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Oncologia domina campo de pesquisas da FMABC

Pelo menos 1.000 pacientes colaboraram com estudos; em duas décadas, 71 protocolos foram concluídos

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
10/02/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 A qualidade de vida da costureira aposentada Aparecida Valverde Morales, 72 anos, estava comprometida pelas constantes crises de falta de ar e cansaço. Qualquer atividade, mesmo as que não exigiam muito esforço, já a deixavam cansada. Inicialmente, o quadro foi tratado como pneumonia, até que um mal estar intenso, em 2017, resultou em internação por vários dias. “Fizeram exames e identificaram muita água no pulmão”, relembrou a moradora do bairro Mauá, em São Caetano.

Sem um diagnóstico preciso no atendimento que vinha recebendo no convênio médico, Aparecida pagou por consulta particular com especialista, que diagnosticou o câncer no pulmão. Por ser de um tipo não muito comum, a paciente foi encaminhada para um estudo no Hospital Sírio Libanês, na Capital. “Lembro que na época me preocupei com o dinheiro, mas não teve custo. Fizeram uma biópsia e enviaram o material para ser analisado na Alemanha. Quando retornou, viram que não era o perfil daquele estudo”, completou.

De volta ao atendimento do convênio, Aparecida foi orientada a procurar a FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), que estava conduzindo pesquisa clínica nesta mesma área. “Há um ano estou fazendo o tratamento. Me sinto muito melhor, já não fico tão cansada e tenho sido muito bem tratada”, comemora.

Aparecida é uma das mais de 1.000 pessoas que fazem ou já fizeram parte de algum estudo do Cepho (Centro de Estudos e Pesquisas de Hematologia e Oncologia) da FMABC. “A área de oncologia é hoje a que recebe mais recursos e incentivos para desenvolvimento de novas drogas. Muitos dos medicamentos mais modernos que existem para câncer de mama, pulmão, linfomas, tiveram estudos conduzidos pela FMABC”, declarou o oncologista e diretor executivo do centro, Daniel Gomes Cubero. A área concentra o maior volume de estudos, atualmente, na instituição.

A pesquisa clínica é uma importante fase no desenvolvimento de novas drogas. “A medicina só evolui com estudos”, destacou o diretor médico do Centro de Pesquisa Clínica da FMABC, João Antonio Correa. A instituição é uma das principais referências nacionais para estes estudos e, atualmente, conta com mais de 70 protocolos em andamento, em diferentes áreas. Apenas no Cepho, que já existe há 22 anos, 50 estão em curso e 22 em fase regulatória. No Centro de Pesquisas Clínicas, nas áreas vascular (doença arterial periférica e úlcera venosa); dermatologia (psoríase, dermatite atópica, urticária, hidradenite); reumatologia (artrite reumatoide, lúpus, artrite psoriásica), entre outras, são 22 ativos e 32 em fase de regulação. Os pacientes que fazem parte dos estudos são atendidos nos ambulatórios da instituição.

Todo o processo de pesquisa inclui avaliações pelo comitê de ética da FMABC e também da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa). “Tudo é feito dentro do mais alto rigor. É avaliado se a pesquisa será segura para os pacientes, se não haverá risco, além de definir toda a cadeia de responsabilidades dentro do processo”, pontua Cubero. A fase regulatória só ocorre após a instituição aceitar participar da pesquisa (nos casos dos estudos patrocinados).

Além do Conep, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) acompanha todo o processo. “O Brasil é um dos países mais rígidos para se conduzir esses estudos. Aumenta a ansiedade dos pesquisadores, mas garante maior segurança aos pacientes”, afirma Correa.

Estudos aproximam academia e sociedade
Para o reitor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), David Everson Uip, as pesquisas são uma das maneiras de se “quebrar os muros da universidade” e atrair ainda mais a população para perto da academia. “Pesquisa importante é aquela que tem resultados. E elas podem e devem ser incentivadas para estarem capilarizadas em todos os centros de conhecimento, desde as questões de atenção básica, como desenvolvimentos de vacinas”, pontuou.

O oncologista e diretor executivo do Cepho-FMABC (Centro de Estudos e Pesquisas de Hematologia e Oncologia), Daniel Gomes Cubero explicou que existem basicamente dois tipos de pesquisas, as que surgem por ideias da própria instituição, perguntas que buscam ser esclarecidas por métodos científicos, e aquelas que são encomendadas pelos laboratórios farmacêuticos. “As nossas, a gente custeia, e o pesquisador sempre pode concorrer a recursos junto à instituições como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) ou Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)”. Já as que são patrocinadas, todo o custo é de responsabilidade do laboratório”, completou.

Sobre os recursos existentes, a avaliação de Uip é que quanto maior for a relevância da pesquisa, maior será a possibilidade de se conseguir financiamento, considerando a oferta de recursos públicos. “Quanto mais qualificada for a pesquisa, maior as chances de dela ser viabilizada.”




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