Política Titulo Entrevista
‘Consórcio pode expandir para fora do Brasil’
Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
16/07/2017 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Contratado como diretor da Casa do Grande ABC em Brasília, Leonardo Queiroz Leite avalia que o Consórcio Intermunicipal tem potencial para internacionalizar sua marca, em busca de recursos externos por meio de instâncias internacionais instaladas na Capital Federal, como a ONU (Organização das Nações Unidas). “Outro diferencial em Brasília é a questão dos organismos internacionais. Lá há representações, além das embaixadas, do BID, da ONU, a União Europeia, que têm mecanismos de financiamento. É aproximar regiões parecidas no Brasil com regiões semelhantes na Europa. Para promover troca de conhecimento, intercâmbio de técnicos, gestores, transferência de conhecimento e possibilidade de transferência internacional por financiamento. Claro que isso é complexo, é mais de médio e longo prazos, mas projeta imagem do Consórcio, além de regional, estadual e federal, que temos plena capacidade e interesse de projetar a imagem para fora”, acredita Leonardo, em entrevista exclusiva ao Diário.

O diretor aponta, a despeito do momento de crises econômica e política, haver verbas paradas no governo federal e que, com o escritório do Consórcio na Capital Federal, cria-se facilidade na transferência de dinheiro para os municípios. “A crise econômica existe. Mas o orçamento é executado. Se pensa o orçamento da União com acréscimo em algumas áreas. (Sobre a crise política) Falando como analista de novo, a situação do presidente (Michel Temer, PMDB) é bastante grave e afeta o humor do mercado, que manda no jogo. Precisamos esperar os desdobramentos, mais uns dois meses de vendaval, e abaixar a poeira. Não diria que atrapalha diretamente, mas surge um clima de pessimismo que se cria na opinião pública”, finalizou.

Como foi o contato para que o sr. chegasse ao Consórcio Intermunicipal?
Sou cientista político de formação e sempre me interessei, desde adolescente, pelo funcionamento das questões públicas. Quando terminei a graduação, senti muita necessidade de ter especialização. E me interessei pela área de políticas e gestão públicas. Eu me formei na Unesp (Universidade Estadual Paulista), no Interior de São Paulo, e depois na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Abriu muito o horizonte e me aprofundei. Tinha perfil acadêmico e senti necessidade de trazer isso mais para a prática. Porque sinto que o pessoal das universidades estuda muito, mas não dialoga. Quando terminei o mestrado, na Federal de São Carlos, vim fazer o doutorado em São Paulo, na FGV (Fundação Getulio Vargas), na Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo). Quando comecei o doutorado surgiu a oportunidade de ir para Brasília, trabalhar com Adérmes Marini (PSDB), que virou deputado, é da região do Interior de São Paulo, de Franca. Fui para Brasília no fim do ano passado e fiquei como assessor parlamentar até 15 dias atrás. Foi quando conversei com o Fabio (Palacio, PR, secretário executivo do Consórcio). Ele procurava alguém com esse perfil mais técnico, que conhecesse o pessoal em Brasília, a burocracia toda. Casou com meu perfil.

O que mais chamou a atenção no Consórcio?
O pessoal técnico da Casa me chamou muito atenção. O Consórcio tem natureza pública, que o transforma em único no Brasil. O Consórcio Intermunicipal é modelo. Há pessoal técnico muito qualificado. Fiquei bastante envolvido com os técnicos, muito gabarito, experiência e muito gosto pelas questões. Tenho recebido avalanche de informações técnicas, estudo com dados. Esse é um apoio fundamental e que não se vê por aí. Quando se discute políticas públicas, o pessoal técnico não dá suporte para os gestores. Aqui é exceção à regra. Queremos dar essa cara mais executiva ao Consórcio. Muito se fala que Consórcio é consultivo, com prefeitos tirando foto. Não é nada disso. Aqui se executa a política. Meu papel lá é melhorar a articulação e aprofundar as relações. Por exemplo, o Ministério das Cidades, onde tenho um diálogo intenso e próximo. Há necessidade de os municípios estarem lá se inteirando e buscando editais que estão saindo. Também buscamos antecipar (os editais), que é um papel que vamos fazer. Os prefeitos se queixam dos prazos curtos dos editais, por isso o papel é tentar antecipá-los.

Uma crítica que se fez à Casa do Grande ABC em Brasília foi o custo. O quanto o posto fixo na Capital Federal auxilia na busca de investimentos?
Os dados são evidentes. Houve redução significativa de gastos e possibilitou a instalação da Casa em Brasília. Isso está comprovado. As deliberações do presidente (Orlando Morando, PSDB, prefeito de São Bernardo) estão extremamente claras. Foram cortados gastos em outras áreas e a própria estrutura em Brasília vem do Consórcio. Serão meu assessor e eu, e o Fabio que vai acompanhar mais próximo. É estrutura que já existia. E eu já morava lá. Não há despesa extra. É investimento muito pequeno diante do potencial que se pode agregar no futuro. Críticas existem porque estamos num contexto (político) muito ruim.

Há ideia de trabalho? Em quais ministérios haverá os contatos prioritários?
O que me chamou atenção foi o plano de regionalização do turismo do Grande ABC. Temos de começar a pensar em projetos junto ao Ministério do Turismo. É forma de atração de renda e se adaptar à política nacional de turismo. O turismo industrial na região é alternativa. Temos de aproximar as políticas nacionais desses planos mais localizados e regionais. Tomei conhecimento (de verba) na área de Direitos Humanos, dentro do ministério há a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. Vamos buscar subsídios, ver o que pode vir de financiamento. No Consórcio não são só políticas tradicionais de Saúde, Educação, Transporte. Também há projetos na área social. É algo mais abstrato, mas precisamos também atenção nessa área. Outro diferencial em Brasília é a questão dos organismos internacionais. Em Brasília há representações, além das embaixadas, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), da ONU (Organização das Nações Unidas), a União Europeia, que têm mecanismos de financiamento. O pessoal nosso aqui já puxou e articulamos em Brasília, junto à Confederação Nacional de Municípios, o programa europeu de cooperação urbana internacional. É aproximar regiões parecidas no Brasil com regiões semelhantes na Europa. A ideia é promover troca de conhecimento, intercâmbio de técnicos, gestores, transferência de conhecimento e possibilidade de transferência internacional por financiamento. Claro que isso é complexo, é mais de médio e longo prazos, mas projeta imagem do Consórcio, além de regional, estadual e federal, que temos plena capacidade e interesse de projetar a imagem para fora. Hoje o mundo é globalizado. Está agendada para começo da semana reunião para falar de uma cooperação de regiões da América Latina, na área de desenvolvimento sustentável, foco também no meio ambiente e mudanças climáticas.

A Casa do Grande ABC em Brasília atrapalha o trabalho dos deputados federais?
Dá para trabalhar em conjunto. Claro que essa orientação vai da assembleia de prefeitos, que é autônoma, e ela é que vai dizer a diretriz. Minha função é muito mais técnica do que política, embora haja esse estreitamento com todos. Não vejo anulação, muito pelo contrário, acredito que se complementam os trabalhos. Primeiramente porque os deputados têm verba bastante limitada (por meio de emendas). Nossa presença lá é para facilitar.

O Brasil está em crise econômica. Há dinheiro na União?
A crise econômica existe. Mas o orçamento é executado. Se pensa o orçamento da União com acréscimo em algumas áreas. Existe toda parte de transferência de Saúde e Educação, que não são prejudicadas. Temos de buscar também fora do Brasil, é alternativa. Há linha interessante para isso. Não pode se depender de dinheiro só do município. Temos de buscar parceria. Com o governo de São Paulo, por exemplo, que é sinônimo de eficiência no gasto público. Há muita coisa empenhada lá atrás e que vale a pena ser monitorada.

Crise política atrapalha na captação de aporte?
Falando como analista de novo, a situação do presidente (Michel Temer, PMDB) é bastante grave e afeta o humor do mercado, que manda no jogo. Precisamos esperar os desdobramentos, mais uns dois meses de vendaval, e abaixar a poeira. Acredito que vão chegar a um entendimento em alguma hora. Não dá para ficar como está. Não diria que atrapalha diretamente, mas surge um clima de pessimismo que se cria na opinião pública.

Como o sr. viu o município de Diadema deixando o Consórcio?
Claro que gera clima de desconfiança. Mas de sete cidades, seis estão bem afinadas. Inclusive no ponto de vista político. Apesar dessa perda, não sei se pode ser revertido, mas me parece que, com essa pequena exceção, o clima é de sinergia. Há técnicos de todas as prefeituras, eles se conversam o tempo todo. O alinhamento político-partidário é enorme. Vamos tentar minimizar o que possa haver de prejuízo, vejo muito mais para o município (Diadema) do que os demais, que estão empenhados em construir o Consórcio há quase 30 anos.

O que o sr. mapeou de problemas prioritários de resolução na região?
A mobilidade, sem sombra de dúvidas. Esses projetos têm de ter prioridade absoluta. Qualquer pessoa que transite uma hora por aqui sabe disso. A questão ambiental salta aos olhos. Precisamos pensar em projetos na área do meio ambiente, precisamos começar a discutir isso, procurar parceiros no Exterior. Há o turismo. E também as políticas sociais, que muitas vezes ficam esquecidas. Temos de pleitear integração com as universidades, treinamento de servidores. O escritório do governo do Estado em Brasília é um modelo que buscamos seguir, nos espelhar. Eles colocaram a estrutura deles à disposição. O (Antonio Carlos) Pannunzio ( ex-prefeito de Sorocaba e ex-deputado, atual chefe da representação do Estado em Brasília) abriu portas para nós, para ajudar. Eles estão em Brasília há 30 anos. É um ponto de apoio para a gente. 




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