Movida pela intensa competitividade no segmento que mais vende carros no país, o de veículos populares, a General Motors lança no próximo mês o Celta, que está sendo produzido em Gravataí (RS) e custará aproximadamente R$ 13 mil. Nessa faixa de preço, o consumidor hoje só dispoe do Uno, modelo que vem ganhando sobrevida justamente por ser o mais barato do mercado.

O lançamento promete esquentar a briga pelo mercado de populares (carros com motor de mil cilindradas), que responde por quase 70% das vendas no país. Computando-se os importados, a participaçao desse modelo fica em 50% das 518.900 unidades vendidas entre janeiro e maio. A tendência é que essa participaçao cresça mais 10% nos próximos dois anos, segundo avaliaçao da consultoria Ernst & Young.

O nome do novo carro, Celta, uma referência ao povo que dominou a Europa antiga, nao foi confirmado pela GM, mas é corrente entre concessionários e fornecedores de peças. A montadora insiste em manter segredo para fazer a divulgaçao no dia 20 de julho, durante a inauguraçao da fábrica gaúcha.

Tratado como Projeto Arara Azul, o novo carro seria vendido, em princípio, somente via Internet. Mas a empresa está revendo a decisao por insistência dos concessionários. "Vai ser um erro estratégico nao ter o produto disponível na loja", acredita o consultor Francisco Trivellato. A idéia inicial era de que o consumidor poderia adquirir o carro por meio do comércio eletrônico e recebê-lo em até 30 dias. A intençao seria garantir economia com o faturamento direto e a produçao sob encomenda.

Seja como for, o novo carro já está incomodando os concorrentes. No início do mês, a Ford voltou a colocar no mercado o Fiesta com três portas, ao preço de R$ 13.860. Desde o ano passado, essa versao, agora a mais barata da marca, só era produzida mediante encomenda.

Francês - Outra novidade no segmento de populares chega nos próximos meses. A produçao do Peugeot 206 em Porto Real (RJ) começará no início de 2001. O popular francês terá preço próximo ao dos concorrentes, como o Gol, Corsa e Palio: cerca de R$ 15 mil, segundo os revendedores da marca.

O preço, aliás, é o fato determinante para o sucesso de toda categoria. Prova disso é o desempenho de vendas do Uno Mille, o popular da Fiat. Embora o fim de sua produçao fosse esperado em 1996, quando o Palio foi lançado, a montadora manteve a produçao. O modelo vem desafiando as leis de mercado, em que um produto mais moderno enterra o antigo. De janeiro a maio, as vendas no varejo alcançaram 37.266 unidades, atrás apenas do Gol e do Palio.

Com preço a partir de R$ 12.740, o Uno registra aumento consecutivo de participaçao no mercado de automóveis desde 1997, quando respondia por 5,8% das vendas. No ano seguinte ficou com 6,1%, em 1999 com 7% e nos primeiros cinco meses de 2000 está em 8,7%. "O mercado brasileiro é fundamentado no poder aquisitivo", constata Marcos Chiorboli, diretor da consultoria Arthur D. Little. Para ele, o mercado de populares só nao é maior porque nao há uma política de crédito. Para o consultor Elton Nigri, da empresa Megadealer, o modelo de crédito vigente hoje em dia nao facilita a expansao das vendas. "Os juros atuais de 2% ao mês sao um roubo", diz. Nigri ressalta que nos Estados Unidos as taxas variam de 5% a 7% ao ano.

Mundo - Se no Brasil o carro pequeno tem mercado garantido por conta do preço, na Europa o que determina sua compra é o trânsito carregado e a preocupaçao com o meio ambiente, pois consome menos combustível. Segundo Trivellato, o nicho dos chamados carros urbanos (Ka, Twingo, Punto, Clio, Fiesta, entre outros) responde por 32,5% do mercado europeu.

Dados de Trivellato com base em estudo feito pela Economist Intelligence Unit (EIU) indicam que o mercado global de carros pequenos é o que mais vai aumentar nos próximos cinco anos. De 1999 a 2005, a projeçao é de que esse segmento cresça 23%, saltando de 2,88 milhoes de unidades para 3,55 milhoes.