Cultura & Lazer Titulo Especial
O ofício de transformar
madeira em instrumento

Artesanal, detalhista e compensadora, a lutheria
também presente está na região do Grande ABC

Por Vinícius Castelli
26/05/2014 | 07:10
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Marina Brandão/DGABC


Se transformação é arte, então é arte o que fazem os luthiers, nome dado ao profissional – geralmente apaixonado por música –, que transforma madeira ou outro material em instrumento musical. Projetar, pensar na matéria-prima a ser usada, conhecer muito de sonoridades e além: regular, limpar, realizar alterações em peças e, muitas vezes, fazer reviver instrumentos praticamente abandonados.

Essa é a rotina diária de Marcos Sanches, dono da Joker Guitars and Basses. Autodidata, Sanches, 41, carrega na bagagem 15 anos de experiência e tem sua oficina no bairro Camilópolis, em Santo André. Lá, pedaço de madeira vira contrabaixo, guitarra modelo Les Paul, stratocaster, telecaster ou qualquer outro que o cliente queira. Vale até inventar. Os preços vão de R$ 1.500 até R$ 4.000, em média.

“Trabalho com instrumentos que têm características do cliente”, avisa o artista. Ele conta que a pessoa escolhe o material e, partir daí, ele desenvolve o modelo. E por falar nisso, Sanches já avisa que, com ele, só madeira com certificado de origem florestal. “Tenho preocupação ambiental. É questão de consciência”, diz ele, que faz guitarras para nomes como Seizi Tagima e viu seus instrumentos nas mãos de músicos como Andreas Kisser, Tomate e Eduardo Ardanuy. 

“O que mais faz valer a pena é saber que um pedaço de madeira que teria virado um calço ou prateleira se tornou um instrumento e hoje está fazendo música”, diz Sanches.

Não muito longe dali, no Centro de Santo André, Wagner Palomo Garcia, 41, vive cercado por chaves de fenda, alicates e um arsenal de ferramentas. Ele fez um curso e montou sua própria oficina, que funciona dentro de sua loja de instrumentos, a Fortune Guitar Shop. É de sua iluminada bancada que voltam à vida diversos instrumentos musicais. 

“Manutenção, customização de instrumentos como, por exemplo, troca de ferragens como ponte, tarracha, captador, até pinturas e modificações elétricas nos instrumentos”, enumera ele, que também restaura peças mais antigas. Há uma década na lutheria, entre os projetos de Garcia está o de construir instrumentos com sua marca, a Custom Shop. O primeiro já está a caminho.

Para quem quiser dar os primeiros passos nesse universo, é possível fazer alguns cursos. Mônica Lima, diretora da escola paulistana Em&T diz que “a procura para aprender lutheria é boa. O curso é curto e voltado para o iniciante, para que a pessoa saiba entender e mexer no seu instrumento.” O curso tem duração de três meses e é ministrado pelo professor Edmar Luighi. 

Tanto Garcia quanto Sanches têm, além da profissão, outra coisa em comum: a paixão pela música. Sanches, que já encontra felicidade na profissão, e agora mais ainda pelo fato de seu filho Marcos ter sede de aprender com ele, conta que “se não fizesse instrumentos teria de tocar. Eu tenho que estar envolvido com música.”

Garcia costuma dizer que música é nada mais que sua vida. “Foi a partir dela que tive vontade de aprender a tocar. Daí para frente tudo me trouxe onde estou hoje.” 




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