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Histórias da ditadura por quem viveu os anos de chumbo do regime militar

Jornalista Fernando Morais e dramaturgo Zé Celso participarão amanhã de debate promovido por projeto temático de Santo André

Por Caroline Garcia
30/03/2014 | 07:00
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Há 50 anos, o Brasil passava por um baque na liberdade. A censura da ditadura militar (1964-1985) tentava calar artistas, proibindo a execução de músicas e peças; os acusados de subversivos eram presos e, muitas vezes, torturados. A população brasileira precisava viver em constante atenção até dentro de casa.

No Grande ABC, o clima era de tensão entre o lado conservacionista, representado por políticos e famílias tradicionais, e o progressista, liderado pelos sindicalistas. “A situação recrudesceu com o AI-5 (ato imposto em 1968 que dava total liberdade aos governantes) e em 1979 se dava o início efetivo das lutas dos movimentos dos metalúrgicos”, diz o jornalista e colunista do Diário, Ademir Medici, que será o mediador do debate sobre os 50 Anos do Golpe Militar, marcado para amanhã, às 19h30, no Teatro Municipal de Santo André (Praça 4º Centenário), com entrada gratuita.

Na mesa estarão o jornalista, político e escritor Fernando Morais e o dramaturgo e ator José Celso Martinez Corrêa. Ambos conviveram de perto com as rédeas da censura.

“Quando o golpe foi dado, tinha 17 anos, mas comecei muito cedo. Convivi com a censura desde o primeiro dia, em 13 de dezembro de 1968, quando estava no Jornal da Tarde, até o ultimo, em 10 de fevereiro de 1976, já na revista Veja. Passei pela censura prévia, pela figura do censor dentro do jornal e até a feita em Brasília”, conta Morais.

Já na política efetivamente, Fernando Morais se tornou deputado em 1978 e presidiu a Comissão de Direitos Humanos. “Montei um dossiê sobre os diversos mecanismos que foram criados para silenciar a imprensa alternativa. Esses foram os dois momentos marcantes que destacaria dentro dessa época pelos quais vivi.”

No auge das greves dos militantes no Grande ABC, o político também esteve presente na região. “Estava com o Lula na noite que o sindicato dos metalúrgicos foi invadido pelo exército. O FHC (Fernando Henrique Cardoso) tinha estado com a gente também naquele dia, mas foi embora para São Paulo.”

Se hoje, tais nomes são considerados oposição, em 1984, segundo Medici, eles compartilhavam das mesmas ideias. “Um comício no Paço de São Bernardo reuniu Lula, Fernando Henrique, Mário Covas e até a Fafá de Belém, lado a lado. O inimigo, naquela época, era o regime.”

Também para abordar o assunto estará o dramaturgo Zé Celso. Idealizador do Teatro Oficina, as peças do diretor também precisaram passar pelo crivo dos militares, como O Rei da Vela (1967), Roda Vida (1968) e Gracias, Señor (1972), que praticamente não tinha falas já que o AI-5 estava em vigor e a repressão havia aumentado.

Em 1974, Zé Celso foi preso e torturado. Ficou por um mês preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social). O motivo da prisão nunca foi revelado.

Depois de solto, o diretor teatral foi para o exílio em Portugal e Moçambique. Lá fora, trabalhou com teatro e cinema. De volta depois de cerca de cinco anos, Zé Celso iniciou um movimento para manter aberto o Teatro Oficina, que havia sido tombado em 1982. Em 1993, o espaço é reinagurado.

Apesar de ser ainda criança no período do golpe, Ademir Medici lembra que, daquela época, ficou gravado o que seu avô falava. “Ele dizia que política tinha que ser feita por políticos. Que o duro seria se os militares assumissem. E, realmente, foi um período muito difícil.”

PROGRAMAÇÃO

Amanhã também será o último dia para conferir a exposição que reúne 50 capas do Diário com manchetes que remetem aos anos de chumbo. Entre os assuntos abordados estão o tricampeonato da Seleção Brasileira na Copa de 1970, repercussão das mortes dos presidentes Castelo Branco (1967) e Juscelino Kubitschek (1976), as greves dos metalúrgicos e as eleições direitas.

O projeto 1964 – Reflexões, Trauma e Tramas: 50 Anos do Golpe Militar é organizado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Santo André.  




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