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Aos 72 anos, romeiro vai a pé à cidade de Aparecida

Peregrinação de 191 quilômetros é feita pelo senhor Antônio Maurício, de Mauá, há 22 anos ininterruptos

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
08/10/2015 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Um caminho de 191 quilômetros, trilhado com amor e muita fé. Essa é a distância que o padeiro aposentado Antônio Maurício, 72 anos, percorre ininterruptamente há 22 deles, ao sair de Mauá, onde mora, rumo ao Santuário Nacional de Aparecida, no Vale do Paraíba, interior do Estado, tido como o maior templo do mundo dedicado a Maria, mãe de Deus na fé católica. Um fato simples, se não fosse por um detalhe: ele vai a pé. O trajeto, iniciado às 8h de ontem no Jardim Sônia Maria, bairro em que vive, será concluído no domingo, por volta das 14h.

Há duas décadas, em todo outubro – mês em que é celebrado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, no dia 12 – seu Antônio peregrina à Basílica, junto a centenas de romeiros da região. Desta vez, por exemplo, foram 250 pessoas.

Seu Antônio faz a viagem a caráter: os destaques vão para o chapéu com a imagem da santa e dezenas de fitas coloridas, além do tênis azul que remete à cor do manto da padroeira.

A primeira caminhada ocorreu em 1988 para agradecer a recuperação de um acidente de trabalho sofrido pelo primo de segundo grau, Benedito da Silva Lemes, 63, conhecido como Ditinho da Congada, de São Bernardo. O teto de um Fusca escapou da máquina que Ditinho operava na montadora Volkswagen e feriu gravemente seu pé esquerdo. “Passado um ano do ocorrido, o Antônio perguntou se eu estava bem, pois tinha feito uma promessa: irmos a Aparecida a pé”, contou.

Ditinho foi só naquela ocasião. “Tive alguns problemas de saúde, mas tenho vontade de ir novamente”, falou ele, que acompanhou, emocionado, a partida do primo ontem e no domingo irá até Aparecida para recebê-lo.

Seu Antônio retomou a peregrinação em 1993 e, por três anos, ela foi solitária. Embora casado com dona Irene Sales Ribeiro, 62, como toda boa mãe, ela fica em casa para cuidar dos dois filhos, hoje com 21 e 23 anos. “Dormia embaixo de árvore, em borracharia, no chão de casa abandonada, posto de gasolina. Agora agradeço a Deus por ter condições de pagar hotel”, falou. Os gastos com hospedagem e alimentação ficam em torno de R$ 600.

Três ônibus de apoio levam as malas, água e frutas para os romeiros. Nas costas, seu Antônio carrega uma pequena mochila com remédios (só por precaução, pois não faz uso de nenhum medicamento), curativos e capa de chuva. Nas mãos, vão um terço e um cajado para dar apoio à caminhada. “Essa madeira saiu do Rio Paraíba (onde a imagem de Nossa Senhora foi encontrada em outubro de 1717), é sagrada”, contou, orgulhoso.

Até domingo serão 50 quilômetros de caminhada por dia, o equivalente a 12 horas. Dor nas pernas, nos pés e na coluna? Ele garantiu não sentir nada. “Até danço quando chego lá. O maior milagre de Nossa Senhora para mim foi me dar essa resistência para poder levar a palavra de Jesus e Maria”, destacou.

O retorno ao Grande ABC é feito de ônibus ou junto aos parentes que vão encontrar os peregrinos. Os romeiros do grupo regressam no próprio domingo, menos seu Antônio: “Gosto de ficar para o encerramento da novena, no dia 12 (segunda-feira)”, justificou.

“Enquanto Nossa Senhora Aparecida permitir, farei a pé a caminhada ao Santuário”, ressaltou, ousando ainda mais: “Quero ir de Tambaú (no interior paulista) a Aparecida, o chamado Caminho da Fé, porque havia um padre em Tambaú (chamado Donizetti Tavares de Lima, devoto de Nossa Senhora e morto em 1961) que curava muitas pessoas. Até 2017 vou fazer essa caminhada”, projetou.

 




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