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Um tempo inútil, mas barulhento

Como não disse Shakespeare, a campanha eleitoral é uma história de ficção

Carlos Brickmann
29/09/2010 | 00:00
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Como não disse Shakespeare, a campanha eleitoral é uma história de ficção, cheia de som e fúria, narrada por militantes enlouquecidos, e não significa nada.

Agora é hora, por exemplo, de brigar com os institutos de pesquisas. Conforme a posição do militante fanatizado, a) até agora as pesquisas eram falsas; mas, ao aproximar-se a hora da verdade, os institutos, todos, se movem para ajustar as previsões, o que explica a queda de Dilma no Datafolha; b) desesperados com a derrota iminente, os barões da comunicação tentam, falsificando as pesquisas, criar um movimento que leve as eleições ao segundo turno. A posição mais óbvia - de que a pesquisa retrate uma situação real - não é sequer levada em conta.

Mas, nesse bate-bumbo pra doido dançar, há um fato relevante: o debate de amanhã da Globo. É engessado, como todos os debates, e por culpa dos candidatos retranqueiros, que preferem o empate a qualquer outro resultado; mas, por ser na Globo, por se realizar no fim do período de horário eleitoral e a poucos dias das eleições, é importante. Os candidatos têm sua última chance de virar o jogo, forçando um segundo turno, ou de consolidar de vez a vitória neste domingo.

Além da importância do debate em si, há dois outros fatores que podem gerar interesse: o crescimento de Marina, rompendo a disputa que parecia imutável entre Dilma e Serra, e a possibilidade, remota mas real, de segundo turno com Marina e sem Serra - o que pode levá-lo a sair para o jogo, buscando o tudo ou nada. Uma chance, enfim, de assistir a um debate sem dormir antes que termine.

OS DETALHES DA GUERRA
O debate começa amanhã, às 22h30, depois da novela. Os candidatos de partidos com representação parlamentar - Dilma, Marina, Plínio e Serra - confirmaram presença. Serão cinco blocos. O primeiro e terceiro, com temas fixos; o segundo e o quarto, com temas livres; o quinto, para considerações finais. Não haverá perguntas de jornalistas: como nenhum candidato aceita réplica de jornalistas, as perguntas acabam não sendo respondidas convenientemente. Se algum candidato faltar, um dos candidatos presentes poderá, em cada bloco, formular a pergunta que faria ao ausente. O mediador será William Bonner.

O ATAQUE À IMPRENSA
Tudo funcionou dentro do habitual: o governador do Tocantins, Carlos Gaguim (PMDB), candidato à reeleição, está entre os suspeitos de desvio de R$ 650 milhões. Sua ação ocorreu em duas frentes: 1 - Conseguiu liminar de desembargador censurando o noticiário; 2 - Trinta PMs, em dez viaturas ocuparam o aeroporto de Palmas para impedir o desembarque de 8.000 exemplares da revista Veja, que trazia notícias do escândalo. Tiveram êxito por quatro horas. O procurador da República Álvaro Manzano acabou com a arbitrariedade e botou ordem na casa. A revista foi distribuída normalmente. Três dias depois a proibição de dar notícias caiu. Gaguim que se defenda.

LEI ANTI-ROUBO
Um detalhe curioso das gatunagens denunciadas no Mato Grosso do Sul: a Lei da Transparência (Lei Complementar nº 131) limitou a bandalheira. Como é obrigatória a divulgação pela internet de informações sobre execução orçamentária e financeira, a liberdade de desviar recursos ficou restrita. Num vídeo, o primeiro-secretário da Assembleia sul-matogrossense, Ary Rigo, aparece reclamando: "Eu não tenho mais como dar dinheiro. Onde é que vou arrumar? Com essa lei tenho que divulgar o saldo diário, publicar cheque por cheque, para quem, que serviço prestou". Algum jeito sempre se dá. Mas, ainda bem, ficou mais difícil.

CORRIGINDO
Esta coluna informou erradamente que o deputado Brizola Neto não se manifestou contra o prefeito de Dourados, de seu partido, envolvido em irregularidades. Um leitor assíduo comprovou que Brizolinha apoiou sua expulsão do PDT.

BOLA PETISTA
Sócrates, o ex-Magrão, envolvido em política desde os tempos da Democracia Corintiana, está de volta às atividades: decidiu apoiar o ex-prefeito de São Carlos, Newton Lima, candidato a deputado federal. Sócrates não muda: Lima é PT.

DETALHE IMPORTANTE
Na discussão sobre fichas limpas e fichas sujas, o empate no Supremo deixou muita gente sem saber se é ou não candidato. O número e fichas sujas à espera é expressivo: 171. No Código Penal, 171 é o artigo que trata de estelionato.




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