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Gravadoras se unem em prol da diversidade
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
17/08/2005 | 08:55
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A gravadora Biscoito Fino, que agitou o mercado fonográfico na semana passada ao anunciar a contratação de Chico Buarque para seu próximo disco de inéditas, agora faz uma nova investida. A casa carioca, de Olivia Hime (mulher de Francis Hime) e Kati Almeida, assinou parceria com o selo Pau Brasil, do baixista Rodolfo Stroeter. O primeiro resultado desse casamento é o disco 2005, da banda Pau Brasil. De Chico ainda será lançado um disco ao vivo e um DVD.

A princípio, a empreitada pode até parecer despretensiosa, mas numa análise mais ampla do mercado, não dá para negar que a BF, com cinco anos de existência, impõe-se como uma promissora força em prol da música brasileira de qualidade.

O casamento, juram as duas partes, ocorreu de forma natural. "A Biscoito Fino assinaria tudo o que a Pau Brasil faz e vice-versa. Há uma identidade musical", diz Olivia Hime, há tempos amiga e colega de profissão de Stroeter. "Acho bárbaro. A Eldorado era ótima parceira, mas depois que fechou, me senti meio sozinho. E é muito chato trabalhar sozinho", afirma o baixista.

Essencial dizer que não se trata de uma fusão. Cada gravadora terá seu próprio catálogo, sua independência nas contratações e a Biscoito Fino, que já controla todo o esquema de distribuição, será a encarregada de levar os produtos da Pau Brasil para todo o Brasil e exterior, junto com suas próprias crias. Não é nada que demande grande esforço extra ou que obrigue a empresa a sair da rota que já vinha mantendo. Fora isso, ajudará na divulgação e na troca de idéias.

A aliança é estratégica. Principalmente porque a sede da Biscoito Fino fica no Rio e a da Pau Brasil, em São Paulo. "Estou empenhada em me estabelecer mais aqui", diz Olivia, de olho no grande potencial do mercado paulista.

Não é à toa. Outra investida que pôs a Biscoito Fino na ordem do dia foi a recém-firmada parceria com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), por meio da qual a gravadora lançará três CDs com cinco sinfonias de Beethoven (1, 2, 4, 8 e 9) e duas aberturas (Egmont e Coriolano). O disco que traz as sinfonias 1 e 4 mais Coriolano é um relançamento do CD editado em 2000, pelo selo Osesp. O pacote deve contar ainda com o lançamento do registro que a orquestra fez no ano passado com a banda Mantiqueira e a cantora Luciana Souza, além do relançamento do primeiro disco da Sinfônica com a Mantiqueira.

A Biscoito Fino tem a licença desses discos, mas não dos que exibem a chancela da sueca Bis (os de Camargo Guarnieri e Francisco Mignone). "Só lanço aquilo que escolho do catálogo deles. Não quis, por exemplo, ficar com os hinos brasileiros, mas acho lindas as sinfonias de Beethoven", diz Olivia. Antes, os álbuns da Osesp só podiam ser encontrados na própria Sala São Paulo, sede do grupo musical.

Da mesma forma, Olivia pinça o que quer do catálogo dos parceiros. Com o selo Jobim, por exemplo, lançou Em Minas ao Vivo Piano e Voz, de Tom Jobim; com o Quitanda, Brasileirinho, de Maria Bethânia (CD e DVD), mais dois títulos. E com o Quelé, quatro títulos de samba. Além desses, tem o selo Biscoitinho, por enquanto só com Samba pras Crianças.

Nenhum desses álbuns, por mais que vendam, se comparam aos blockbusters das grandes gravadoras. Segundo Olivia, a vendagem depende do artista: "Se Maria Bethânia vender menos de 100 mil, eu choro". Mas há projetos em que a expectativa pode nem passar dos 10 mil.

Chico Buarque – Estouro mesmo promete ser o disco de Chico Buarque, que deve sair no fim deste ano ou início de 2006. "Qualquer depoimento meu nesse sentido será vazio de conteúdo. Não tenho a menor idéia do que ele pretende fazer", avisa. Sobre uma eventual retomada da parceria entre Chico e seu marido Francis (que fizeram músicas famosíssimas, como Meu Caro Amigo e Vai Passar), Olivia não confirma nem descarta. Com um sorrisinho, diz: "Parceria é coisa circunstancial".

Ela comenta que a ida de Chico para a Biscoito Fino foi muito natural. "Não houve uma forçada de barra", garante. Ela explica que o cantor já havia participado de discos na casa, que é padrinho de sua filha Luíza e parente distante de sua sócia, Kati, com quem fechou o contrato.

Com a Pau Brasil, a Biscoito Fino relançará o trabalho de outro medalhão, Gilberto Gil. É o disco Sol de Oslo, gravado em 1994 e lançado em 1998, que deverá chegar ao mercado com duas faixas bônus inéditas. Uma delas é Músico Simples, que Gil compôs para Johnny Alf. "É sobre um sonho que Johnny teve, em que estava numa boate e tocava acordeom. É uma balada linda", diz Stroeter. A outra é Vatapá, que o percussionista indiano Gurtu compôs, ainda inebriado com a paisagem de Oslo (Noruega). Outra idéia surgiu durante a entrevista: "Tenho gravações em áudio do making of desse disco", diz o baixista. "Vamos colocar. Isso não terá um custo a mais para mim", responde imediatamente Olivia, completando que isso poderia ocupar a última faixa, para não interromper a seqüência das músicas. Notícia em primeira mão.

Estaria a Biscoito Fino rompendo as cercas do latifúndio das majors junto com outras gravadoras pequenas, nacionais e que primam pela qualidade de seus produtos? "Parece a mim e à torcida do Flamengo que as independentes estão trabalhando ecologicamente, salvando a diversidade. Porque as grandes gravadoras vêm e dizem: ‘Vamos plantar mandioca! Depois, vamos plantar milho! E acabam com a terra".




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