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Crise requer controle e planejamento do orçamento doméstico

Quem teve renda comprometida pela Covid deve redobrar cuidado com finanças; especialistas destacam organização

Flavia Kurotori
do Diário do Grande ABC
14/06/2020 | 07:06
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Divulgação


Saber lidar com as finanças é essencial, principalmente no atual cenário, em que a crise causada pelo novo coronavírus atinge a maioria dos lares brasileiros. Para evitar ficar no vermelho ou ao menos reduzir os prejuízos, o primeiro passo é saber quais são os gastos e os ganhos familiares. Portanto, é necessário colocar no papel todos os valores movimentados no mês. 

Vale lembrar que, segundo o Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, pelo menos 55% das famílias do Grande ABC tiveram a renda comprometida de alguma maneira durante a pandemia. Ao mesmo tempo, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostraram que, apenas em abril, 17.295 foram demitidos na região.

“Quando falamos em educação financeira, a primeira etapa é sempre conhecer e entender o que está acontecendo, ou seja, qual valor entra e para onde este dinheiro vai. Não se pode gerenciar aquilo que não se conhece”, explicou Diogo Carneiro, professor e pesquisador da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).

Os dispêndios podem ser listados em categorias, como alimentação (compras no supermercado e por delivery, por exemplo), moradia (aluguel, condomínio, água e luz), locomoção (combustível, passagem de ônibus e aplicativo) e financiamentos. “O ideal é anotar todos os gastos, desde o café até compras no supermercado”, orientou José Carlos Garé, gestor da escola de gestão e negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e delegado do Conselho Regional de Economia.

Em seguida, os especialistas indicam que é preciso identificar quais gastos podem ser cortados, renegociados ou reduzidos. Mensalidade escolar, pacote de TV a cabo e aluguel podem ser negociados, água e energia elétrica podem ser poupadas, enquanto no mercado, é possível escolher marcas mais baratas, produtos sazonais e fazer compras no atacado. Inclusive, as medidas podem virar um hábito pós-pandemia, possibilitando economias para alcançar objetivos, como viagens e a casa própria.

Se mesmo com os ajustes a conta não fechar, o ideal é pesquisar por empréstimos com o menor juros possível. “Empréstimos com garantia de imóvel ou veículo, costumam ter taxas menores, mas são mais burocráticos. O CDC (Crédito Direto ao Consumidor) é uma opção cujo juros constumam ser mais baratos”, afirmou Carneiro. “As taxas do cheque especial e do cartão de crédito são abusivas e devem ser evitadas”, completou Garé.

Para se ter ideia, o juros do cheque-especial é de 7,23% ao mês, em média, e o do cartão de crédito, 11,2%. Já o empréstimo pessoal fica em 3,27% ao mês e o CDC, em 1,4%, conforme última publicação da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

PLANEJANDO O FUTURO
Caso seja possível pagar as contas cotidianas e, ainda, poupar, é possível investir em renda fixa (onde os rendimentos são pré-fixados de acordo com a inflação ou a Selic, por exemplo) ou variável (como mercado de ações). A poupança é o investimento de menor risco, no entanto, não é recomendável, pois possui a menor taxa de remuneração.

Para os conservadores, a dica é apostar em linhas ofertadas pelas próprias instituições financeiras, como LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Também é possível investir em títulos do Tesouro. A Previdência Privada, por sua vez, é indicada apenas para o propósito de aposentadoria ou saque a longo prazo. Os economistas salientam que há opções para “todos os bolsos”.

Para pessoas com perfil mais arrojado, que estão dispostas a correr riscos, a recomendação é não sacrificar mais de 30% da quantia disponível para investimento, visando evitar prejuízos que comprometam as finanças.

Crianças devem estar incluídas em todo processo

Para criar adultos financeiramente responsáveis, a orientação é incluir as crianças desde cedo no planejamento do orçamento doméstico. A quarentena, quando toda a família está reunida, é oportunidade para iniciar os primeiros ensinamentos. “É importante envolver todos da casa no processo de discutir as finanças. Organizar, planejar e economizar é exercício conjunto”, assinalou Diogo Carneiro, professor e pesquisador da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras). 

Além de sempre incluir os filhos no balanço das despesas e receitas, José Carlos Garé, gestor da escola de gestão e negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e delegado do Conselho Regional de Economia, orienta que os pais podem começar a dar mesada a partir dos 4 anos. “Dê o valor para ele gastar com o que quiser e ensine que se gastar tudo no primeiro dia, passará os outros 29 dias do mês sem dinheiro”, explicou.

O valor concedido deve variar de acordo com a idade da criança. Por exemplo, até os 7 anos, é possível dar o equivalente a R$ 3 por semana e, depois, acrescentar R$ 1 a cada aniversário. A sugestão é que a criança use a quantia para compras extras, como chocolate ou brinquedo, e não para essenciais, como alimentação do dia a dia.

Outra sugestão é associar o dinheiro ao valor do trabalho. “É possível recompensar conforme a criança realiza tarefas pelas quais a família costuma pagar”, assinalou Garé. Por exemplo, realizar algumas tarefas domésticas, ajudar a cuidar dos irmãos ou do animal de estimação.

“A educação financeira é muito mais importante do que se pensa e as questões que envolvem dinheiro estão ligadas a doenças, como depressão e alcoolismo, e problemas conjugais”, disse Garé.




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