Setecidades Titulo Mais do mesmo
Laudo do IC só reforça Falcão Bauer

Documento sobre queda do Edifício Senador, em São
Bernardo, também não aponta os culpados do acidente

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
11/09/2012 | 07:00
Compartilhar notícia


Divulgado ontem, o laudo do IC (Instituto de Criminalística) sobre o desabamento de parte da laje do Edifício Senador, obtido com exclusividade pelo Diário, apenas reiterou as informações divulgadas anteriormente pela Falcão Bauer, empresa contratada pela Prefeitura para fazer análise, e o CAEx (Centro de Apoio à Execução), órgão que presta assessoria técnica ao MP (Ministério Público).

O inquérito criminal tocado pela Polícia Civil, assim como o civil do MP, continuam sem indícios que responsabilizem alguém pelo acidente do dia 6 de fevereiro, apesar das causas do acidente estarem totalmente esclarecidas (veja ao lado). Havia a expectativa de que o IC apontasse negligência por parte dos responsáveis.

Segundo o delegado Victor Vasconcellos Lutti, titular do 1º DP (Centro) da cidade, responsável pelo inquérito, apesar do problema das vigas inadequadas ter sido da época da construção do prédio, no início dos anos 1970, alguns pontos permanecem abertos mesmo com o laudo. Ele cita como exemplo o uso de macaco hidráulico para colocação de consolo de sustentação no local afetado.

"O laudo traz vários detalhes sobre o que ocorreu no local. Vamos analisar tudo com calma, mas algumas coisas não batem", disse. Assim como o MP, a polícia vai atrás de outras fontes para prosseguimento das investigações, como atas antigas de vistorias da Prefeitura e do processo de construção do edifício na época.

Se os peritos em engenharia do IC completaram o que a Falcão Bauer já havia divulgado, o núcleo de Física, da Capital, não foi além de confirmar o que a empresa contratada pela Prefeitura atestou. E chega a dizer, no documento, que sequer abriu as embalagens com as amostras "por falta de equipamentos e metodologia para ensaiá-los."

Assim como o CAEx, o IC também destacou o fato de o prédio estar passando por constantes reformas para conter o problemas das infiltrações. Por esse motivo, ambos os órgãos isentam os responsáveis atuais de qualquer responsabilidade.

"Tinha a certeza de que sempre cuidei com zelo do prédio. Nunca fiz nenhuma reforma irregular. Por isso deixei as autoridades trabalharem com total liberdade", disse o síndico Lauro Salera, 69 anos, 11 deles como responsável pelo edifício.

José Fabrício Morais, 38 anos, pai da menina Julia, 3, uma das duas vítima fatais, lamentou a falta de evidências. "É como quando cai um avião e eles dizem que foi culpa do piloto, que já morreu", disse. Com sequelas das cirurgia que fez por ter ficado soterrado nos escombos do desabamento, ele ainda não sabe quais providências tomará. "Ficamos de mãos atadas. Temos de conversar com o advogado e ver se é válido entrar com ação." 

Condôminos vão bancar laudo completo

Enquanto a Defesa Civil de São Bernardo não dá parecer sobre o futuro do Edifício Senador, os próprios condôminos do local bancarão a contratação da Falcão Bauer para fazer a perícia integral da situação estrutural do imóvel.

A empresa foi contratada pela Prefeitura para fazer o trabalho apenas do 14º ao 12º andar, lugares mais afetados pela infiltração e onde ocorreu a corrosão da estrutura metálica que culminou no desabamento de parte do teto de todos os andares. O laudo, considerado o mais completo, foi usado como parâmetro pelo o IC (Instituto de Criminalística) e fará parte dos inquéritos movidos pelo MP (Ministério Público) e Polícia Civil.

Segundo o síndico Lauro Salera, os trabalhos devem começar a partir de outubro, quando terminar de vez o trabalho de remoção de destroços e pertences das salas comerciais, vazias desde o ocorrido, em fevereiro.

"Será esse documento que decidirá o futuro do prédio", resumiu. Por enquanto, os condôminos e a Defesa Civil sabem que não há risco de desabamento total. Mas é incerto o perigo de outras quedas de pedaços das lajes por conta das infiltrações.

Trabalhando em escritório com vista para o Senador, Salera ainda se lembra com tristeza do dia e suas consequências. Mas não esconde a satisfação de ter inocentada sua responsabilidade pelo fato.
"Sempre tive a consciência tranquila. O que estava a nosso alcance para o prédio, foi feito", completou.

José Fabrício Morais, 38 anos, um dos feridos graves do acidente e pai da menina Julia, 3, uma das vítimas fatais, não mostra otimismo com o futuro do prédio onde perdeu sua filha. "Não quero nem saber o que será feito. Se construírem outro prédio, ele será erguido sobre o sofrimento de muitas famílias. É o que eles querem, só saber de seus negócios, sem se importar com as consequências daquele dia fatídico. É falta de responsabilidade", disse.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;