Economia Titulo Seu bolso
Calor prejudica agricultor
e dobra o preço do alface

Produtor da região tem prejuízo e repassa custos;
com a queda da oferta, demanda e inflação sobem

Por Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
15/02/2014 | 07:22
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Claudinei Plaza/DGABC


Alface está 100% mais cara no atacado por causa do calor e clima seco
Produtor tem prejuízo e repassa custos; com <BR> queda da oferta, demanda sobe e inflação explode

A dona de casa pode preparar o bolso para comprar os ingredientes das saladas e dos refogados de legumes das próximas semanas. O calor intenso de janeiro e do começo deste mês prejudicou o cultivo desses produtos. E o resultado é uma inflação de até 100% no atacado, cujo repasse, que deverá ganhar mais gordura no comércio, demora alguns dias para ser sentido.

O indicador produzido pela equipe econômica da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) para fevereiro ainda não está pronto. Mas, conforme adiantou o economista do maior atacadista de alimentos agrícolas da Grande São Paulo Josmar Macedo, apenas nos 13 primeiros dias de fevereiro o grupo de verduras acumula alta de 40% nos preços. “E dos legumes, 20%.”

O produto que mais sofre o impacto do forte calor é a alface, que em quase duas semanas acumulou inflação de 100%. Na região, o pé custa hoje, em média, R$ 1,90. Esse item, em especial, sofre muito com o clima. “O tempo seco e a falta de chuvas não deixam os produtos crescerem. Por isso ficam escassos e os preços sobem”, explicou Macedo. “Apenas a irrigação não dá conta. É necessário chover para esse tipo de plantio”, destacou o engenheiro agrônomo da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), Fábio Vezzá De Benedetto.

O agricultor e comerciante de Mauá Konomo Yamo, 75 anos, cultiva alface e tomate há 63 anos no bairro Feital. “Estou aqui desde 1950. Eu cheguei com 11 anos. Nunca vi um calor como este e sem chuva no começo do ano. Eu perdi 3.000 pés de alface”, contou, calculando prejuízo de R$ 4.000. Agora, serão mais três meses – período do plantio até a colheita – para tentar recuperar as perdas.

Como medida de urgência, o lavrador aumentou de R$ 50 para R$ 100, por dia, o gasto com óleo diesel dos motores de irrigação. “Eu irriguei quatro vezes por dia. Mas não foi o suficiente. Sem chuva não tem jeito. As raízes morreram porque a terra estava em 35ºC, e o calor de fora queimou todas as folhas”, lembrou Yamo. “Hoje compro em Mogi das Cruzes 17 pés de alface por R$ 30 para vender no meu sacolão. Se fosse da minha produção, conseguiria 50 pés pelo mesmo valor.”

O agricultor revelou ainda que sua produção de tomate também foi prejudicada e, neste caso, levará quatro meses para ter mais frutos para vender. “Eles estavam brancos de tão queimados e secos”, desabafou. Por outro lado, sua plantação de quiabo se mostrou muito resistente ao calor e os legumes cresceram fortes apenas com a absorção da irrigação.

MAIS PRESSÃO - A alface e o tomate também sofrem pressão de demanda na temporada de calor, quando o consumo das famílias aumenta bastante. Somada a queda na oferta, o resultado é a inflação acentuada.

Esse encarecimento generalizado nas verduras e legumes ainda não surtiu efeito na região, revelou a pesquisa da cesta básica da Craisa desta semana. A alface, por exemplo, teve expansão de 4,97% no preço. Já o tomate deu indício de que as plantações foram prejudicadas. O fruto encareceu 10,38% em uma semana, para R$ 3,19 o quilo. “Se chove demais ou se não chove, prejudica demais o tomate”, explicou Yamo.
O professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio lembrou que existe a possibilidade de os produtos ainda não terem sido influenciados porque pertencem à safra prévia à onda de calor. “Em geral, a influência do clima é sobre os produtos que estão sendo produzidos agora, e que vão entrar no mercado (mesmo no atacado) nos próximos dias.”

O diretor de pesquisas e estudos do Provar/FIA (Programa de Administração do Varejo/Fundação Instituto de Administração), Nuno Fouto, ponderou que existe a possibilidade de os consumidores realizarem a substituição dos produtos que encarecerem. E, neste caso, se a demanda cair, é possível que os preços comecem a se estabilizar ou até recuar, mesmo com a pressão de oferta.

Conforme disse ao Diário a meteorologista da Somar Graziela Gonçalves, as chuvas deverão continuar nos próximos dias, com mais umidade, o que pode melhorar a produção agrícola.


Inflação não capta tanta alta em legumes

Em janeiro, os tubérculos (como batata), raízes (mandioca e mandioquinha) e legumes ficaram 2,33% mais baratos na Grande São Paulo. Este é o resultado captado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), por meio do indicador oficial de inflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

O tomate, por exemplo, vilão do bolso do consumidor no primeiro semestre do ano passado, teve o maior recuo de preços em janeiro. Conforme o IBGE, a deflação atingiu 12,3%.

Por outro lado, as hortaliças e verduras já tiveram influência do calor no primeiro mês deste ano. Segundo o IPCA-SP, esse grupo de alimentos apresentou inflação de 4,98% frente a dezembro.

A alface, por exemplo, ficou 5,29% mais cara para as famílias da Grande São Paulo no mês passado. Mas os campeões de inflação desses vegetais foram a couve, que apresentou encarecimento de 6,03% e o cheiro-verde (composto entre salsinha e cebolinha), com expansão no preço da ordem de 6,17%.

Em janeiro, as frutas ficaram 4,45% mais caras.
 




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