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Bengalando por Madri

O tempo foi curto e os percursos até aqui...

Carlos Ferrari
22/05/2013 | 00:00
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O tempo foi curto e os percursos até aqui também obviamente tiveram que se adequar ao relógio. Cheguei à Espanha neste domingo, e como se sabe, quando viajamos a trabalho, são poucas as oportunidades de sair do hotel e conhecer a cidade. 

Felizmente, dessa vez deu certo e pude, no mesmo dia, ter a tarde livre para caminhar e conhecer um pouco da experiência de se caminhar com uma bengala na capital do país onde funciona a maior organização nacional de cegos do mundo. 

Há pouco mais de uma quadra do hotel, tive que parar para sacar alguns euros, visto que com a correria do dia a dia no Brasil acabei viajando só com reais no bolso. Por sorte, além de minha bengala e do cartão, também estava comigo uma amiga para ajudar na operação com o caixa eletrônico. Diferentemente do Brasil, por aqui, ao menos até onde pude ver, não há acessibilidade para operação autônoma desses equipamentos por parte do usuário.

Jogo empatado até ali, se a ideia fosse tentar fazer algum comparativo com o que eu já havia visto em nosso país. Isto porque, minutos antes no hotel, fui surpreendido pelo kit de banho gratuito, daqueles que a gente encontra no quarto com xampú, condicionador e sabonete. A novidade é que as embalagens estavam com informações em braille. Além disso, as sinalizações nos quartos com o número, e dos cartões magnéticos com a posição correta para abertura das portas também foram cuidadosamente pensadas.

Voltando à minha caminhada pelas ruas ou calles, não pude deixar de rir, "vendo" um amigo que também seguia com sua bengala tropeçando no que chamamos no Brasil de "capa cego". Trata-se daqueles postinhos baixos, que creio não se fazer necessário dizer o porquê do apelido. Calçadas bem cuidadas e muito pouca gente na rua faziam a caminhada se tornar tranquila e por vezes até difícil, já que era complicado de encontrar alguém para pedir informações. 

Semáforos sonoros por toda a parte talvez sejam uma das coisas que mais me chamaram a atenção por aqui. Faz parte da vida da cidade, e o melhor, ainda são equipados com bluetooth. Significa que dispõem de uma tecnologia que os fazem abrir assim que pessoas cegas possam se aproximar. Isto porque existe um aplicativo que faz com que possam interagir com seus telefones celulares.

Seja saindo de São Paulo para Palmas, Uberlândia, Belém ou Madri, sempre haverá diferença, e o bacana de tudo é ter a clareza que em todo o lugar sempre encontramos pontos positivos no processo de inclusão de pessoas com deficiências. Com isso, quero dizer que tenho vivenciado e conhecido por aqui inúmeras possibilidades de acessibilidade, o que não significa dizer que estamos anos luz atrás da Europa. O Brasil tem muito o que aprender, mas também tem muita coisa boa para ensinar.

Eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e Paralimpíadas podem ser decisivos para nos deixar um legado que definitivamente colocará o país dentre os mais inclusivos do mundo.

Na próxima semana volto a escrever sobre os eventos que estamos participando por aqui, e as novidades de parcerias que devemos construir e articular para o movimento de pessoas com deficiência do Brasil.

Hasta la vista!




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