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Águia resgata grupo de 50 pessoas de trilha

Alunos e professores da Capital ficaram presos em cachoeira a cinco quilômetros de Paranapiacaba

Por Renata Rocha
Especial para o Diário
29/04/2014 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Grupo de 50 pessoas que faziam trilha na região de Paranapiacaba, em Santo André, no domingo, foi resgatado da mata, na manhã de ontem, pelo helicóptero Águia, da Polícia Militar. Os estudantes do curso de Meio Ambiente da Etec Getúlio Vargas, na Capital, juntamente com amigos, parentes e três professores, passaram 24 horas no local. Eles foram encontrados pelos bombeiros e pelo COE (Comando de Operações Especiais) e retirados sem ferimentos graves numa das maiores operações de resgate da história do Águia.

Os três professores que integravam o grupo já tinham feito trilhas com o guia Antônio Ialago, que, conforme o Diário apurou, não é credenciado pela Prefeitura para esse tipo de passeio. Ele faz parte do Grupo Ecológico Caneco Verde, que realiza trilhas na região de Paranapiacaba e Serra do Mar desde 1988.

Segundo relatos, a turma, que iniciou o passeio por volta das 9h30, seguia em direção à Cachoeira da Fumaça, entre cinco e sete quilômetros da vila, dentro da mata. Quando subia com corda um barranco que estava escorregadio e desmoronando, uma das estudantes escorregou e ficou pendurada.

Após o incidente, o grupo ficou dividido em dois: 21 pessoas na parte de cima do barranco e outras 39 na de baixo. Decidiram então que não daria para prosseguir nem voltar, e recorreram aos celulares que ainda possuíam sinal para pedir ajuda. Bombeiros e agentes do COE chegaram ao grupo por volta das 2h.

“A primeira providência após localizá-los foi atender as pessoas que estavam com princípio de hipotermia. Depois, deslocamos o grupo para um local seguro onde pudesse passar a noite e dividimos a comida disponível. Como é um grupo grande, preferimos pernoitar no local e esperar o resgate pela manhã, por questão de segurança”, disse o tenente do Corpo de Bombeiros Gomes Ribeiro, que completou: “Imagina botar a mão no congelador e deixar por alguns minutos, só que pior. Foi essa a sensação térmica à noite.”

O helicóptero Águia precisou realizar várias viagens transportando três ou quatro pessoas para resgatar todos os integrantes da turma.
Procurada, a diretoria da Etec afirmou que não foi comunicada sobre o passeio. “Foi combinado em sala de aula pelos alunos e professores. Era uma atividade que não estava prevista com a diretoria. Da nossa parte vamos verificar com o judiciário as providências a serem tomadas com relação aos professores”, disse o diretor da Etec, Marcelo Gazzo.

“Nos organizamos sozinhos, já que os alunos estudam Meio Ambiente e se interessaram pela trilha. Em novembro do ano passado, fiz o caminho com o mesmo guia e deu tudo certo, por isso resolvemos repetir”, disse o professor de Educação Ambiental Edmond Garo Agopian.

O caso foi registrado no 6º DP (Jardim do Estádio) em Santo André. O BO (Boletim de Ocorrência) não havia sido finalizado até o fechamento desta edição, mas o delegado titular Marcos Alexandre Cattani adiantou que poderia indiciar o guia Ialago e o professor Agopian com base no artigo 132 – Perigo à vida ou à saúde de outrem, o docente por contratar guia que não é credenciado, e o guia por não ter autorização que o habilite à função.

Jovens vivem momentos de desespero

Grande parte do grupo resgatado ontem pelo helicóptero Águia era formada por jovens, sendo o mais novo com 12 anos. O integrante mais velho tinha 64. Todos viveram momentos de desespero e passaram muito frio ao pernoitar na mata.

“Estava subindo pela corda quando escorreguei e parte do barranco caiu comigo. Estava com tanto medo que não consegui voltar a escalar. O pessoal cortou parte de uma corda e o guia me puxou. Depois disso ninguém conseguiu passar”, relata Ana Carolina, 15. Ela conta do despreparo para fazer a trilha. “Falaram que era fácil, mas o caminho que fizemos não é para iniciantes. Se soubesse, nem teria vindo”.

O grupo foi recomendado a manter contato com os bombeiros de meia em meia hora. Nas sete horas que se seguiram após o primeiro contato com a corporação, a expectativa foi grande. “Qualquer barulho a gente achava que eram os bombeiros. Ficamos todos com frio, molhados e cansados. O maior problema é que estávamos próximos à cachoeira, que poderia alagar com uma chuva forte. Nossa sorte é que só garoou”, disse Gabriela Ghiotto, 16.

O clima entre os familiares era de expectativa. Muitos passaram a noite em frente ao ponto da trilha em que os jovens seriam retirados, na parte baixa de Paranapiacaba. “Minha ex-mulher ligou desesperada que meu filho não chegava do passeio e que não conseguia falar com ele. Continuamos tentando até que falamos com o Corpo de Bombeiros, que nos avisou de um grupo de estudantes presos na mata. Então, desde ontem à noite estou esperando aqui”, disse Rubens Inácio Ferreira, pai de Felipe, 16 anos.

“Meu genro e minha neta estão na mata. A gente fica preocupado”, afirmou Claudio Barrussi, enquanto esperava o helicóptero Águia chegar com a neta. Após o reencontro, desabafou. “É um alívio poder abraçá-la de novo.”

Após a chegada, o grupo se hidratou, comeu e se aqueceu. Quando todos estavam bem, o capitão dos bombeiros Eduardo Drigo da Silva encerrou pedindo aos jovens mais responsabilidade antes de se aventurarem novamente. Toda a operação de resgate durou 13horas e 45 minutos.

Guia precisa de autorização municipal

Para ser monitor em trilhas na região do Parque Estadual de Paranapiacaba é necessária autorização da administração do local, segundo o guia e monitor ambiental da Serra do Mar Expedito Pedro. Exatamente o que o guia do grupo resgatado ontem, Antônio Ialago, não tinha.

Ele, porém, garante que sabia o que estava fazendo ao conduzir o grupo pela trilha no domingo. “Trabalho aqui há 26 anos e conheço toda a região. O problema é que muitos do grupo não estavam em forma para fazer uma trilha, então acabamos perdendo tempo e escureceu, nos impossibilitando de sair do local”, disse Ialago.

O guia afirmou também que não cobra pelos passeios. “Depois que fazem a trilha, os participantes nos dão a quantia que acham justa.”

Ainda conforme Ialago, o normal é um monitor levar grupos de até 20 pessoas, mas ele só teria visto que o número de integrantes era maior ao chegar ao ponto de encontro. Ele afirmou, então, que não desistiu da trilha porque os três professores presentes já tinham feito o mesmo caminho com ele. “Não os abandonaria e correria o risco de que eles fizessem o trajeto sozinhos, por achar que o conheciam.”

Procurada, a Prefeitura informou que para realizar trilhas na região é preciso buscar guias credenciados no Centro de Informações Turísticas da vila. Não é permitido acessar a mata sem os profissionais.




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