Durante um fim de semana, profissionais do Diário experimentam tensão do trabalho da PM
O fim de semana dos dias 20 e 21 proporcionou a mim e à repórter fotográfica do Diário Marina Brandão a oportunidade de sentir na pele um pouco da tensão vivenciada diariamente por policiais militares do Estado durante a oitava edição do curso do Método Giraldi para jornalistas, profissionais da área do Direito e professores.
O Método Giraldi é usado pela Polícia Militar de São Paulo desde 1997. O principal motivo para a implantação foi o vídeo divulgado após ação truculenta na Favela Naval, em Diadema. “A principal finalidade do método é a proteção da vida do policial, de toda a sociedade e do agressor também. O modelo trouxe para as pistas de treinamento a realidade que o policial militar vivencia no dia a dia”, destaca o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos.
Ele afirma que o tiro precisa ser o último recurso. “O policial só deve atirar quando não conseguir sanar o problema por métodos não letais”, disse.
Após as instruções, chegou a hora do contato com a arma de fogo. No meu caso, o primeiro da minha vida. É uma pistola automática ponto 40, modelo 24/7, fabricada pela Taurus. A mesma que está no coldre de todos os policiais militares do Estado.
Somos divididos em grupos de cinco pessoas por linha de tiro, cada uma com o seu alvo. Colete à prova de balas, óculos e fones de proteção são itens indispensáveis. Um instrutor fica ao meu lado para garantir a segurança.
Fizemos um teste sem munição para treinar a mira, a forma correta de segurar, atirar, recarregar e travar a pistola. Ali a tensão começou, mesmo sem ter dado um único tiro. Senti que o objeto que tinha nas mãos, que pesava em torno de dois quilos, é, na verdade, muito frágil. Qualquer erro, qualquer descuido e poderia machucar alguém.
Quando trouxeram a munição, o meu nervosismo foi a um nível que não conhecia. Os instrutores carregaram a arma, primeiro mostrando como os projéteis são colocados.
Pronto. “Linha quente, perigo!” é o código para que os tiros comecem. Mirando no alvo, faço meus primeiros disparos e me assusto com o barulho, com as cápsulas, com tudo ao meu redor. Não consigo continuar e peço para sair. Os instrutores entendem, compreensivos, dizendo que para muitas pessoas é normal que o primeiro contato assuste.
Uma psicóloga fica de prontidão e trocamos algumas palavras. Começo a pensar em todas as ocorrências que vivenciei como repórter e vejo o quanto estou me cobrando por algo que não vou exercer. “A arma é o braço do policial, ela está aqui para proteger a vida dele e dos outros”, diz um dos instrutores.
Mais calma após o almoço, decido voltar ao treinamento e o finalizo. Porém, a tensão de estar com a arma na mão não passa. No fim do dia, a dor no corpo é insuportável.
No segundo dia de treinamento, passamos pelas pistas policiais de instrução. Há alvos com desenhos que simulam ocorrências do dia a dia dos policiais, se movem e conversam comigo.
A adrenalina vai a níveis altíssimos, mas não por causa dos disparos, que nessa fase são poucos. É preciso verbalizar com um assaltante com refém, com moradores em perigo e até mesmo com o profissional de imprensa, que está no meio do fogo cruzado.
Para ficar ainda mais tenso, a última pista tem barulho de sirenes e bombas sendo jogadas o tempo todo. Fim. Depois de completá-la, senti que tinha cumprido a missão.
Não é nada parecido com qualquer experiência que já tenha vivido. O medo de machucar alguém, de se machucar e até mesmo de matar outra pessoa é enorme. Fica difícil fazer qualquer julgamento depois de vivenciar tudo isso, e tenho a certeza de que todos nós, como humanos, somos passíveis de erros. Os policiais militares não são robôs. São, em sua maioria, pessoas honestas, têm famílias, sentimentos e emoções.
O treinamento desses homens e mulheres é essencial para que haja cada vez menos erros. Mas a população precisa entender e valorizar o trabalho dos profissionais. Ser policial é mais que uma escolha. É necessário ter vocação.
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