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Domingo tenso no CDP Santo André
Por Artur Rodrigues e Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
12/09/2005 | 07:18
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No dia seguinte à fuga pela porta da frente de 15 detentos e a morte de um preso, o clima no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André ainda era de tensão. Alguns familiares de presos chegaram a dormir em frente ao centro na esperança de terem notícias sobre as ocorrências envolvendo os parentes. Os mais de 1,3 mil presos do CDP – que tem capacidade para 512 detentos – tiveram a visita cancelada domingo e organizaram um panelaço. Enquanto isso, a polícia procurava os seis presos que permaneciam foragidos.

A fuga começou sábado às 8h30, durante o horário de visita, com 50 familiares de presos dentro da detenção. Cerca de 50 detentos participaram da tentativa de fuga, no estilo cavalo doido, em que todos correm juntos em direção à saída. Na ocasião, a direção do CDP divulgou à SAP (Secretaria de Administração Penitenciária do Estado) que apenas cinco homens haviam fugido. Domingo, depois da recontagem, a direção constatou que dez tinham fugido. A reportagem descobriu que cerca de cinco outros detentos passaram pelo Centro Hospitalar de Santo André, totalizando 15 fugitivos.

Antes de chegar ao pátio da detenção, os fugitivos passaram por dois portões de ferro (as chamadas gaiolas). Pelo menos três agentes penitenciários teriam sido rendidos pelos homens supostamente armados. No pátio, os presos teriam trocado tiros com os agentes que ficam nas muralhas. O detento Carlos Luis Lopes Gomes, 19 anos, morreu. Pelo menos outros dois presos foram baleados. Os presos que ainda estavam foragidos na noite de domingo são Alailton Donizete Delfino, 32, Sandro de Oliveira Bastos, 27, Flávio Moisés dos Santos, 18, Rodrigo Lamar Nunes, 23, Edson Inácio da Silva, 27, e Carlos Marçal da Costa, 23.

Medo – Domingo, o momento de maior tensão teria sido desencadeado pelos presos, segundo os próprios familiares. De dentro de suas celas, os detentos teriam dado início a um novo motim. Do lado de fora, teriam sido ouvidos vários gritos e três tiros. Mas a direção da detenção nega que tenha havido qualquer turbulência no CDP durante o domingo.

Entre os parentes de quem continua no CDP, o medo do que está por vir nos próximos dias é consenso. "Estamos com medo que o (Batalhão de) Choque (da Polícia Militar) invada o prédio para fazer a revista. Se isso acontecer, eles vão machucar o pessoal (presos)", afirma a mãe de um detento. Domingo, grupos de parentes se alternavam. Por volta das 12h30, eram cerca de 40 pessoas em frente ao prédio. Sabrina Rodrigues passou pelo menos 36 horas em frente ao CDP esperando notícias do marido. "E não vou embora daqui enquanto não souber dele", garante. Dormiu, acordou e continuou esperando. Se depender da direção do CDP, ficará no portão até terça-feira, prazo dado para a divulgação de uma lista com fugitivos e feridos – inclusive, os que tenham ficado na enfermaria da carceragem. Segundo a SAP, as visitas canceladas neste fim de semana serão normalizadas na semana que vem.

Exames – Três agentes penitenciários do CDP foram encaminhados para o 4ºDP da cidade para passar por exame residuográfico e análise das armas. Duas espingardas calibre 12 e um revólver 38 foram apreendidos pelo delegado Roberto Von Haydin. Os presos recapturados também passaram pelo exame residuográfico, mas nenhuma arma foi apreendida com eles. A direção do CDP também não apresentou as armas supostamente utilizadas pelos presos, segundo informações da polícia. Os parentes levantam a suspeita de que tenha havido facilitação da fuga por parte de funcionários.

Um detento recapturado sábado por PMs da Rota conta que encontrou os portões das duas gaiolas que dão acesso à saída abertos. "Aí eu fugi, como faria qualquer um", disse. Ele recebeu um tiro na perna quando fugia do CDP. Conseguiu escapar para horas depois ser recapturado.




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