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Instituto pede Organização de Procura de Órgãos na região

Estimativa é que cerca de 1.200 moradores estejam na fila à espera de transplante

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
08/06/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


“Temos um rim aqui, quanto tempo você demora para chegar?” A frase dita ao telefone pelo médico do Hospital Albert Einstein, na Capital, há um ano, mudou a vida da professora de Santo André Iderli Patini De Savino, 45 anos. A educadora esperou por três anos na fila para realizar a cirurgia e curar a síndrome do rim policístico, doença hereditária diagnosticada aos 18 anos. “Só consegui deixar a hemodiálise porque a família de um homem acidentado resolveu doar os órgãos do paciente, que teve morte cerebral.”

Estimular que mais familiares autorizem a doação, além de dar suporte a essas pessoas, é o que motiva a fundadora do Instituto Paulista de Educação e Saúde, Wilma Maria de Moraes Carvalho Rosa, a lutar pela criação de uma OPO (Organização de Procura de Órgãos) na região. O projeto foi apresentado ao Consórcio Intermunicipal no ano passado, mas ainda não saiu do papel. “O ideal seria instalar a organização no CHM (Centro Hospitalar Municipal), em Santo André, que é referência em trauma e recebe muitos dos acidentados da região”, destaca Wilma, que estima que haja em torno de 1.200 moradores do Grande ABC na fila por transplante. A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que não há números regionais.

Em todo o ano passado, foram feitos em São Paulo 7.317 transplantes. Até maio deste ano, foram 937, que somados aos procedimentos de córnea, que de janeiro a abril contabilizaram 1.651 beneficiados, totalizam 2.588 cirurgias.

No CHM, o trabalho de captação de órgãos é realizado pela Cihdott (Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecido para Transplante). Integrante da comissão, o gerente de enfermagem Paulo Cezar Ribeiro destaca que o hospital identificou, de janeiro a dezembro de 2013, 25 potenciais doadores de órgãos, sendo que dez foram efetivos. Já no primeiro semestre deste ano, foram 12 notificações, com três transplantes efetivados, incluindo dois procedimentos de coração. Com o trabalho, o hospital passou do 33º para o 22º lugar no ranking de captação de órgãos no Estado.

Segundo Ribeiro, a maioria dos casos que não se efetivam ocorrem por negativa da família. “É preciso conscientizar as pessoas sobre a importância da doação. Fazendo isso, você está salvando vidas.”

A opinião é compartilhada por Wilma. “A criação da OPO colocaria gente especializada para trabalhar dentro do hospital, sem acúmulo de funções. Ampliaria a possibilidade de convencimento das famílias.”

É o que espera o motorista aposentado Luiz Alexandre de Oliveira, 48 anos, há cinco na fila por um transplante de rim. “Ele já nos deu muitos sustos. A última vez que teve de ser internado, ficou 50 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, relembra a mulher de Oliveira, Rosa Aparecida de Souza Oliveira, 48. A espera mexe com a família. A filha mais nova do casal, Gabriela, 13, foi a mais afetada: começou a ir mal na escola e ficou introspectiva. “Agora, está melhorando”, diz Rosa.

“Não posso perder a esperança. Mas a espera é muito difícil”, garante Oliveira. Em Santo André, há hoje 246 pessoas na fila por um órgão. No Estado, são 11.294 e em todo o Brasil, 28.109 pessoas. Todas na mesma agonia de Oliveira.

Transplantes de medula óssea são feitos de forma diferente

A medula óssea também é um órgão, mas por se tratar de tipo diferenciado de transplante, os pacientes não entram na mesma fila dos demais. No País, há 1.242 pessoas na espera por doador 100% compatível, conforme o Inca (Instituto Nacional do Câncer).

João Pedro Klem Lorenzoni Silva, 1 ano e 11 meses, foi um dos beneficiados em São Bernardo. Ele se recupera em casa do transplante feito no dia 28 de março no Hospital Sírio-Libanês, na Capital. Já pode receber visitas, mas ainda está sob cuidados para que não contraía nenhuma doença, já que seu sistema imunológico não está totalmente fortalecido.

O procedimento pelo qual João Pedro passou é semelhante a uma transfusão de sangue. A bolsa com a medula doada é transferida ao receptor por meio da corrente sanguínea. Antes, porém, é necessário ‘matar’ a medula doente por meio de fortes doses de quimioterapia.

Para doar, é preciso estar no Redome (Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea). O processo é feito por meio de punção lombar. Interessados podem se cadastrar na Santa Casa de Misericórdia (Rua Marquês de Itu, 579, Vila Buarque, na Capital), de segunda a sexta-feira,das 7h às 15h.

HC fará cirurgias de rim ainda neste ano

Os órgãos captados na região vão todos para a Capital, já que atualmente nenhum unidade de Saúde do Grande ABC tem capacidade para realização de transplantes. Essa realidade deve mudar ainda neste ano, quando o Hospital de Clínicas de São Bernardo, inaugurado em dezembro do ano passado, começará a fazer transplantes, inicialmente de rins.

A captação de órgãos na cidade é feita no Pronto-Socorro Central. Diariamente é realizada visita nos setores (salas de emergências e UTIs – que possuem pacientes em ventilação mecânica) com o objetivo de identificar potenciais doadores de órgãos.

No ano passado foram realizadas 20 notificações de morte encefálica na unidade, sendo cinco doadores efetivos, beneficiando aproximadamente 15 pessoas. No primeiro trimestre de 2014 foram feitas quatro notificações de morte encefálica, sendo uma doação efetiva, beneficiando duas pessoas.

As prefeituras das demais cidades da região foram procuradas para saber se realizam captação de órgãos, mas apenas Diadema respondeu, afirmando que não faz o procedimento nos hospitais da cidade. “Com a Organização de Procura de Órgãos, vamos garantir que a captação de potenciais doadores seja feita em toda a região. Isso significa ampliar as chances de que mais pessoas deixem a fila do transplante”, garante Wilma Maria de Moraes Carvalho Rosa, do Instituto Paulista de Educação e Saúde.  




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