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Pássaros invadem praças do ABC
Por Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
16/02/2002 | 16:19
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Os parques, praças e outras áreas verdes das cidades do Grande ABC atraem cada vez mais pássaros. De almas-de-gato, ave de plumagem marrom escura que se alimenta de insetos, a quero-queros, sanhaços, sabiás, periquitos e rolinhas, as espécies encontram refúgio nos parques e praças com a destruição de matas e áreas verdes por causa da expansão da periferia das cidades, segundo a especialista em pássaros e professora da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo) Waverli Neuberger.

Segundo Waverli, o número de espécies encontradas recentemente nos parques e outros espaços verdes nas áreas urbanas da região dobrou em relação a um levantamento feito há cerca de 20 anos. “Com o crescimento das periferias e a destruição de áreas verdes naturais, os pássaros começam cada vez mais a usar as cidades”, disse. Segundo a especialista, as espécies que conseguem se adaptar à vida urbana em relação a fontes de alimentação e na confecção de ninhos para procriação têm mais chances de sobreviver.

“Os papagaios, que fazem ninhos somente em ocos de árvores no meio da mata, são exemplos de aves com dificuldade de adaptação em áreas urbanas”, disse. Entre as que têm facilidade de adaptação, segundo Waverli, estão o quero-quero, que faz ninhos em gramados e costuma ocupar áreas no canteiro central da via Anchieta, e os sabiás.

Para o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, 72 anos, o maior problema para adaptação dos pássaros em áreas urbanas é a dificuldade de encontrar alimentos. “As pessoas que cuidam dos parques e praças das cidades não pensam nos pássaros na hora de fazer um projeto paisagístico. Nem Burle Marx (Roberto Burle Marx, paisagista) pensava nisso quando fazia seus jardins e projetos. Por isso só usam plantas ornamentais, que são bonitas e coloridas, mas, na maioria das vezes, não produzem frutos que possam alimentar as aves”, disse.

Frisch encabeçou uma campanha nos anos 60 que incentivava os moradores de São Paulo a plantar árvores frutíferas, como amoreiras, ameixeiras e pitangueiras, nos quintais das casas para atrair pássaros. Segundo ele, o resultado foi tão bom que São Paulo se tornou uma das cidades brasileiras com a maior incidência de sabiás-laranjeira em área urbana. “Se os pássaros não encontrarem o que comer nas cidades não vão ficar nas praças e parques só porque nesses lugares têm árvores”, disse.

Segundo ele, o tico-tico é um bom exemplo de adaptação em relação à construção de ninhos em áreas urbanas. Frisch afirma que o pássaro usa pequenos ramos e galhos para fazer os ninhos e também utiliza fios de pêlos de cavalo. “Como não tem mais cavalo em São Paulo, os tico-ticos agora usam até fio dental para fazer o acabamento de seus ninhos”, disse.

O ornitólogo foi o primeiro, e garante que ainda é o único, pesquisador a conseguir gravar o canto do uirapuru verdadeiro. A ave, considerada um símbolo nacional, só canta durante um curto período (três dias em média) por ano, na época de acasalamento, e vive em regiões da floresta amazônica no Acre.




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