"A roupa é só para ocasiões especiais." De terno e gravata, vestimenta que indica formalidade e respeito, Márcio Roberto Guilhermino, 18 anos, chegou à Câmara de Mauá para participar do Parlamento Jovem, atividade promovida ontem pela direção da Casa para estimular a presença da juventude nos debates políticos. Esbanjando disposição, ele e outros 13 alunos de oito escolas estaduais da cidade, sem quebrar protocolos, deram exemplo aos experientes políticos de como direcionar as discussões, sempre priorizando o melhor para o município.

A sessão legislativa excepcional debateu 11 projetos de leis de autoria dos parlamentares mirins. Todos foram aprovados por eles próprios e serão encaminhados aos gabinetes dos 17 vereadores, além do prefeito Oswaldo Dias (PT). Evidenciando a interação dos estudantes com questões atuais, as matérias versam sobre a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento tecnológico e até adequações à Zona Azul, sistema rotativo de estacionamento cuja implementação tem causado polêmicas na Câmara.

Aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Maria Aparecida Damo, Márcio, eleito o primeiro secretário da mesa diretora, foi o que mais interagiu. A veia política, conhecida dos professores, chamou a atenção dos vereadores e das cerca de 80 pessoas que compareceram à plenária.

Mesmo com os políticos geralmente vinculados a situações negativas, como escândalos de corrupção, ele já tem definido que tentará a carreira público-eletiva. "Porque alguém tem de fazer a diferença", justifica. "Temos de acreditar que podemos reverter isso."

Professores e parlamentares resumiram o ato como "aula de cidadania". A inserção dos jovens nos debates partidários é consequência que poucos conseguirão e que nem todos querem. A mensagem serviu para reforçar o valor da participação da juventude nos debates de questões que ditam os rumos da cidade, mesmo que de outras formas.

"Quero seguir para o ramo empresarial, não tenho interesse em entrar para a política, mas sei que posso contribuir para mudá-la", explicou o presidente do Parlamento Jovem, Cristian Pereira Cardoso, 14 anos, estudante da Escola Estadual Odila Bento Mirarchi. "E se muda com força de vontade. A questão é a sociedade se organizar para cobrar a mudança. No geral, a população reclama muito, mas faz pouco." O comandante dos trabalhos recebeu estímulos do vereador Manoel Lopes (DEM), que o presenteou com cópias da Lei Orgânica do Município e do Regimento Interno do Legislativo.

Os políticos experientes concordaram, porém, sobre as barreiras para a participação dos jovens no setor. "Os partidos precisam levar mais a sério a renovação", admitiu o presidente da Câmara, Rogério Santana (PT), que cobra amplo debate sobre o assunto no Congresso. "E sem temor."