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PDV da Volks pode chegar a R$ 393 mil

Programa será aberto até fim do mês; planta da Anchieta possui excedente de 1.900 profissionais

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
16/09/2020 | 00:06
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Celso Luiz/DGABC


Apesar do cenário de pandemia do novo coronavírus, cerca de 4.000 trabalhadores se reuniram ontem no pátio da fábrica da Volkswagen Anchieta, em São Bernardo, para votar a proposta de acordo coletivo que garantia estabilidade no emprego até 2025, em troca de redução de benefícios, mudança no cálculo do reajuste salarial, extensão do lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) por dez meses e abertura de PDV (Programa de Demissão Voluntária). A oferta foi aceita por unanimidade. Embora a montadora não informe o número de adesões pretendidas ao PDV, o excedente na unidade chega a 1.900 profissionais. O programa deverá ser aberto entre a última semana de setembro e a primeira de outubro.

Como incentivo, a empresa oferece até 35 salários adicionais à tabela base, além da rescisão, ou seja, considerando o maior rendimento dos horistas e indiretos (que trabalham na produção), de R$ 11.230, e tempo de casa acima de 30 anos, o valor pode chegar a R$ 393,050 mil. Para quem está na companhia a até dez anos e recebe o piso de R$ 5.730, o bônus é de R$ 143.750, considerando 25 salários a mais.

O acordo foi proposto para as quatro fábricas da Volks no País – além da Anchieta, Taubaté e São Carlos (no Interior), e São José dos Pinhais, no Paraná – e visa reverter alerta emitido pela empresa de que teria de reduzir 35% de seu efetivo de 15 mil trabalhadores, ou seja, 5.250 funcionários poderiam ser desligados.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e trabalhador na Volks, Wagner Santana, o Wagnão, destacou a importância da aprovação do acordo, diante de um cenário econômico instável. “Vivemos um momento de incerteza em relação ao futuro econômico do País. Nesse cenário, um acordo que garante estabilidade por cinco anos é muito positivo, inclusive tornando-se referência para o movimento sindical em relação às possibilidades de conquista da classe trabalhadora”, reforça.

Para o metalúrgico de São Bernardo André Sousa, que atua há dez anos na pintura – e que anteriormente saiu de empresa que fornecia bancos para ir à montadora –, a proposta é muito boa. “Está tudo muito difícil lá fora. Essa estabilidade do emprego até 2025 é muito importante para nós, para que possamos nos programar e manter nossas famílias. E o bom é que a empresa não faz pressão para aceitarmos o PDV. Aceita quem quer”, declarou.

José Ferreira, que trabalha há 35 anos no planejamento da manufatura, também avaliou o acordo como positivo. “Nesse momento tão difícil em que todos estamos atravessando, não só a empresa em que trabalhamos, mas todas as outras que estão passando pela mesma situação, irão cortar custos, e todos sabemos que a mão de obra é um deles. Por isso acredito que o sindicato conseguiu um bom acordo, e somos muito gratos por terem sido firmes na negociação.”

EXCEDENTES

Apesar do alto número de excedentes na fábrica do Grande ABC, correspondente a 22% do efetivo da planta da região, que hoje gira em torno de 8.600 funcionários, o coordenador da comissão de fábrica da Volkswagen, Wagner Lima, braço do sindicato dentro da montadora, avalia que as medidas adotadas com a aprovação do acordo irão reduzir os custos da empresa com os colaboradores e, com isso, contribuirão à permanência deles.

“A proposta inclui a redução da tabela de novos salários, a não aplicação da inflação que reajusta os salários por dois anos, em troca de abono, e a correção parcial por mais um ano. Além disso, a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) foi reduzida, e teremos o lay-off por mais dez meses, inicialmente por mais cinco, com rendimento de 82,5% do salário líquido”, afirma. Quanto ao PDV, ele acredita numa maior adesão por parte daqueles que estão perto de se aposentar.

Quem for admitido a partir de janeiro, terá rendimentos menores em até 17,05%, caso do teto. O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) não será aplicado se a variação for de até 5%; em troca, haverá abono de R$ 6.000 pago junto com a segunda parcela da PLR (Participação de Lucros e Resultados) – fixada em R$ 12.800 até 2024, sendo que a partir do ano que vem o montante será corrigido pela inflação.

Caso o número de veículos produzidos no País no ano exceda o limite de 580 mil, as partes se comprometem a reavaliar as condições da PLR. No entanto, conforme Lima, embora a projeção fosse a de que a produção do Grande ABC atingiria 240 mil veículos em 2020, com a pandemia e a crise decorrente, o somatório das quatro fábricas deve chegar a 340 mil.

Procurada, a Volkswagen disse que neste momento não irá comentar.


Produção do novo Polo deverá compartilhada com Taubaté 

Outra condição do acordo é que a unidade da região compartilhe a produção de um modelo com outra fábrica. Segundo Wagner Lima, braço do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na Volkswagen, esse modelo será o novo Polo. E, a fábrica, a de Taubaté.

“Trata-se de uma solidariedade entre as plantas da Volkswagen do País. Neste momento, temos de nos ajudar para que ninguém seja prejudicado e todos tenhamos nossos empregos pelos próximos cinco anos”, diz.

A garantia para a unidade da região é que a Saveiro siga sendo produzida com exclusividade no local. “É previsto o anúncio de um substituto do veículo quando a situação melhorar, já que todos os investimentos estão congelados por ora. E, quando isso acontecer, ele continuará sendo fabricado aqui.” Além dos dois modelos, são confeccionados em São Bernardo também o Virtus e o Nivus.
 




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