Setecidades Titulo Segurança pública
Repórteres vivem dia de polícia em treino

Durante um fim de semana, profissionais do Diário experimentam tensão do trabalho da PM

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
29/09/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Marina Brandão/DGABC


O fim de semana dos dias 20 e 21 proporcionou a mim e à repórter fotográfica do Diário Marina Brandão a oportunidade de sentir na pele um pouco da tensão vivenciada diariamente por policiais militares do Estado durante a oitava edição do curso do Método Giraldi para jornalistas, profissionais da área do Direito e professores.

O Método Giraldi é usado pela Polícia Militar de São Paulo desde 1997. O principal motivo para a implantação foi o vídeo divulgado após ação truculenta na Favela Naval, em Diadema. “A principal finalidade do método é a proteção da vida do policial, de toda a sociedade e do agressor também. O modelo trouxe para as pistas de treinamento a realidade que o policial militar vivencia no dia a dia”, destaca o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos.

Ele afirma que o tiro precisa ser o último recurso. “O policial só deve atirar quando não conseguir sanar o problema por métodos não letais”, disse.

Após as instruções, chegou a hora do contato com a arma de fogo. No meu caso, o primeiro da minha vida. É uma pistola automática ponto 40, modelo 24/7, fabricada pela Taurus. A mesma que está no coldre de todos os policiais militares do Estado.

Somos divididos em grupos de cinco pessoas por linha de tiro, cada uma com o seu alvo. Colete à prova de balas, óculos e fones de proteção são itens indispensáveis. Um instrutor fica ao meu lado para garantir a segurança.

Fizemos um teste sem munição para treinar a mira, a forma correta de segurar, atirar, recarregar e travar a pistola. Ali a tensão começou, mesmo sem ter dado um único tiro. Senti que o objeto que tinha nas mãos, que pesava em torno de dois quilos, é, na verdade, muito frágil. Qualquer erro, qualquer descuido e poderia machucar alguém.

Quando trouxeram a munição, o meu nervosismo foi a um nível que não conhecia. Os instrutores carregaram a arma, primeiro mostrando como os projéteis são colocados.

Pronto. “Linha quente, perigo!” é o código para que os tiros comecem. Mirando no alvo, faço meus primeiros disparos e me assusto com o barulho, com as cápsulas, com tudo ao meu redor. Não consigo continuar e peço para sair. Os instrutores entendem, compreensivos, dizendo que para muitas pessoas é normal que o primeiro contato assuste.

Uma psicóloga fica de prontidão e trocamos algumas palavras. Começo a pensar em todas as ocorrências que vivenciei como repórter e vejo o quanto estou me cobrando por algo que não vou exercer. “A arma é o braço do policial, ela está aqui para proteger a vida dele e dos outros”, diz um dos instrutores.

Mais calma após o almoço, decido voltar ao treinamento e o finalizo. Porém, a tensão de estar com a arma na mão não passa. No fim do dia, a dor no corpo é insuportável.

No segundo dia de treinamento, passamos pelas pistas policiais de instrução. Há alvos com desenhos que simulam ocorrências do dia a dia dos policiais, se movem e conversam comigo.

A adrenalina vai a níveis altíssimos, mas não por causa dos disparos, que nessa fase são poucos. É preciso verbalizar com um assaltante com refém, com moradores em perigo e até mesmo com o profissional de imprensa, que está no meio do fogo cruzado.

Para ficar ainda mais tenso, a última pista tem barulho de sirenes e bombas sendo jogadas o tempo todo. Fim. Depois de completá-la, senti que tinha cumprido a missão.

Não é nada parecido com qualquer experiência que já tenha vivido. O medo de machucar alguém, de se machucar e até mesmo de matar outra pessoa é enorme. Fica difícil fazer qualquer julgamento depois de vivenciar tudo isso, e tenho a certeza de que todos nós, como humanos, somos passíveis de erros. Os policiais militares não são robôs. São, em sua maioria, pessoas honestas, têm famílias, sentimentos e emoções.

O treinamento desses homens e mulheres é essencial para que haja cada vez menos erros. Mas a população precisa entender e valorizar o trabalho dos profissionais. Ser policial é mais que uma escolha. É necessário ter vocação. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;