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Pequenos Trechos - parte I

Nessas férias, como de costume, tenho dedicado boa parte do meu tempo a revisitar minha biblioteca...

Por Carlos Ferrari
11/01/2012 | 00:00
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Nessas férias, como de costume, tenho dedicado boa parte do meu tempo a revisitar minha biblioteca. É engraçado, pois mesmo cuidando desse espaço durante todo o ano e passando por lá por algumas vezes, tenho a impressão que é nesses dias de fato que tenho condições de me aproximar com liberdade de meus livros.

Poder ler sem horário para parar, sem disciplina de escolha do conteúdo, ou mesmo sem preocupação de ter que reservar aquele tempo para outras atividades, torna o encontro com quem quer que seja o autor escolhido bem mais agradável.

Neste ano, resolvi dividir um pouco de minhas explorações literárias com vocês. Falar então de inclusão e cidadania de forma indireta, trazendo pensamentos que tratam do todo, e que se discutidos ou quem sabe incorporados em certa medida, poderiam resultar em uma sociedade bem mais humana. Costumo dizer que ler sem compartilhar é como fazer churrasco para si mesmo, ou seja, não tem o menor sentido. Comentar com amigos, postar trechos em redes sociais, sublinhar trechos para relembrar posteriormente; essas podem ser algumas das estratégias para não represar tanta coisa boa que vamos encontrando pelo caminho. Por aqui, vou trazer em duas semanas o que mais me tocou, e espero que possamos, por e-mail ou pelas redes sociais, continuar trocando ideias a partir também das impressões de vocês.

Inicio essa partilha dizendo que é impossível não se encantar e se transformar com o livro O Amor que Acende a Lua, de Rubem Alves. O livro de 1999 fala do amor, trazendo como pano de fundo coisas simples do cotidiano. Na obra, Rubem Alves reafirma o seu jeito genial de se fazer compreender por meio de uma escrita fácil, tratando questões profundas, com as quais muitas vezes não queremos ou não temos oportunidade de dialogar. O livro traz conjunto de crônicas, recheadas por muitas provocações e reflexões. Seguem alguns pequenos pensamentos para quem quiser mergulhar depois na obra por completo: "Saber sofrer é parte da sabedoria de viver"; "Quem presta muita atenção no que é dito não consegue escutar o essencial. O essencial se encontra fora das palavras"; "Jesus ordenou ‘amar o próximo'. Porque é fácil amar o distante. O próximo é aquele que está no meu caminho, que tem o poder de me dizer não".

Para encerrar essa primeira parte, quero deixar um pensamento de Cecília Meireles. Ainda não tinha lido com profundidade a autora que levou o nome do Brasil para o mundo com tanto brilhantismo. Minha paixão foi imediata, e melhor do que explicar o porquê, creio que seja resgatar um pequeno fragmento da crônica Compras de Natal. Vejam como, mesmo nos deixando há quase 40 anos, a professora-doutora carioca consegue ser tão atual e direta, sem abandonar a beleza de emocionar com palavras. Olhando para o ímpeto de consumo já vigente nos natais daqueles tempos, disse ela: "Presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma. Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão. Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço de uma cesta de rosas."




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