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Lygia, Capitu e o mar
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
30/09/2008 | 07:00
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Em debate na noite desta terça-feira no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em São Paulo, a escritora Lygia Fagundes Telles exibirá a terceira e definitiva visão pessoal acerca de Dom Casmurro, romance de Machado de Assis cujo centenário de morte se completou na última segunda. "É um romance belíssimo e, na nossa opinião, o mais impressionante do autor", diz Lygia. Embora divida a mesa com a psicanalista Anna Verônica Mautner, o "nós" ao qual a escritora se refere diz respeito a ela e ao falecido marido, o historiador e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977).

Foi por conta de uma obra feita a quatro mãos com Gomes que a escritora foi escolhida para participar do debate Capitu e Bentinho - Entre o Amor e o Ciúme, mediado pelo jornalista e escritor Daniel Piza, quarta parte do ciclo Psicanálise & Literatura. O roteiro cinematográfico Capitu, que começou a ser redigido em novembro de 1967 por encomenda do amigo cineasta Paulo César Saraceni, também ganhou reedição este mês pela Editora Cosac Naify.

Foi naquele momento também que Lygia conseguiu compreender o que pretendia Machado de Assis ao escrever o romance: deixar o leitor na dúvida no que diz respeito à traição de Capitu. "Quando começamos a escrever o roteiro, Paulo me alertou: ‘Não tome posição!'. Eu só dizia: ‘Mas como não tomar posição?' Chegamos até a brigar algumas vezes por conta disso", relembra a autora, 85 anos.

Nas leituras anteriores, não conseguiu livrar os personagens de seu julgamento. "Na primeira vez que li, era uma estudante de Direito da Faculdade do Largo de São Francisco emocionalmente e economicamente estável. Achei Bentinho neurótico, inseguro e invejoso naquela desconfiança", relata. Coincidência ou não, a jovem Lygia sofria com os ciúmes de um namorado.

Já formada e acompanhando o processo de um crime passional, voltou às páginas do romance. "Ali Bentinho me passou a suspeita. Comecei a me apegar a algumas imagens que indicavam que Capitu tinha traído", afirma.

Depois das discussões madrugada adentro com o marido no apartamento da Rua Sabará, em São Paulo, a autora passou a justificar a dúvida numa imagem que relaciona a Machado de Assis. "Ele não poderia ter escrito em São Paulo. Tinha que ser no Rio, junto ao mar. Paulo e eu chegamos à conclusão de que, como o mar, Capitu era acima de qualquer suspeitas", ri.

Capitu e Bentinho - Entre o Amor e o Ciúme - Debate. Nesta terça, às 19h30. No CCBB - Rua Álvares Penteado, 112. Tel: 3113-3651 ou 3652. Entrada franca (senhas distribuídas a partir das 10h).




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