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Via Crucis de Mauá é a Saúde
Por William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
11/04/2009 | 07:11
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O sistema público de Saúde tem submetido a população de Mauá a uma via-crúcis ao longo dos últimos anos. As tribulações às quais são submetidos os moradores da cidade têm várias estações e um ponto final em comum: a esperança de que um dia a situação melhore. O Diário percorreu UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e hospitais durante a Semana Santa e encontrou dor, sofrimento e agonia. Nada diferente do que acontece no restante do ano.

Recostada no banco de concreto com as três filhas (10, 5 e 2 anos), a dona de casa Daiane Palmeira, 27, suspeitava que uma bronquite houvesse afetado toda a família. Uma suspeita que ganhava força na tosse das crianças, havia uma hora agarradas à mãe à espera de atendimento.

Ela se sentia traída pelos governantes de forma geral, em quem um dia ainda depositou alguma confiança, como se partilhassem de fato de seus problemas. Foi taxativa sobre declarações que ouviu aqui e ali, sem que as soluções fossem apontadas. Deixou de lado o jeito resignado ao criticar quem lava as mãos. "É uma palhaçada, uma falta de respeito."

A empregada doméstica Maria Ângela de Barros, 62, distribuía panfletos de sua igreja nas proximidades da UBS São João. "Vacinada", nem atendimento buscava ali. Ela esperou durante um ano até que fosse recebida na UBS Itapark, no ano passado.

Na ocasião, a médica afirmou que a doméstica tinha varizes internas. Recomendou um ultrassom e pediu para que passasse por um ortopedista. Oito meses depois, não conseguiu a atenção para nenhuma das duas coisas. Ainda mantém a fé, mas já perdeu a paciência. "Estamos jogados às traças", disse a empregada doméstica.

Um casal de idosos dividia os poucos confortáveis assentos na mesma UBS São João. A aposentada Joana Alves, 68, sentia tonturas e dizia estar com a pressão alta. Socorreu-se no marido, Lileo Nogueira, 78, e era mais uma na fila de mais de duas horas à espera de ajuda. "Se não conseguir passar por um médico, vou buscar ajuda com a minha filha, em Santo André. Aqui, só pela misericórdia", explicou.

À mercê das três horas de espera no Hospital Doutor Radamés Nardini, as dores de Maria de Lourdes Nogueira, 59, se acumulavam. Levou um tombo na semana passada, e já havia tentado atendimento na unidade hospitalar anteriormente. Na ocasião, o desânimo veio depois de preencher ficha às 13h08 e permanecer até as 17h sem socorro, quando foi embora. "Iria na Santa Casa, se fosse aberto o atendimento ao SUS (Sistema Único de Saúde)."

Uma ressonância magnética que nunca aconteceu impedia o correto diagnóstico para os problemas de joelho de Jorge de Jesus, 49. Sem esperanças de encontrar acolhida em seu município, buscou ajuda no Hospital São Lucas, em Ribeirão Pires. "Quero apenas passar por um médico que me receite remédios para aliviar a dor", lamentava.




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