Cultura & Lazer Titulo Premiado
Um livro devorador de prêmios
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31/10/2008 | 07:03
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Foi como um royal flash no pôquer ou o Grand Slam no tênis - ao vencer o 6º Prêmio Portugal Telecom na noite de anteontem, o escritor catarinense Cristóvão Tezza ganhou os mais tradicionais prêmios literários do País neste ano. "Estou me sentindo como Marcelo Mastroianni no filme Fellini Oito e Meio", festejava o autor, cercado por fotógrafos e abraçado pela atriz Fernanda Montenegro. "Ele vive um diretor que transforma a própria crise em inesgotável fonte de criação."

A consagração de Tezza vem com O Filho Eterno (Record), livro em que a ficção se confunde com sua própria história ao narrar a relação entre um pai e o filho com síndrome de Down. Como pano de fundo, ele oferece ainda um rigoroso painel do Brasil dos anos 1960. Descoberta pela crítica, a obra começou sua coleção de prêmios com o da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes) em dezembro de 2007. Continuou em setembro, quando foi eleito o melhor romance do Prêmio Jabuti. Finalmente, foi escolhido pelo júri do Prêmio Bravo!, anunciado na segunda-feira. E a lista pode aumentar hoje à noite, quando ocorre a entrega do Jabuti e serão anunciados os melhores livros do ano na categoria ficção (na qual O Filho Eterno já desponta como favorito) e de não-ficção (1808, da Planeta, de Laurentino Gomes, tem grandes chances).

Apesar de apontado como franco favorito, Tezza jogava suas fichas no escritor português António Lobo Antunes, que concorria com Eu Hei-de Amar Uma Pedra (Objetiva). "Trata-se de um escritor consagrado, além de ser o mais velho entre os finalistas." O brasileiro já se vislumbrava como vencedor, no entanto, quando o nome de Antunes foi anunciado como segundo colocado, prêmio dividido com Beatriz Bracher, por Antônio (Editora 34) - a terceira posição ficou com Bernardo Carvalho e seu O Sol se Põe em São Paulo (Companhia das Letras).

O Portugal Telecom era a condecoração que mais bem pagava os escritores (R$ 100 mil para o primeiro, R$ 35 mil ao segundo e R$ 15 mil ao terceiro) até a criação, pela Secretaria Estadual de Cultura, do Prêmio São Paulo de Literatura, que concederá R$ 200 mil para o autor do melhor livro e o mesmo valor para a melhor obra de autor estreante, ambos publicados em 2007. O anúncio dos vencedores será no dia 23 e, desde já, Cristóvão Tezza já lidera a lista de apostas. "Eu prefiro não criar expectativas, como fiz até agora", disse o escritor.

Tezza já fora finalista do Portugal Telecom em 2005, com O Fotógrafo (Record), mas o vencedor foi Os Lados do Círculo (Companhia das Letras), de Amílcar Bettega Barbosa. "Mas a experiência com O Fotógrafo me preparou espiritualmente para a escrita difícil e até violenta de O Filho Eterno", conta o autor.

Ele lembra que iniciou O Filho Eterno há 20 anos mas, na época, não se sentiu totalmente preparado para transformar problemas pessoais em literatura. "Foi a maturidade que me ajudou a tratar melhor o assunto e descobrir que, com um narrador na terceira pessoa, eu poderia enfrentar um tema tão delicado."

O Filho Eterno tem uma edição em italiano e logo será lançado em Portugal, Espanha e França. Com a agenda cada vez mais recheada, Tezza tem pouco tempo para o próximo romance, o qual já produziu 30 páginas. "Trata-se de uma história de amor em que desejo escrever com a mesma força emocional de O Filho Eterno."

Tezza dividiu a atenção com a atriz Fernanda Montenegro que, em sua primeira aparição pública desde a morte do marido, o ator Fernando Torres, em setembro, declamou Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, além de ler trechos de Clarice Lispector. "São textos que me afagam a alma", contou ela, que escolheu cada obra, todas tratando a perda com poesia e carinho.




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