aos poucos, porque se for de um jeito rápido é errado”, afirmou.

Para outro adolescente, de 17 anos, que cumpre medida socioeducativa há seis meses, o curso de pizzaiolo despertou o sonho de abrir uma pizzaria. Preso por roubo, ele evita lembrar dos erros cometidos. “Eu tive o maior desacerto no dia (de sua apreensão), coisa errada mesmo. Mas agora eu parei com isso. Nunca passei necessidade, entrei nisso pela emoção mesmo. Na minha casa nunca faltou nada. Eu errei e estou pagando pelo meu erro”, disse.

Morador da Zona Leste, na Capital, o interno confessou que nunca tinha cozinhado antes, e que foi a psicóloga da Fundação Casa que o orientou a escolher pela formação de pizzaiolo. No entanto, assim que começou a aprender a preparar as massas, se apaixonou pelo ofício. “Parei de estudar no 7º ano (do Ensino Fundamental) e continuei aqui. Assim que sair (daqui um ano) vou atrás de uma formação e também quero fazer uma faculdade. É vida nova daqui para frente.”

Natural de Heliópolis, na Zona Sul da Capital, e com 18 anos, outro adolescente que participa da formação destaca que tem mais quatro irmãos em casa e que a mãe está grávida de mais uma menina, o que fez com que o desespero batesse na sua porta. Ele foi apreendido em flagrante por roubo de veículo. “Eu fazia algumas entregas de salgados, mas me dispensaram. Como eu conhecia um pessoal que trabalhava no desmanche, entrei nesta vida. Acabei sendo pego e deixei a minha família na mão”, lamentou.

Somente a mãe vem visitá-lo. Inclusive, ela já participou de uma das aulas do curso de pizzaiolo com ele. “Eu aprendi muita coisa, mas a maior delas é que o crime não compensa. Ou você vai preso ou sai morto. É um sofrimento ver a minha mãe me visitar aqui. Ela já até arrumou um trabalho numa padaria para mim. Não quero mais decepcioná-la.”




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